Equalização
Tenho ao longo do meu tempo
de atividade em sonorização
ouvido o termo "equalização"
utilizado de maneira que,
fora do contexto da
sonorização, parece ser
lógico a um leigo no
assunto, porém que não
representa em nada o sentido
em que nós o empregamos
nesse campo. Assim, antes de
abordar os controles e seus
filtros de equalização vamos
confirmar rapidamente o
sentido da palavra para que
algum principiante nesta
área não fique perplexo
mediante o seu uso.
Quando usamos o termo
equalização não se trata de
acertarmos a intensidade de
sinais em canais diferentes
de modo a deixar todos os
vocais de apoio ou todos os
instrumentos na mesma
intensidade. O termo
equalização diz respeito ao
ajuste dos graves, médios e
agudos no contexto da mesa
de som, através da atuação
nos seus controles, e, no
contexto de um sistema de
som, pelo ajuste de
equipamentos como
equalizadores gráficos ou
paramétricos que acertam a
resposta das caixas e
eventualmente reduzem
freqüências que estejam
sobrando na conjuntura
captação, projeção e
acústica do ambiente (veja
os meus primeiros artigos
sobre os 4 Elos da
Sonorização ao Vivo para
entender melhor estes
termos).
Visto isto, vamos nos
concentrar nos controles de
equalização encontrados nos
canais da mesa de som e em
algumas mesas nos sub-grupos
e masters. Ao contrário dos
controles de mandadas
auxiliares e fones de
ouvido, por exemplo, que
ficam no zero, ou fechados,
quando posicionados
totalmente à esquerda do seu
curso, os controles de
equalização devem ficar na
posição de 50% de seu curso
(equivalente ao "meio-dia"
num relógio analógico)
quando em sua posição
neutra, ou seja quando não
estão atuando. Ao
deslocá-los para a direita,
desta posição estaremos
reforçando a/s freqüência/s
que estes controlam e quando
para a esquerda estaremos
cortando a intensidade
esta/s freqüência/s.
O que determina se um
controle de equalização
altera uma (raro), poucas,
ou muitas freqüências é o
tipo de filtro sobre os qual
este atua. Entre os
controles de equalização das
mesas de som existem filtros
de equalização tipo peaking,
shelving, semi-paramétricos
e paramétricos.
Os filtros peaking tem sua
atuação principal sobre uma
freqüência, porém acabam
atuando também sobre
freqüências vizinhas.

Os filtros shelving atuam em
todas as freqüências acima
(no caso dos agudos) ou
abaixo (graves) de
determinada freqüência.


Os filtros semi-paramétricos
possuem um segundo controle
que atua em conjunção com o
de reforço ou corte de
intensidade do sinal. Neste
controle o operador escolhe
a freqüência principal sobre
o qual o filtro atuará, de
modo semelhante a de um
filtro de peaking.

Já os filtros paramétricos,
além destes dois controles
do semi-paramétrico,
acrescem um terceiro
controle no qual se pode
especificar a largura do
filtro (denominado "Q") ou
seja quantas freqüências
vizinhas serão arrastadas
para cima ou para baixo
juntamente com a freqüência
selecionada pelo segundo
botão. Assim pode-se
abranger muitas freqüências
uma oitava inteira ou mais
ou fazer ajustes
"cirúrgicos" que alteram um
mínimo de freqüências além
da central conforme na
ilustração abaixo.

Compreendido o que fazem,
qual a função destes
controles de equalização
dentro do mix de um PA ou
gravação? Voltemos a uma
análise do termo equalização
que comentei no início
falando do que não se
tratava. No contexto de uma
mesa de som, estes controles
tem a função de dar ao
operador condições de
ajustar o som de uma voz ou
instrumento de modo que ele
pareça o mais natural
possível corrigindo
deficiências ou
características de timbre
que impedem que seja bem
percebido entre os outros
sinais do mix.
A partir desta definição
podemos compreender várias
técnicas de equalização, bem
como vários erros:
O primeiro erro é o do
exagero de equalização.
Costumo dizer que o processo
de equalização é semelhante
ao de se temperar um
alimento. Uma carne sem sal
ou alho não é lá muito
agradável, porém se forem
colocadas proporções
exageradas de um ou outro a
carne pode ficar intragável.
Assim como existe a dosagem
correta de tempero para
ressaltar o delicioso sabor
de uma boa carne, a
equalização deve ser feita
cuidadosamente até que o som
da voz ou instrumento chegue
no ponto ideal - e diga-se
de passagem que isto
normalmente não deve
requerer que os controles
(pelo menos de boas mesas,
nas quais os mesmos
proporcionam algo em torno
de 12 a 15 db de reforço ou
atenuação) estejam em sua
posição máxima.
Vale também dizer que do
mesmo modo que um cozinheiro
de primeira mão leva anos de
experiência para preparar,
de forma consistente, pratos
de excelente sabor, um
operador precisa de treino e
experiência para,
especialmente ao trabalhar
com várias mesas com
características diferentes
de equalização, tirar sempre
o melhor som de vozes ou
instrumentos. E não basta
apenas ficar girando botões
durante os ensaios! Para ser
eficaz o treino de um
operador sempre terá que ser
contrastado com sua
"referência" do som de
determinado instrumento, ou
seja, escutar MUITO
gravações DE QUALIDADE com
FONES DE OUVIDO DE QUALIDADE
para criar a sua referência
memorizada e saber aquilo
que deve buscar ao equalizar
um instrumento ou voz. Esta
é uma das áreas onde não
basta o operador de som
saber apenas a técnica, esta
entra no domínio da arte,
especialmente quando se
trata de mixar dezenas de
canais e buscar fazer com
que cada instrumento seja
audível dentro do mix.
Uma das regras úteis em
várias áreas de sonorização
que vale ser mencionada aqui
é a seguinte: Para problemas
acústicos, soluções
acústicas, para problemas
eletrônicos, soluções
eletrônicas. A aplicação é a
seguinte: Se você perceber
uma realimentação acústica
(microfonia) ao abrir um
canal na passagem de som,
não comece imediatamente a
girar os controles de
equalização para cortar
freqüências. Preste atenção
nesta freqüência e veja se
ela for aguda ou média/aguda
(envolvendo comprimentos de
onda relativamente curtos) e
experimente reposicionar o
microfone de modo a não
estar captando os sons
diretos ou refletidos que
causam a microfonia.
Dica: para saber o
comprimento de uma onda -
outro conceito
imprescindível para um bom
operador de som - use a
seguinte fórmula:

onde
é o comprimento de onda, 344
metros por segundo é a
velocidade do som e f a
freqüência.
Segundo esta regra a
freqüência de 1000 Hz (ou
1kHz ou, ainda, 1k) tem 34,4
cm. Portanto se você ouve
uma microfonia caracterizada
por esta freqüência, antes
de "limar" o conteúdo de mil
Hertz da voz ou instrumento
daquele canal, experimente
reposicionar o microfone
numa distância de entre 8,6
e 17,2 cm um quarto a metade
da onda para ver se esta
solução acústica não resolve
o problema deixando intacto
o sinal do canal em questão.
Saiba mais sobre equalização.
A Mesa de Som - Equalização II |