A Importância do Ajuste
do Controle de Ganho
Não é por acaso que o
primeiro botão de nosso
interesse o Ganho (Gain ou
Trim no inglês) ocupa esta
posição em cada canal, pois
é o seu ajuste, que
determina a atuação do
circuito de
pré-amplificação, que
garantirá a qualidade do
sinal para que ele não
esteja fraco ou forte
demais.
Este botão controla uma
variação muito grande da
amplificação do nível de
sinal (entre os 0,00775
volts do nível mic e 24,5
volts estando a média de
saída dos equipamentos em
-10dBu = 0,245 volts ou
+4dBu = 1,23V) o que requer
uma amplificação de tensão
(voltagem) em torno de 1000
vezes ou 60 dB. Portanto, um
pequeno deslocamento do
botão já eqüivale ao
percurso do fader de nível
de mixagem que se encontra
na parte inferior dos
controles do canal onde o
operador faz a mixagem.
É importante que este botão
seja corretamente ajustado
pois se o sinal não estiver
forte o bastante, com
relação aos demais canais, o
operador irá tentar elevá-lo
no fader do canal e acabará
aumentando este muito mais
do que deveria, amplificando
também o ruído elétrico dos
circuitos pelos quais o
sinal passou.
Por outro lado, se o sinal
estiver forte demais quando
o músico produzir uma nota
de maior intensidade, esta
poderá exceder a capacidade
do circuito de pré
amplificação, ou de
quaisquer outros circuitos
após este, e distorcer o
sinal clipando-o. Clip no
inglês significa corte ou
ceifamento e é isto que
ocorre com as extremidades
das ondas (onde elas teriam
amplitude máxima) que acabam
não sendo reproduzidas
fielmente devido à
incapacidade do circuito de
reproduzir a voltagem
necessária para isto. Na
figura abaixo vemos duas
ondas de um mesmo sinal que
foi originalmente gravado em
níveis iguais nos dois
canais. O canal inferior nos
mostra esta onda no limite
máximo do circuito e no
superior ela foi amplificada
em 10 dB acima deste nível
máximo para ilustrar o
ceifamento.

Na figura 2 temos em
vermelho a sobreposição da
onda completa que o circuito
foi incapaz de reproduzir. É
aí que está o perigo de se
ajustar o ganho muito alto
pois na impossibilidade do
circuito reproduzir a onda
vermelha ele não somente
corta o pico da onda mas
como parte deste processo
também manda um monte de
"lixo" para os equipamentos
subsequentes e para o
destino final - as caixas
cujos drivers podem não
suportar estes sinais e
queimar...

Compreendidas estas duas
situações do ganho do sinal
não estar nem baixo demais,
nem alto demais. está dado o
primeiro passo na
assimilação da importante
técnica conhecida como
estrutura de ganho que é a
principal técnica de mixagem
para se manter um sinal
limpo durante o seu
processamento. Podemos dizer
em outras palavras, uma
estrutura de ganho correta
garante a máxima faixa
dinâmica ao sinal.
Chamamos de faixa dinâmica o
espaço compreendido entre os
limites mínimos e máximos de
um sistema de som. O limite
mínimo é constituído pelo
"patamar de ruído", ou seja,
aquele chiadinho (baixinho,
espero :-) ) que é o som
gerado pelos circuitos de um
equipamento de som sem que
algum sinal lhe seja
introduzido. Já o limite
máximo é aquele estabelecido
pela capacidade máxima do
circuito reproduzir uma onda
sem clipar ou seja
distorcê-la por ser incapaz
de reproduzi-la.

A filosofia de estrutura de
ganho, portanto, consiste em
ajustar o controle de ganho
para que o sinal entre de
modo mais forte possível na
mesa, sem distorcer, e
manter esta qualidade ao
longo de todas as etapas de
processamento subsequentes
(dentro e fora da mesa) para
garantir a integridade do
sinal desde o primeiro
momento até o último quando
ele é enviado pelo
amplificador às caixas de
som.
Devido à importância deste
processo na qualidade do
sinal, muitos fabricantes de
mesas de som incorporam uma
função de ajuste ao botão de
solo ou PFL Pre Fader
Listening (audição
independente da posição do
fader) da cada canal. Nesta
função, ao pressionar-se o
botão PFL, o sinal é enviado
diretamente ao VU da mesa
para que ali se observe a
sua intensidade quando se
está ajustando o botão de
ganho. A idéia é ajustá-lo
para que os picos ou
momentos mais fortes do
sinal elevem o VU até a
marca de 0 dB .
Para que este processo
funcione adequadamente,
porém, é essencial que o
músico compreenda que na
hora que o operador de som
estiver fazendo este ajuste
ele precisa estar tocando ou
cantando na intensidade que
ele irá se apresentar e não
somente dizendo "Alô, som 1,
2, 3 etc" a meia voz, pois
se fizer assim o operador
ajustará a sensibilidade do
canal acima do necessário
então, quando começar a
apresentação, o músico
produzirá um sinal mais
elevado, que poderá clipar o
canal por seu ganho estar
sensível demais.
Inclusive a recomendação que
eu faço é que ao final do
ensaio, depois que todos
tiverem aquecido suas vozes
e instrumentos e os ajustes
de equalização já estiverem
corretos o operador peça
para a banda repetir a
música de maior intensidade
e então refaça o ajuste de
ganho (que demora apenas
alguns segundos por canal),
pois assim cada canal estará
ajustado de um modo que
reflita mais de perto a
realidade da apresentação. E
note que isto não significa
que este será o último
ajuste pois durante a
apresentação com a interação
entre público e banda os
níveis tendem a subir ainda
mais no palco - portanto aí
vemos a necessidade de se
adquirir mesas que permitam
este ajuste da função Solo
ou PFL de modo transparente
DURANTE uma apresentação
pois em mesas que não
oferecem este recurso, isto
só pode ser feito com os
faders de todos os outros
canais zerados o que
obviamente não dá para se
fazer durante a
apresentação.
Compreendida esta importante
técnica, iniciaremos no
próximo artigo a análise das
funções dos controles no
artigo sobre equalização.
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