Dizem que existe um mistério
no mundo e ele se reflete na
causalidade, ou seja, na
forma pela qual as coisas
acontecem deste ou daquele
modo. Nas organizações não
poderia ser diferente, só
que é mais simples de
analisar que o mundo em suas
complexas inter-relações,
pelo menos é um ambiente
restrito. E neste ambiente,
nada mais importante que
saber fazer as coisas
acontecerem em suas
programações esperadas, ou
seja, liderar. Mas o que é
importante mesmo para um
líder?
Basta dar uma busca pela
internet e ver o resultado
quando o tema é liderança.
Centenas de pessoas falam
sobre liderança, suas
vantagens e necessidades. A
maioria chove no molhado, ao
dizer que o líder é isso, o
líder deve fazer aquilo,
repisando os velhos "modelões"
de gestores autocráticos,
liberais, situacionais e por
aí vai. Enfim, é preciso ter
estômago para fugir da
obviedade que se instalou
neste segmento,
principalmente quando
meditamos sobre como o mundo
virtual acaba empobrecendo,
e não enriquecendo, a soma
do conhecimento humano.
Tornar mais fácil achar
determinado assunto, não
significa que ele é de
qualidade, que digam isto os
artigos que vemos pela web e
que não passam de Ctrl C +
Ctrl V, dos que escreveram
antes, num mix alienígena,
personalista ou
hiperconvencional.
Também é verdade que não se
pode, neste ponto da
história humana pretender
ser original, mas sim, saber
perguntar. Pensando nisto, e
revendo aquilo que a
experiência ensinou, aliado
à informação que nos chega
aos montes por diversos
canais de comunicação,
podemos operar sínteses, ou
seja, postular que aquilo de
mais importante para uma
liderança pode ser expresso
em poucos e determinados
comportamentos decisivos. Na
verdade, estamos falando de
empenho e da eficácia na
gestão.
Quais são estes
comportamentos? Vejamos um
pequeno resumo abaixo,
destes principais itens,
deixando para um próximo
artigo descrever as suas
dimensões:
1 -
A liderança não é um ato
isolado ou
sinfonia metafórica de
atitudes personalistas que
no final da carreira gera um
livro e transforma alguém em
guru de consultores e CEOs
carentes. Mas, sim um
processo de atuação. Se
pararmos de ser líderes por
um instante, a linha pára e
nada mais se produz. Há um
caráter sistemático e
motivacional em se estar
sempre atuando como líder.
2 -
Não trabalhe muito.
Isto não basta. É
preciso trabalhar muito e
trabalhar bem. Os líderes
devem, obrigatoriamente,
mostrar a camisa suada e as
mangas arregaçadas, todo o
tempo. Devem ser humildes o
suficiente para dizer por
todos os poros à sua equipe:
Façam como eu! A inspiração
decorre de como a liderança
trabalha e, principalmente,
como trabalha.
3 -
É preciso criar desafios e
metas e sempre renová-los,
quando são alcançados.
Ninguém pode motivar alguma
equipe, caso não lance mão
de objetivos renovados. Mas,
atenção: as metas devem ser
inteligentes (SMART), quer
dizer: específicas,
mensuráveis, alcançáveis,
realistas e com prazo para
entrega dos resultados. Além
do mais, devem considerar se
a equipe está ou não
preparada para atingi-las e,
também se a organização
oferece as mínimas condições
para isto. Criar metas
insustentáveis e gritar com
todos para alcançá-las é o
cúmulo da ignorância.
4 -
As experiências vividas
dentro do ambiente confinado
de uma organização devem ter
uma perspectiva de curto,
médio e longo prazo.
Além do mais, devem
contribuir para que as
relações internas, o clima e
os processos sejam
melhorados e que
proporcionem ganhos a todos
(inclusive financeiros).
Assim, o líder deve cuidar
para que suas iniciativas
sejam sustentáveis, ou seja,
que por sua excelência de
padrões, acabem entrando no
DNA na empresa e contém,
desde o start-up, com a
adesão dos colaboradores e
da própria cultura
organizacional. Líderes
inspiram, sempre.
5 -
O líder deve primar por uma
gestão transparente.
Isto quer dizer, que as
pessoas devem saber o que se
passa. Como é que se vai
conseguir adesão, se não se
sabe o que está acontecendo.
Além de trabalhar bem, de
ser ético e justo, diga a
todos o que está fazendo e
para onde queremos ir com
estes esforços, tarefas e
projetos. Isto elimina
boatos e desestimula a
"rádio peão". Não esconda o
horizonte dos colaboradores
com nuvens negras e
ameaçadoras, típicas dos
discursos menores, do tipo:
ou fazemos isto ou seremos
obrigados a reduzir os
quadros ou seremos punidos
pela direção. Ninguém
aguenta trabalhar sob o
tacão de ameaças veladas,
estratégias de disfarce e
sugestões subliminares. Diga
sempre a verdade, com amor.
6 -
Seja humano. Isto
quer dizer que você deve
compartilhar suas ideias (e
até temores) com as pessoas
de sua equipe. Conte sua
história, deixe que os
colaboradores sintam que
você não é um ogro
insensível e que só fala a
língua das planilhas.
Evidencie seu esforço para
todos e deixe bem claro o
tipo de comprometimento que
espera e como pode ser
alcançado. Perdoe algumas
falhas menores, mas nunca
releve sérios defeitos de
caráter. No trabalho, seja o
coach daqueles que precisam
de desenvolvimento e nunca
se esconda atrás de sua
secretária. Seja gentil e
atencioso, o que significa,
no mínimo, ser educado. Não
cobre nada que você não
possa fazer por si mesmo.
7 -
Cumpra sempre sua promessa.
Se conseguir manter sua
palavra, terá o respeito, o
comprometimento e a
admiração de todos. Não
importa o que tenha dito,
cumpra! Mesmo se precisar
por força das circunstâncias
voltar atrás, tente resolver
a situação de forma ética.
Deste modo, a melhor maneira
é saber o que fala para não
ter que engolir suas
próprias palavras. Ninguém
respeita o falastrão, aquele
que promete mundos e fundos
e não entrega nada, ou
entrega muito pouco.
Pergunte a si mesmo: Você
manteria em sua equipe
alguém assim? Use a
sabedoria dos antigos: Deixe
que sua reputação chegue aos
lugares, antes que você.
Naturalmente, estes são
pequenos indicadores de
comportamentos adequados
para a liderança moderna, o
que não exclui toda a soma
de competências técnicas
necessárias e desejáveis. O
que importa, nestes tempos
de grandes mudanças é fazer
com que as atitudes possam
gerar situações
enriquecedoras e sinérgicas
e não o contrário. Muitas
empresas ainda confundem
entrega de resultados com
açoitamento e traduzem
gestão por objetivos por
intimidação. Não que, às
vezes, possamos colocar um
pouco mais de pimenta no
molho, mas nos olhos dos
outros nunca é refresco.
Quem é líder sabe até onde
pode esticar a corda, quem é
apenas chefe, não. O líder
planeja tudo e assume
responsabilidades, o chefe
joga a culpa dos fracassos
na equipe.
Por isso, ainda é necessário
escrever sobre a liderança,
mesmo que seja para oferecer
uma perspectiva
diferenciada, sobre a
banalidade do tema. Liderar
é fazer bem feito, mesmo
quando não tiver ninguém
olhando. É conjugar três
verbos numa ontologia do
presente: saber, fazer e
querer. O que falta, mesmo é
capacidade para estas
funções. Eu diria,
humanidade, também. Se você
é ou quer ser líder, comece
por praticar estas pequenas
leis. Se você for sincero em
sua busca, descobrirá
outras, melhores e maiores.
E assim, poderá
verdadeiramente ser um
exemplo inspirador para
todos os que estão à sua
volta e, quem sabe para as
gerações que virão.
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