Escrever sobre “Os
Benefícios de Ter Filhos” é
como escrever sobre os
benefícios de adquirir as
minas do Rei Salomão ou
herdar a riqueza de Bill
Gates. O assunto deveria ser
óbvio. Que esse
freqüentemente não é o caso
mostra não somente um
discernimento medíocre, mas
uma visão não-pactual da
família, onde Deus pactua
para abençoar a nós e aos
nossos filhos (Sl. 102:28;
Gn. 18:19).
A Bíblia apresenta os filhos
dos crentes de forma
positiva, especialmente no
ministério do Senhor Jesus
Cristo. Eles recebem
proeminência como sendo o
capital espiritual e
econômico do povo de Deus.
Há muitas metáforas
impressionantes que anunciam
essa verdade.
Metáforas para Filhos
Comecemos com a figura de
filhos como bens da conta
ativa do povo de Deus. No
Salmo 127, o Espírito Santo
reúne dois descritores
econômicos: “herança” e
“galardão”. Não há nada dito
diretamente sobre riqueza
monetária: uma família
temente a Deus é rica o
suficiente! Nossos filhos
são uma “herança” não
simplesmente porque nos são
dados como um galardão, mas
eles mesmos são o galardão.
Eles não são dinheiro no
banco, mas o próprio banco!
Isso significa que eles são
uma “herança” (dom)
pertencente ao Senhor, e
generosamente dada ao povo
de Deus. Em adição, nossos
filhos são “recompensa” de
Deus. Uma recompensa da
parte de Deus é um pagamento
generoso, que mostra que os
filhos são bens ativos, e
não dívidas. De fato, a
santidade da palavra
“galardão” é ilustrada por
Gênesis 15:1, onde Deus fala
de si mesmo como nosso
“grandíssimo galardão”. Não
somente o Doador do dom é
Ele mesmo o Dom, mas nossos
filhos são dignificados pela
palavra “galardão”.
A palavra “herança” no Salmo
127 descreve comumente a
terra de Israel, que era uma
terra de leite e mel, uma
terra de promessa. Essa
terra era completamente
imerecida; ela foi dada pela
graça. O mesmo se dá com a
palavra “galardão”, que não
significa que merecíamos os
filhos ou que Deus nos
devia. Antes, para
parafrasear João Calvino,
Deus se fez nosso devedor
por Sua graça.
Os filhos são também
armamentos ou armas. Lemos
no Salmo 127:4: “Como
flechas na mão de um homem
poderoso, assim são os
filhos da mocidade”. Nos
templos da Bíblia, o que era
um homem poderoso sem
flechas? Um arqueiro sem
armas é um tigre de papel,
um soldadinho de chocolate.
Assim como um soldado
precisa de armas para ser
poderoso, assim um homem
necessita de filhos que são
sua força.
Os filhos nos beneficiam,
especialmente quando são
“filhos da mocidade”. Isso
não está falando sobre
filhos jovens, mas sobre
pais jovens. A Bíblia
encoraja casar-se cedo (Ml.
2:14-15; Is. 54:6; Gn.
37:2). Uma razão para o
casamento na juventude
refere-se à ajuda dos nossos
filhos quando declinamos em
idade. Nossos filhos são
nossa Previdência Social! A
filha de John Howard Hilton
disse-lhe de joelhos, ao
lado do seu leito de morte:
“Não há bênção maior para os
filhos do que ter pais
piedosos”. “E”, disse o pai
moribundo com gratidão,
“para os pais ter filhos
piedosos”.
Deus também exibe os filhos
como uma aljava. Lê-se no
Salmo 127:5: “Bem-aventurado
o homem que enche deles a
sua aljava; não serão
confundidos, mas falarão com
os seus inimigos à porta”.
Aqui, felicidade e aljava
cheia vão de mãos dadas.
Quantas flechas cabem numa
aljava é um assunto para
debate. Alguns têm pensado
que uma aljava constitui-se
de doze flechas. Existe um
antigo provérbio alemão:
“Muitos filhos fazem muitas
orações, e muitas orações
trazem muitas bênçãos”.
Quando o Rev. Moses Browne
teve doze filhos, alguém
observou: “Senhor, você tem
tantos filhos quanto Jacó”;
e ele respondeu: “Sim, e
tenho o Deus de Jacó para
prover para eles”.
Sem dúvida, isso não
significa que as flechas em
nossa aljava nasceram tão
“retas quanto uma flecha”.
Derek Kidner, em seu
comentário sobre o Salmo
127, escreve: “… não é
atípico das dádivas de Deus
que, de início, sejam
responsabilidades, na conta
passiva, antes de ficarem
sendo obviamente bens da
conta ativa. Quanto maior a
sua promessa, tanto mais
provável fica sendo que
estes filhos serão apenas
uma mão cheia antes de
encherem uma aljava”.
Pais de flechas devem
endireitar suas flechas,
para que voem para o alvo
certo. Isso envolve
trabalho, amor, paciência e
disciplina; assim, nossos
filhos são o nosso “capital
suado”. À medida que
treinamos nossos filhos os
caminhos de Deus, haverá
tempos quando pensaremos que
eles são mais uma mão cheia
do que uma aljava cheia.
Pode até mesmo parecer que
nossas flechas estão
voltadas para a direção
errada, isto é, contra Deus
e mesmo nós. Esse paradoxo é
explicado ao ver nossos
pedo-bens como um tipo de
“gratificação adiada”;
plantamos em lágrimas com um
saco de sementes, enquanto
esperamos trazer os feixes
com alegria.
A
Alegria dos Filhos
Muitos anos atrás um pai
piedoso com muitos filhos
jovens disse com tristeza:
“A Bíblia fala sobre toda
essa alegria de se ter
filhos. Ainda estou
esperando que essa alegria
se apresente. Onde ela
está?” O que faz o pai
piedoso feliz por ter uma
aljava cheia? O Salmo 127
responde: “Não serão
confundidos, mas falarão com
os seus inimigos à porta”.
Ele é “feliz” por ter o que
o comentarista luterano
Leupold chama de “filhos
corpulentos nas portas da
cidade.” A porta de uma
cidade era onde o povo se
reunia para dispensar
justiça. O pensamento é que
somos “bem-aventurados” por
ter filhos que, como
advogados, aniquilarão os
argumentos dos inimigos de
Deus nas portas (“portas”
aqui representando o centro
judicial ou Câmara
Municipal).
É instrutivo que a palavra
hebraica para “falarão” no
Salmo 127 pode ser traduzida
também como “destruirão”.
Alguns têm pensado na idéia
de “matar” os inimigos na
porta, visto que a porta era
o alvo primário, sempre que
os inimigos sitiavam uma
cidade (Gn. 22:17; Gn.
24:60). Em seu Treasury of
David, Spurgeon disse dos
filhos do Salmo 127: “Eles
podem encontrar inimigos
tanto na lei como na
batalha”. A razão por detrás
de tal sabedoria
irresistível é a Sagrada
Escritura, que faz dos
nossos filhos “sábios para a
salvação, pela fé que há em
Cristo Jesus”.
Um exemplo apropriado de tal
sabedoria foi Eduardo VI, o
menino-rei da Inglaterra,
que colocou “um buraco no
tambor” dos seus regentes
quando eles insistiram que
ele permitisse a
reintrodução da “idolatria”
(os protestantes ingleses do
século 16 eram veementes
sobre o assunto) por Maria,
sua irmã. Quando Eduardo
entrou na presença do
Concílio, o Lord Tesoureiro
caiu diante dele, dizendo
que eles permitiriam que
Maria reintroduzisse a
idolatria. Eduardo
perguntou: “É lícito pela
Escritura sancionar a
idolatria?”, ao que o
tesoureiro replicou que
existiram bons reis em Judá
que permitiram postes ídolo
e ainda foram chamados bons.
Mas a essa resposta
inadequada, nosso sábio
Eduardo respondeu: “Devemos
seguir o exemplo de bons
homens quando eles agem
corretamente. Nós não os
seguimos no mal. Davi era
bom, mas seduziu Bate-Seba e
assassinou Urias. Não
devemos imitar Davi em atos
como esses. Não existe
nenhum exemplo melhor na
Escritura?” Os bispos
ficaram em silêncio. Então
Eduardo concluiu: “Eu sinto
muito pelo reino e pelo
perigo que virá disso;
espero e orarei por algo
melhor, mas o mal não
permitirei”.1
Um benefício adicional de
ter filhos é simbolizado
pela figura de “plantas de
oliveira” no Salmo 128:3. A
figura é provavelmente a
multiplicidade de filhos.
Essas plantas de oliveira ao
redor da nossa mesa não são
apenas nossa riqueza, mas
também nossa esperança para
o futuro. Várias “plantas de
oliveira” mostram que uma
abundância de filhos não é
apenas um sinal de riqueza,
mas condena a miopia
daqueles que restringiriam
esse capital. Se os filhos
são riqueza, então a decisão
de diminuir essa riqueza
pode ser comparada a um
homem que envia uma mensagem
ao seu banqueiro, pedindo
para que ele decline todo
interesse futuro sobre os
rendimentos do seu dinheiro.
Em muitos casos, o casal
resolver “não ter mais
filhos” é como dizer: “Não
podemos receber mais das
bênçãos de Deus!” Certamente
nenhum ser humano lúcido
reclama sobre o
engrandecimento da sua
riqueza!
Benefícios Adicionais: o
Lar, a Igreja e o Mundo
Outro benefício de ter
filhos é a expectação de ver
os “filhos dos nossos
filhos” (Sl. 128:6; Pv.
13:22). A benção dos filhos
é transgeracional. Nossos
filhos são flechas e nossos
netos são “flechas das
flechas”. Deus nos abençoa
com esposas frutíferas,
filhos piedosos e “filhos
dos filhos”.
O lar cristão é um paraíso
encastelado. Como disse
Spurgeon: “Antes da Queda, o
Paraíso era o lar do homem;
desde a Queda, o lar tem
sido o Paraíso do homem”.
Assim, o Salmo 128 descreve
uma família cheia de riqueza
e bênção. É uma bela figura
da vida no lar. E o Salmo
128 é um Salmo de conforto
para aqueles que sofrem fora
do casamento; saímos de casa
para lutar e então voltamos
para casa a fim de encontrar
paz. Lembre-se: a palavra
hebraica Shalom (paz)
descreve nossa prosperidade
espiritual e material.
Sem dúvida, seria errado
restringir os benefícios de
ter filhos ao enriquecimento
da família somente. Os
filhos beneficiam tanto a
igreja como o mundo. Não
temos filhos para povoar o
inferno. Quando Cristo tomou
as crianças em Seus braços e
as abençoou, Ele disse: “dos
tais é o reino de Deus”. O
significado da Sua
declaração é inequívoco:
nossos filhos são filhos do
Reino, sob o governo do
Senhor Jesus Cristo. Isso
significa que eles têm uma
missão real para cumprir, o
Pacto do Domínio ou
Monarquia de Gênesis
1:26-28, onde Deus nos
ordena a sermos frutíferos e
nos multiplicarmos, encher a
terra, e exercer domínio
sobre ela. Certamente, esse
pacto da Monarquia pode ser
cumprido somente quando
nossos filhos são unidos
pela fé a Cristo, que
governa Sua igreja por Sua
Palavra e Espírito, e
governa as nações com vara
de ferro. |