A Pedagogia de Projetos: Uma nova proposta de
aprendizagem para a Escola Dominical
INTRODUÇÃO
A Pedagogia de Projetos surgiu no início do século passado com o
americano John Dewey. Este renomado educador, baseou-se na concepção de
que a “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida
futura”. Em outras palavras, a escola deve representar a vida prática,
presente, do cotidiano.
No âmbito da educação cristã, os ensinamentos bíblicos ministrados na ED
têm de sair do campo teórico para o prático, ou seja, os conteúdos de
ensino devem despertar nos alunos motivação para mudança de
comportamento. O professor precisa estar ciente de que todo o
ensinamento bíblico ministrado na ED está, naturalmente, carregado de
realidade e senso prático: “Ponham em prática o que vocês receberam e
aprenderam de mim, tanto as minhas palavras como as minhas ações...” (Fp
4.9 ARA).
O que é Pedagogia de Projetos
Pedagogia de Projetos pode ser definida como um método no qual a classe
se ocupa em atividades proveitosas e com propósitos definidos. Em outras
palavras, é o ensino através da experiência. Este método coloca o aluno
em contato com algum projeto concreto em que esteja interessado e em que
planeje o empreendimento, colha as informações, e finalmente, leve a
efeito os seus planos.
É necessário que o projeto vise um propósito real, e tenha valor prático
para o ensino. Na Escola Dominical, o método de projetos assume um
aspecto extracurricular, isto é, não é feito totalmente dentro do
período de aula. Muitos trabalhos são iniciados em casa e concluídos na
sala de aula.
Considerações importantes
No trabalho com projetos o próprio aluno constrói o conhecimento. O
professor apenas propõe situações de ensino baseadas nas descobertas
espontâneas e significativas dos alunos.
Com o trabalho de projetos, aprender deixa de ser um simples ato de
memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos.
Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes
diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados
objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente
pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação
desencadeada.
Objetivos
Em virtude de as atividades educativas serem elaboradas por alunos e
professores, um dos principais objetivos da Pedagogia de Projetos é
promover a integração e a cooperação entre docentes e discentes em sala
de aula.
Os projetos devem visar também a resolução de algum problema ou algum
empreendimento que esteja em harmonia com os interesses dos alunos, e
relacionados às suas próprias experiências.
Principais características
Uma das principais características de um trabalho educativo realizado
por projetos é a intencionalidade. Todo projeto deve ser orientado por
objetivos claros e bem definidos. O que pretendo com a realização deste
trabalho? Quais resultados posso esperar? Em que sentido meus alunos
serão modificados?
A flexibilidade é outra característica importante. O planejamento de
trabalho deve ser flexível, de modo que o tempo e as condições para
desenvolvê-lo sejam sempre reavaliados em função dos objetivos
inicialmente propostos, dos recursos à disposição do grupo e das
circunstâncias que envolvem o projeto.
A originalidade do projeto demonstra que cada grupo é único, isto é,
possui características próprias. Seus participantes têm ritmos e estilos
diferentes. Portanto, o trabalho de um grupo não deve ser comparado com
o de outro ou contestado. A resolução do problema proposto pelo projeto
de trabalho, se dará em função das experiências e expectativas dos
componentes de cada grupo. O projeto de trabalho deve se desenvolver
apoiado na realidade de cada grupo.
Mudanças de paradigmas necessárias ao trabalho
com projetos
O que precisa ser modificado numa proposta de ensino voltada para
projetos?
1. O conceito e a metodologia de ensino.
a) Ensinar não é somente transmitir conhecimentos. Ensinar não é somente
transferir conhecimento de uma cabeça a outra, não é somente comunicar.
Ensinar é fazer pensar, é estimular para a identificação e resolução de
problemas, é ajudar a criar novos hábitos de pensamento e ação.
b) O ensino deve ser centrado no aluno e não no professor ou conteúdo. O
ensino centrado no aluno tem por objetivo criar condições favoráveis que
facilitem a aprendizagem e liberar a capacidade de auto-aprendizagem do
aluno, visando o seu desenvolvimento intelectual e emocional.
c) O ensino deve ser participativo e não unilateral. O aluno participa
ativamente do processo ensino-aprendizagem, em vez de comportar-se
passivamente como receptáculo do conhecimento alheio.
d) O ensino deve visar o contato do aluno direto com a realidade. A
maioria dos professores utiliza-se da preleção (exposição oral) para
ministrar suas aulas: explanações, informações, definições, enumerações,
comentários, tudo transmitido oralmente. O professor precisa evitar o
excesso de verbalismo em suas aulas. Precisa mostrar aos alunos os
elementos relacionados às palavras a que se referem. O professor deve
trabalhar com recursos didáticos visuais e audiovisuais: ilustrações,
cartazes, gráficos, fotos, desenhos, figuras, gravuras, mapas, objetos,
materiais tridimensionais etc.
O professor não deve apenas narrar um fato para que se chegue aos
ouvidos, mas representá-lo graficamente para que se imprima na
imaginação por intermédio dos olhos.
2. O tratamento do conteúdo de ensino.
a) O conteúdo dever ser contextualizado; aplicado à realidade dos
alunos. Os ensinamentos bíblicos ministrados na ED têm de sair do campo
teórico para o prático, ou seja, os conteúdos de ensino devem despertar
nos alunos motivação para mudança de comportamento. Nenhum educador
cristão deverá limitar-se ao conteúdo de uma matéria de ensino disposta
em livro ou revista didática. Antes, deve ele em sua prática docente,
considerar suas próprias experiências de vida como singular fonte de
material útil ao bom êxito do ensino. Os livros que o professor lê, as
pessoas com quem tem contato diariamente e cada experiência pessoal
poderão constituir excelentes materiais para auxiliá-lo na suprema
tarefa de esclarecer a Palavra de Deus a seus alunos.
Apesar de o material didático especializado ser de suma importância,
nunca deverá o mestre desperdiçar a oportunidade de enriquecer suas
aulas com sua prática de vida.
b) As informações devem ser transformadas em conhecimento. O professor
não deve valoriza-las excessivamente.
Com o advento da globalização, a informação e o conhecimento estão à
disposição de todos. Hoje uma pessoa pode ter acesso num só dia a um
número equivalente de informações que um sujeito teria a vida inteira na
Idade Média. A massa de conhecimento da humanidade que hoje dobra a cada
dois anos, dobrará a cada 80 dias nos próximos 10 a quinze anos.
É quase impossível para o professor da classe de Escola Dominical
competir com seus alunos, principalmente os jovens, em termos de
quantidade de informação. Isto em função de os jovens passarem a maior
parte do tempo conectados à Internet. O que fazer?
Os professores deverão ajudá-los a selecionarem e priorizarem as
melhores informações para transformá-las em conhecimento útil às suas
vidas em todas as áreas.
3. O conceito de aprender
Até o séc. XVI aprender era memorizar. A partir do séc. XVII Comenius
considerou que aprender implica: compreender, memorizar e aplicar.
Atualmente sabe-se que aprender é um processo lento, gradual e complexo.
Envolve mudança de comportamento.
“Fixar, compreender e exprimir verbalmente um conhecimento não é tê-lo
aprendido. Aprender significa ganhar um modo de agir”. (Anísio Teixeira)
O processo de ensinar tem como conseqüência obrigatória, o processo de
aprender. Se o professor ensinou e o aluno não aprendeu, não houve
verdadeiro ensino.
Planejamento
Quais atividades serão propostas? De quais materiais e ferramentas irão
precisar? Quanto vai custar? Quais disciplinas serão envolvidas? Como
conduzirá o projeto? Quantas aulas disporá para executá-lo? Quais
estratégias usará para manter seus alunos interessados?
Os participantes deverão conhecer antecipadamente todas as etapas do
trabalho. Deve-se considerar a quantidade de pessoas envolvidas, os
recursos disponíveis, a metodologia utilizada, as fases e o prazo de
execução (cronograma), os critérios de avaliação etc.
É imprescindível que a elaboração do planejamento seja realizada
coletivamente pelos participantes.
No planejamento o professor deverá fazer aos alunos o seguinte
questionamento:
O que? – Sobre o que
falaremos/pesquisaremos? O que faremos neste projeto?
Por que? – Por que estaremos
tratando deste tema? Quais são os objetivos?
Como? – Como realizaremos este
projeto? Como operacionalizaremos? Como poderemos dividir as atividades
entre os membros do grupo? Como apresentaremos o projeto?
Quando? – Quando realizaremos as
etapas planejadas?
Quem? – Quem realizará cada uma das
atividades? Quem se responsabilizará pelo
que?
Recursos? – Quais serão os recursos
– materiais e humanos – necessários para a execução do projeto?
Etapas de um projeto
. Escolher o tema
· Planejar e organizar as ações (divisão dos grupos, definição dos
assuntos a serem pesquisados, objetivos, recursos, procedimentos e
delimitação do tempo de duração)
· Partilhar periodicamente os resultados obtidos ao longo da
execução do trabalho
· Estabelecer com o grupo os critérios de avaliação
. Avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários
· Fazer o fechamento do projeto
A escolha do tema
O tema poderá ser escolhido pelo professor, por um aluno ou em comum
acordo com a classe. O importante é que ele seja de interesse de todos
os que nele estarão trabalhando. Exemplos de temas: Vocação, drogas,
sexualidade, temas bíblicos, teológicos, comportamento social etc.
Pode-se trabalhar com um único tema para todos os grupos, ou com um
único tema onde cada equipe trabalha com uma particularidade, ou ainda
com diversos temas.
É necessário que alguns questionamentos sejam feitos na escolha do tema:
Até que ponto ele vai despertar e manter a atenção dos seus alunos?
Quanto contribuirá para ampliar o conhecimento deles? Quais as vantagens
e desvantagens de escolher este ou aquele tema?
Os objetivos
O que você pretende alcançar com este projeto? O que gostaria que seus
alunos aprendessem com ele?
Problematização
Nesse momento os alunos irão expressar suas idéias, conhecimentos e
questões sobre o tema escolhido. Neste momento, suas experiências,
saberes e história de vida deverão ser bastante valorizados.
Pesquisa e produção
Nesta fase é fundamental a atuação do professor no acompanhamento da
execução do trabalho. Suas intervenções devem levar os alunos a
confrontarem suas idéias, informações e conhecimentos com outras visões
de mundo, ou seja, outras maneiras de ver e analisar o problema que deu
origem ao projeto. A diversidade de visões traz maior riqueza às
discussões e o seu confronto favorece o exercício da autonomia e da
responsabilidade do aluno sobre sua própria aprendizagem.
O professor poderá contribuir com o trabalho, trazendo para a sala de
aula diferentes fontes de informações tais como: jornais, revistas,
livros, documentos, textos colhidos na Internet, organogramas, mapas
etc., tudo de acordo com a proposta do trabalho.
O trabalho deverá integrar-se com ações pedagógicas tais como: visita a
bibliotecas, entrevistas com pessoas da comunidade, vinda de pessoas de
outros lugares para trocar idéias e experiências sobre o tema em
questão.
Na hora de formalizar o projeto oriente-se pelo seguinte esquema:
· Turma a que se destina (faixa etária)
· Duração
· Justificativa (por que escolheu o tema)
· Objetivos
· Conteúdos trabalhados (disciplinas e assuntos que serão abordados)
· Estratégias/procedimentos (como alcançar os objetivos)
· Material necessário (relacione os recursos necessários)
· Avaliação (como pretende avaliar os alunos)
Avaliação
A avaliação da ação pedagógica deve contar com a participação de todos
os envolvidos, tendo sempre um olhar direcionado aos objetivos propostos
e aos papéis desempenhados.
O professor, ao acompanhar o desenvolvimento do Projeto, pode não só
avaliar sua atuação, como também ser avaliado pelos alunos.
A avaliação do aluno deverá ocorrer durante todo o processo e servir
como parâmetro para o replanejamento das atividades em novos projetos. O
próprio aluno pode se auto-avaliar considerando sua atuação e
desenvolvimento no processo educativo.
Conclusão
Apesar de definidas as etapas de desenvolvimento de um Projeto de
Trabalho, elas têm de ser consideradas como parte de um processo
contínuo, sujeito a mudanças e recontextualizações de acordo com as
necessidades que surgem no grupo durante a sua execução: jamais poderão
ser reduzidas a uma lista de objetivos e etapas estanques a serem
seguidas passo a passo. O planejamento deve ser suficientemente flexível
para incorporar as modificações que se façam necessárias no decorrer de
seu desenvolvimento.
Os conteúdos, as habilidades, a criatividade, por serem trabalhados em
um contexto que dá a eles significado, são construídos de forma que os
alunos não os vêem como compartimentos fechados do conhecimento,
utilizáveis apenas na situação discutida em sala de aula. Ao contrário,
essa metodologia possibilita aos educandos estabelecer relações em
outras situações a partir do conhecimento apreendido, habilidade
extremamente necessária e valorizada na sociedade atual.
Em sua prática docente, o professor de Escola Dominical cônscio de suas
responsabilidades, deve preocupar-se não apenas em ampliar o cabedal
teórico de seus alunos, mas em orientá-los quanto à necessidade de
traduzirem seus conhecimentos em ação dinâmica e eficaz. A pedagogia de
projetos é uma excelente aliada do professor no cumprimento desse
propósito.