Deus instrui seus adoradores
Texto bíblico: Levítico 1-12
Texto básico: Lv 1.1-17; 3.1-6.7; 6.8-13; 2.1-16; 6.19-23;
7.28-38; 8.1-12.8
Texto áureo: “E Moisés e Arão entraram na tenda da revelação;
depois saíram, e abençoaram o povo; e a glória do Senhor apareceu a todo
o povo”. (Lv 9.23,24)
Embora normalmente não desperte o interesse do leitor principiante da
Bíblia, o livro de Levítico oferece, a quem deseje apresentar-se diante
de Deus como “obreiro aprovado” (2Tm 2.15), que adore ao Senhor ”em
espírito e em verdade” (Jô 4.24). Podemos afirmar que “o conhecimento...
deste grande livro é condição segura para um conhecimento inteligente da
Revelação cristã...” O nome Levítico, atribuído ao livro a partir da
versão latina, refere-se a seu conteúdo, indicando ser o livro cujo
assunto trata das funções dos levitas e do sacerdócio. Na verdade, é
mais que um manual para os sacerdotes, o livro de Levítico é um guia
para todo o povo, instruções para uma comunidade de adoradores.
HOLOCAUSTOS:
ADORADORES TOTALMENTE CONSAGRADOS
(Lv 1.1-17; 6.8-13)
O elemento essencial do sistema de sacrifícios era o estabelecimento e a
manutenção da comunhão com Deus. O holocausto era um sacrifício no qual
a oferta, geralmente um novilho ou um cordeiro era colocado sobre o
altar e, ali, queimado totalmente, sem que dele restasse nada para ser
consumido, nem pelo sacerdote, nem pelo ofertante. É mencionado pela
primeira vez com referência à adoração de Noé ao sair da arca (Gn 8.20).
Abraão também adorou a Deus oferecendo holocaustos (Gn 22.7). Logo após
a doação da lei, Deus instrui Moisés sobre a edificação de um altar para
os holocaustos (Ex 20.24). Ainda estará presente nas celebrações
oficiais do período da monarquia (2Rs 16.15; 2Cr 29.24) e; no período
pós-exílico, os que retornaram a Jerusalém “edificaram o altar... para
sobre ele oferecerem holocaustos...” (Ed 3.3,4).
Entenda que, o fato de o holocausto ser inteiramente consumido pelo fogo
tipifica que “o pecador era consumido, e com ele o seu pecado... de modo
que dali em diante podia gozar paz e comunhão com Deus”. O holocausto
era, então, o meio pelo qual o pecador se reconciliava com Deus,
simbolizando com a morte da vítima a morte do próprio ofertante-pecador,
o qual, por sua vez, experimentava a graça salvadora de Deus.
OFERTAS:
ADORADORES PROFUNDAMENTE AGRADECIDOS
(Lv 2.1-16; .19-23; 7.28-38)
A lei estabelecia dois tipos de sacrifícios: oferta expiatória, para
remissão de pecados, e oferta de gratidão ou dedicação. A primeira, uma
necessidade do homem, por haver transgredido o mandamento do Senhor; a
segunda, um ato voluntário em reconhecimento do amor misericordioso do
Pai. Depois de reconciliado com Deus, o indivíduo deve demonstrar
gratidão para com o Senhor, oferecendo diante dele uma oferta que
significava também uma promessa de obediência.
Assim como os elementos do sacrifício expiatório tipificam Cristo – o
novilho representa dedicação de vida, o cordeiro representa submissão, o
cabrito a natureza pecaminosa assumida por ele (2Co 5.21) e a rolinha o
sacrifício extremo – também a oferta de gratidão guarda uma relação
tipológica com a perfeição do sacrifício de Cristo – a flor de farinha,
fruto da terra, sugere a humanidade de Jesus; o óleo, sua santidade; o
incenso, a abundante graça que estava sobre ele; o sal, sua fidelidade.
Ao oferecer a Deus sacrifícios gratulatórios, o adorador está
reconhecendo, também, o valor do sacrifício de Cristo em seu lugar.
SACRIFÍCIOS:
ADORADORES CELEBRAM EM COMUNHÃO
(Lv 3.1-6.7)
Através do sacrifício o homem procura entrar em comunhão com seu Deus...
Esta comunhão vê-se melhor no sacrifício pacífico. Pois então se queima
parte da oferenda que é santificada pelo sacrifício e pelo altar – e
parte de Javé – e o resto é consumido... num banquete, ‘alegres diante
de Javé’ (Dt 12.12; 14.16). Nesse contexto entram as chamadas “ofertas
de paz” que, se bem possam ter como pano de fundo a expiação,
objetivamente têm apenas a idéia de reparação ou de consagração.
Aqui devemos incluir tudo aquilo que o crente possa fazer e sentir
expressando reconhecimento pelo que Deus é e faz. A melhor expressão,
talvez, seja mesmo celebrar, tornar conhecido, propagar. É uma ação que
começa na individualidade, mas exige socialização, dirige-se para o
comunitário. É o culto privado, que se completa quando explode no
congregacional. Assim foi na igreja do primeiro século, onde “todos os
que creram estavam juntos e tinham tudo em comum... perseveraram
unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tornavam suas
refeições com alegria e singeleza de coração” (At 2.44-46).
Dois aspectos desse sacrifício de paz que devem ser destacados.
Primeiro: era o único sacrifício em que se podia oferecer pão levedado.
Isso permite pensar que, aqui, não se exige a perfeição nos elementos
ofertados, mas a intenção do coração. Embora não devamos prestar a Deus
culto sem a adequada preparação, podemos estar certos de que Deus se
agrada mesmo é da sinceridade de nosso coração. Segundo: esse sacrifício
devia ser apresentado pessoalmente pelo adorador, e não pelo sacerdote.
Há partes do serviço cristão que, por razões óbvias, deveremos pagar
para que alguém as realize, especialmente aquelas que envolvem a
execução de tarefas para as quais não estamos aptos. Mas isso não nos
isenta de prestar ao Senhor nossa adoração pessoal no templo ou em
qualquer lugar.
UNÇÃO:
ADORADORES PLENAMENTE HABILITADOS
(Lv 8.1-12.8)
Depois das diversas instruções sobre a liturgia que agrada ao Senhor,
Moisés é instruído a ungir (consagrar) aqueles que haveriam de ministrar
diante de Deus e do povo (8.1,2). Arão e seus filhos foram separados
para o sacerdócio. Dispostos os sacrifícios da ocasião, Deus mesmo
colocou fogo no altar para consumir a oferta (9.24), numa mostra de
aceitação do culto. Nadabe e Abiu acendem um incensário, mas,
aparentemente, não tomaram do fogo do altar. Então Deus os puniu
severamente, com morte, diante de toda a congregação (At 5.1-11).
Há sempre o perigo de querermos oferecer a Deus um culto segundo os
nossos próprios padrões, fogo estranho no incensário. Paulo instruiu os
crentes de Éfeso: “Não vos embriagueis com vinho... mas enchei-vos do
Espírito” (Ef 5.18).
Os nossos dias têm testemunhado de práticas diversas, que têm sido
introduzidas em nossos cultos, a título de contextualização da liturgia.
Não haja “fogo estranho” em nosso incensário.
APLICAÇÕES PARA A VIDA
1. O holocausto visava à expiação da natureza pecaminosa, sem
referência a nenhum pecado em particular. Envolvia também a idéia de
consagração do crente ao serviço do Senhor. Esse mesmo sentido deve
estar presente em nossa vida, hoje, segundo afirma o apóstolo Paulo (Rm
6.10-13,22). “Adoramos a Deus como resposta a sua pessoa, sua grandeza e
sua obra em nossa vida (Fp 3.3; Sl 96.4). É a resposta da alma
regenerada ao Deus que a regenerou”.
2. Uma nota constante nas instruções sobre as ofertas era a
preocupação com o sustento do sacerdócio. Ao ofertar, ele reconhecia que
seu sustento pertencia a Deus, pois vinha dele. Ao mesmo tempo,
ofertando uma parte sobre o altar, declarava confiar em que Deus mesmo
faria com que o restante lhe bastasse para o sustento. Além disso, parte
do ofertado – a melhor parte, pode-se dizer - era dedicada ao sustento
do sacerdote e de sua família. O crente – assim como as igrejas –
precisa entender que o sustento de seus pastores é parte de seu culto
(Lv 2.3,10; 1Co 9.13,14; 1Tm 5.17).
3. Nós, salvos por Jesus Cristo, temos suficientes motivos pra
apresentar a Deus nosso “sacrifício pacífico”, em grande festa de
comunhão. Quando, pelo Espírito, ficamos a contemplar a glória do
Senhor, e nossa alma se deixa enlevar na confortadora visão de sua obra
redentora por nós, não podemos menos que unir-nos ao salmista, que diz:
“Bendize, ó minha alma, ao Senhor.... e não te esqueças de nenhum de
seus benefícios” (Sl 103.1,2).