Números (Nm)
Escritor: Moisés
Lugar da Escrita: Ermo e planícies de Moabe
Data: Cerca de 1405 aC.
Os Eventos da jornada dos israelitas pelo ermo foram registrados na
Bíblia para o nosso proveito hoje. Como disse o apóstolo Paulo: “E essas
coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más,
como eles cobiçaram.” (1 Cor. 10:6) O vívido registro de Números inculca
em nós que a sobrevivência depende de santificar o nome de Deus, de lhe
obedecer em todas as circunstâncias e de mostrar respeito pelos seus
representantes. Seu favor não resulta de bondade ou de mérito de seu
povo, mas de Sua grande misericórdia e graça.
O nome Números se refere à numeração das pessoas, efetuada primeiro
junto ao monte Sinai e, mais tarde, nas planícies de Moabe, segundo
registrada nos capítulos 1 4 e 26 de Números. Este nome vem do título
Numeri, na Vulgata latina, e se deriva de A·rith·moí na Septuaginta
grega. Contudo, os judeus chamam esse livro mais apropriadamente de
Bemidh·bár, que significa “No Ermo”. A palavra hebraica midh·bár indica
um lugar descampado, desprovido de cidades e povoados. Foi no ermo, ao
sul e ao leste de Canaã, que ocorreram os eventos de Números.
Números evidentemente fazia parte do volume quíntuplo original, que
incluía os livros de Gênesis a Deuteronômio. O primeiro versículo (1:1)
começa dando continuidade com o que precede. Assim, deve ter sido
escrito por Moisés, o escritor dos registros precedentes. Isto também
fica claro da declaração no livro de que “Moisés registrava” e do
colofão: “Estes são os mandamentos e as decisões judiciais que Deus
ordenou aos filhos de Israel por meio de Moisés.” Núm. 33:2; 36:13.
Os israelitas haviam saído do Egito um pouco mais de um ano antes.
Iniciando o relato no segundo mês do segundo ano depois do Êxodo,
Números abrange os próximos 38 anos e nove meses. (Núm. 1:1; Deut. 1:3)
Embora não se enquadrem nesse período, os eventos relatados em Números
7:1-88 e 9:1-15 são incluídos como informações de fundo. As partes
iniciais do livro foram, sem dúvida, escritas à medida que os eventos se
desenrolavam, mas é evidente que Moisés não poderia ter completado
Números senão perto do fim do 40° ano no ermo.
Não pode haver dúvida quanto à autenticidade do relato. A respeito da
terra geralmente árida pela qual viajavam, Moisés disse que se tratava
dum “grande e atemorizante ermo”, e, mesmo em nossos dias, os dispersos
habitantes se locomovem constantemente em busca de pastos e água. (Deut.
1:19) Ademais, as instruções detalhadas a respeito do acampamento da
nação, da ordem de marcha e dos sinais de trombeta para governar os
assuntos do acampamento atestam que o relato foi realmente escrito “no
ermo”. Núm. 1:1.
Até mesmo o temeroso relatório dos espias, quando retornaram de sua
expedição a Canaã, no sentido de que “as cidades fortificadas são muito
grandes”, é confirmado pela arqueologia. (13:28) As descobertas atuais
têm revelado que os habitantes de Canaã daquele tempo haviam consolidado
seu domínio mediante uma série de fortificações que se estendiam pelo
país em diversos lugares, desde a baixada de Jezreel, no Norte, até
Gerar, no Sul. Não só eram as cidades fortificadas, mas eram em geral
construídas no cume de colinas, com torres que se elevavam acima de suas
muralhas, tornando-as muitíssimo impressionantes para pessoas como os
israelitas, que haviam residido por gerações na terra plana do Egito.
As nações do mundo tendem a encobrir os seus fracassos e a magnificar as
suas conquistas, mas, o relato de Números narra, com honestidade que
denota verdade histórica, que Israel foi totalmente derrotada pelos
amalequitas e pelos cananeus. (14:45) Admite francamente que o povo
mostrou ser sem fé e tratou a Deus sem respeito. (14:11) Com notável
candura, Moisés, profeta de Deus, expõe os pecados da nação, de seus
sobrinhos e de seu próprio irmão e irmã. Tampouco poupa a si mesmo, pois
fala da ocasião em que deixou de santificar a Deus, quando se supriu
água em Meribá, de modo que perdeu o privilégio de entrar na Terra
Prometida. 3:4; 12:1-15; 20:7-13.
Que o relato é parte genuína das Escrituras, que são inspiradas por Deus
e proveitosas, se evidencia de que quase todos os seus principais
eventos, bem como muitos pormenores, são diretamente citados por outros
escritores da Bíblia, muitos dos quais destacam a importância deles. Por
exemplo, Josué (Jos. 4:12; 14:2), Jeremias (2 Reis 18:4), Neemias (Nee.
9:19-22), Asafe (Sal. 78:14-41), Davi (Sal. 95:7-11), Isaías (Isa.
48:21), Ezequiel (Eze. 20:13-24), Oséias (Osé. 9:10), Amós (Amós 5:25),
Miquéias (Miq. 6:5), Lucas, no seu registro sobre o discurso de Estêvão
(Atos 7:36), Paulo (1 Cor. 10:1-11), Pedro (2 Ped. 2:15, 16), Judas
(Jud. 11) e João, ao registrar as palavras de Jesus à congregação de
Pérgamo (Ap. 2:14), citam do registro de Números, como fez o próprio
Jesus Cristo. João 3:14.
A que objetivo, então, serve Números? Na verdade, o seu relato é mais do
que de valor histórico. Números salienta que Deus é o Deus de ordem, que
requer de suas criaturas devoção exclusiva. Isto é vividamente inculcado
na mente do leitor, ao passo que observa o recenseamento, a provação e a
peneiração de Israel, e vê como o proceder desobediente e rebelde dessa
nação é usado para frisar a necessidade vital de se obedecer a Deus.
O registro foi preservado para o proveito das gerações futuras, segundo
Asafe explicou, “para que pusessem a sua confiança no próprio Deus e não
se esquecessem das práticas de Deus, mas observassem os próprios
mandamentos d'Ele” e que “não se deviam tornar como seus antepassados,
uma geração obstinada e rebelde, uma geração que não preparara seu
coração e cujo espírito não era fidedigno para com Deus”. (Sal. 78:7, 8)
Vez após vez, os eventos de Números foram mencionados nos salmos, que
eram cânticos sagrados entre os judeus, de modo que eram repetidos com
freqüência como sendo de proveito para a nação. Salmos 78, 95, 105, 106,
135, 136.
CONTEÚDO DE NÚMEROS
Números se divide logicamente em três partes. A primeira delas, findando
no capítulo 10, versículo 10, abrange eventos que ocorreram enquanto os
israelitas ainda acampavam junto ao monte Sinai. A parte seguinte,
concluindo com o capítulo 21, narra o que sucedeu durante os seguintes
38 anos e mais um ou dois meses, enquanto se achavam no ermo e até
chegarem às planícies de Moabe. A parte final, até o fim do capítulo 36,
tem a ver com os eventos nas planícies de Moabe, enquanto os israelitas
se preparavam para entrar na Terra Prometida.
Eventos junto ao monte Sinai (1:1-10:10). Os israelitas já estão na
região montanhosa de Sinai por cerca de um ano. Aqui eles foram moldados
numa organização bem entrosada. Às ordens de Deus, faz-se agora um
recenseamento de todos os homens de 20 anos de idade ou mais. As tribos
variam em tamanho, segundo se revela, de 32.200 varões vigorosos em
Manassés a 74.600 em Judá, totalizando 603.550 homens aptos para servir
no exército de Israel, além dos levitas, das mulheres e das crianças um
acampamento composto provavelmente de três milhões de pessoas ou mais.
Sustentar tão grande número de pessoas no deserto, demandava um milagre
permanente. A tenda de reunião está situada, juntamente com os levitas,
no centro do acampamento. Em lugares designados, de cada lado, acampam
os outros israelitas, em divisões de três tribos, cada tribo tendo
recebido instruções quanto à ordem da marcha, isto é, quando o
acampamento precisa locomover-se. Deus emite as instruções, e o registro
diz: “Os filhos de Israel passaram a fazer segundo tudo o que Deus
mandara a Moisés.” (2:34) Obedecem a Deus e mostram respeito por Moisés,
o representante visível de Deus.
Os levitas são então colocados à parte para o serviço de Deus, como
resgate dos primogênitos de Israel. São divididos em três grupos,
segundo sua respectiva descendência dos três filhos de Levi: Gérson,
Coate e Merari. As posições no acampamento e as responsabilidades de
serviço são determinadas à base desta divisão. Os de mais de 30 anos têm
de fazer o trabalho pesado de transportar o tabernáculo. Para que o
serviço mais leve seja feito, faz-se provisão para que outros sirvam a
partir dos 25 anos de idade. (Reduzidos para 20 anos nos dias de Davi.)
1 Crô. 23:24-32; Esd 3:8.
Para que o acampamento seja mantido puro, dá-se instruções sobre pôr de
quarentena os que adoecem, fazer expiação pelos atos de infidelidade,
resolver casos em que um homem suspeite da conduta da esposa, e sobre
assegurar a conduta correta dos que são colocados à parte por voto a fim
de levar uma vida de nazireu para Deus. Visto que o povo tem de levar
sobre si mesmo o nome de seu Deus, precisa comportar-se em harmonia com
os Seus mandamentos.
Suprindo alguns pormenores do mês anterior (Núm. 7:1, 10; Êxo. 40:17),
Moisés fala a seguir das contribuições de materiais, feitas pelos 12
maiorais do povo, por um período de 12 dias, desde a inauguração do
altar. Não houve competição nem a procura de glória pessoal nisso; cada
qual contribuiu exatamente o que os outros contribuíram. Todos precisam
reter em mente que, acima desses maiorais, e acima do próprio Moisés,
está Deus, que dá instruções a Moisés. Nunca devem esquecer a sua
relação com Deus. A Páscoa deve fazê-los lembrar-se de sua maravilhosa
libertação do Egito feita por Deus, e eles a celebram aqui no ermo na
ocasião determinada, um ano depois de partirem do Egito.
Assim como dirigira a marcha de Israel para fora do Egito, Deus continua
a conduzir a nação nas suas viagens, por meio duma nuvem que cobre o
tabernáculo da tenda do Testemunho, de dia, e por meio de aparecimento
do fogo ali, de noite. Quando a nuvem se locomove, a nação se locomove.
Quando a nuvem permanece sobre o tabernáculo, a nação permanece
acampada, seja por poucos dias seja por um mês ou mais, pois o relato
nos diz: “Acampavam-se à ordem de Deus e partiam à ordem de Deus.
Cuidavam da sua obrigação para com o Senhor segundo Sua ordem mediante
Moisés.” (Núm. 9:23) Quando se aproxima o tempo de partirem do Sinai,
providenciam-se toques de trombeta tanto para reunir o povo como para
dirigir as diversas divisões do acampamento na jornada pelo ermo.
Eventos no ermo (10:11-21:35). Por fim, no 20° dia do segundo mês, Deus
faz erguer a nuvem de sobre o tabernáculo, deste modo dando sinal para
que Israel parta da região do Sinai. Com a arca do pacto de Deus no meio
deles, rumam a Cades-Barnéia, uns 240 quilômetros ao norte. Enquanto
marcham durante o dia, a nuvem de Deus paira sobre eles. Toda vez que a
Arca parte, Moisés ora a Deus para que este se levante e disperse seus
inimigos, e toda vez que ela vem a descansar, ele ora a Deus para que
volte “às miríades dos milhares de Israel”. 10:36.
Contudo, surgem dificuldades no acampamento. Na viagem para o norte,
para Cades-Barnéia, há pelo menos três ocasiões de queixas. Para
reprimir a primeira manifestação, Deus envia fogo para consumir alguns
do povo. Daí, a “multidão mista” faz Israel lamentar-se de que não mais
tem como alimento peixe, pepino, melancia, alho-porro, cebola e alho do
Egito, mas apenas maná. (11:4) Moisés fica tão angustiado que pede a
Deus que o mate em vez de deixá-lo continuar a servir de aio para todo
aquele povo. Deus, mostrando consideração, retira parte do espírito de
Moisés e coloca-o sobre 70 anciãos, que passam a ajudar Moisés como
profetas no acampamento. Daí vem carne em abundância. Como já sucedera
antes, um vento da parte de Deus traz codornizes do mar, e o povo
gananciosamente se apodera de grande suprimento, estocando-o
egoisticamente. A ira de Deus se acende contra eles, abatendo muitos por
causa do ardente desejo egoísta deles. Êxo. 16:2, 3, 13.
As dificuldades continuam. Deixando de reconhecer devidamente seu irmão
mais novo, Moisés, como representante de Deus, Miriã e Arão o criticam
por causa de sua esposa, recém-chegada ao acampamento. Exigem mais
autoridade, comparável à de Moisés, embora ‘o homem Moisés fosse em
muito o mais manso de todos os homens na superfície do solo’. (Núm.
12:3) O próprio Deus corrige o assunto, revelando que Moisés ocupa uma
posição especial e ferindo com lepra a Miriã, a provável instigadora da
queixa. Foi só mediante a intercessão de Moisés que ela mais tarde se
restabeleceu.
Chegando a Cades, Israel acampa no limiar da Terra Prometida. Deus
instrui Moisés a enviar espias para fazer reconhecimento do país.
Entrando pelo Sul, eles viajam para o Norte, até a “entrada de Hamate”,
caminhando centenas de quilômetros em 40 dias. (13:21) Quando retornam
com alguns dos ricos frutos de Canaã, dez dos espias argumentam sem fé
que seria tolo ir contra um povo tão forte e tão grandes cidades
fortificadas. Calebe tenta acalmar a assembléia com um relatório
favorável, mas sem êxito. Os espias rebeldes lançam medo no coração dos
israelitas, afirmando que se trata duma terra que “consome os seus
habitantes” e dizendo: “Todo o povo que vimos no meio dela são homens de
tamanho extraordinário.” À medida que queixas de rebelião se espalham no
acampamento, Josué e Calebe rogam: “Deus está conosco. Não os temais.”
(13:32; 14:9) Mas, a assembléia passa a falar em apedrejá-los.
Deus então intervém diretamente, dizendo a Moisés: “Até quando me
tratará este povo sem respeito e até quando não depositarão fé em mim,
em vista de todos os sinais que realizei entre eles?” (14:11) Moisés lhe
implora que não destrua a nação, visto que o nome e a fama de Deus estão
envolvidos. Deus decreta, então, que Israel continuará a vagar pelo ermo
até que todos os que foram registrados entre o povo, de 20 anos ou mais,
tenham morrido. Dos varões registrados, apenas Calebe e Josué terão
permissão de entrar na Terra da Promessa. É em vão que o povo tenta
subir por sua própria iniciativa, apenas para sofrer terrível derrota às
mãos dos amalequitas e dos cananeus. Que preço elevado paga o povo pelo
desrespeito para com Deus e seus leais representantes!
Realmente, eles têm muito a aprender no tocante à obediência.
Apropriadamente, Deus lhes dá leis adicionais, que acentuam tal
necessidade. Ele lhes informa que, quando entrarem na Terra Prometida,
será preciso fazer expiação pelos erros, mas os deliberadamente
desobedientes precisam ser eliminados sem falta. Assim, quando um homem
é apanhado ajuntando lenha em violação da lei sabática, Deus ordena: “O
homem, sem falta, deve ser morto.” (15:35) Como lembrete dos mandamentos
de Deus e da importância de obedecer a eles, Deus instrui que usem
franjas nas orlas das vestimentas.
Não obstante, irrompe outra vez a rebelião. Corá, Datã e Abirão e 250
homens de destaque na assembléia se reúnem em oposição à autoridade de
Moisés e Arão. Moisés leva a questão perante Deus, dizendo aos rebeldes:
‘Tomai porta-lumes e incenso e apresentai-os perante Deus, e deixai que
ele escolha.’ (16:6, 7) A glória de Deus aparece então a toda a
assembléia. Ele executa velozmente o julgamento, fazendo com que a terra
se abra e trague as famílias de Corá, Datã e Abirão, e envia fogo para
consumir os 250 homens, inclusive Corá, que oferecem o incenso. Logo no
dia seguinte, o povo passa a condenar a Moisés e a Arão por aquilo que
Deus fez, e novamente Ele os flagela, eliminando 14.700 queixosos.
Por causa desses eventos, Deus ordena que cada tribo apresente um bastão
perante ele, inclusive um bastão com o nome de Arão para a tribo de
Levi. Demonstra-se, no dia seguinte, que Deus escolheu Arão para o
sacerdócio, pois apenas o bastão dele apresenta flores plenamente
desabrochadas e dá amêndoas maduras. O bastão há de ser preservado na
arca do pacto “como sinal para os filhos da rebeldia”. (Núm. 17:10; Heb.
9:4) Depois de instruções adicionais para o sustento do sacerdócio por
meio de dízimos e sobre o uso da água de purificação com as cinzas de
uma vaca vermelha, o relato nos leva outra vez a Cades. Ali Miriã morre
e é sepultada.
Novamente, no limiar da Terra Prometida, a assembléia alterca com
Moisés, por causa da falta de água. Deus considera isso como altercação
com Ele, e aparece na sua glória, ordenando a Moisés que tome o bastão e
faça sair água do rochedo. Será que nessa ocasião Moisés e Arão
santificam a Deus? Em vez disso, Moisés golpeia duas vezes o rochedo com
ira. O povo e seu gado obtêm água para beber, mas Moisés e Arão deixam
de dar o crédito a Deus. Embora a jornada no ermo esteja quase no fim,
ambos incorrem no desagrado de Deus e se lhes informa que não entrarão
na Terra Prometida. Arão morre mais tarde no monte Hor e seu filho
Eleazar assume os deveres de sumo sacerdote.
Israel vira para o leste e procura atravessar a terra de Edom, mas é
repelido. Ao fazer um grande desvio em volta de Edom, o povo entra outra
vez em dificuldades, queixando-se de Deus e de Moisés. Estão fartos do
maná e têm sede. Por causa de sua rebeldia, Deus envia-lhes serpentes
venenosas, de modo que muitos morrem. Por fim, quando Moisés intercede,
Deus instrui-o a fazer uma ardente serpente de cobre e colocá-la numa
haste de sinal. Os que foram mordidos, mas que fitam a serpente de
cobre, são poupados com vida. Rumando para o norte, os israelitas são
impedidos, respectivamente, pelos reis beligerantes Síon, dos amorreus,
e Ogue, de Basã. Eles derrotam a ambos em batalha, e Israel ocupa os
seus territórios ao leste do vale de abatimento tectônico.
Eventos nas planícies de Moabe (22:1-36:13). Em ávida antecipação
de sua entrada em Canaã, os israelitas se reúnem então nas planícies
desérticas de Moabe, ao norte do mar Morto e ao leste do Jordão,
defronte de Jericó. Vendo este vasto acampamento espraiado diante deles,
os moabitas sentem temor mórbido. Seu rei Balaque, consultando os
midianitas, manda chamar a Balaão para que este use de adivinhação e
amaldiçoe a Israel. Embora Deus diga diretamente a Balaão: “Não deves ir
com eles”, ele quer ir. (22:12) Ele quer a recompensa. Por fim vai
mesmo, mas o que acontece é que ele é interceptado por um anjo e a sua
própria jumenta fala miraculosamente para o repreender. Quando
finalmente Balaão chega a proferir declarações sobre Israel, o Espírito
de Deus o impele, de modo que os seus quatro ditos proverbiais
profetizam apenas bênçãos para a nação de Deus, predizendo até que uma
estrela sairá de Jacó e um cetro surgirá de Israel para subjugar e
destruir.
Tendo enfurecido a Balaque com o seu fracasso em amaldiçoar a Israel,
Balaão procura obter o favor do rei, sugerindo que os moabitas usem as
mulheres de seu povo para engodarem os homens de Israel a participar nos
ritos licenciosos relacionados com a adoração de Baal.(31:15,16) Aqui,
bem na fronteira da Terra Prometida, os israelitas começam a cair
vítimas da crassa imoralidade e da adoração de deuses falsos. Quando a
ira de Deus se acende num flagelo, Moisés exige punição drástica dos
malfeitores. Quando Finéias, filho do sumo sacerdote, vê o filho dum
maioral trazer uma midianita para a sua tenda, dentro do próprio
acampamento, ele vai atrás deles e os mata, ferindo a mulher pelas suas
partes genitais. Assim se faz parar o flagelo, depois de 24.000 terem
morrido em resultado dele.
A seguir, Deus ordena a Moisés e a Eleazar que façam um novo
recenseamento do povo, conforme se fizera quase 39 anos antes, junto ao
monte Sinai. A contagem final mostra que não houve aumento nas suas
fileiras. Pelo contrário, há 1.820 homens a menos registrados. Não resta
nenhum dos que foram registrados junto ao Sinai para o serviço do
exército, exceto Josué e Calebe. Conforme Deus indicara que sucederia,
todos eles haviam morrido no ermo. Deus dá a seguir instruções relativas
à divisão da terra como herança. Repete que Moisés não entrará na Terra
da Promessa, por ter deixado de santificar a Deus junto às águas de
Meribá. (20:13; 27:14). Josué é designado sucessor de Moisés.
Mediante Moisés, Deus a seguir lembra Israel da importância de Suas leis
sobre sacrifícios e festividades e da seriedade dos votos. Faz também
com que Moisés ajuste contas com os midianitas, por causa de sua
participação em seduzir Israel no tocante a Baal de Peor. Todos os
varões midianitas são mortos em batalha, juntamente com Balaão, e só são
poupadas as moças virgens, 32.000 destas sendo levadas cativas
juntamente com o saque que inclui 808.000 animais. Nem sequer um
israelita morre na batalha, segundo se informa. Os filhos de Rubem e de
Gade, que são criadores de gado, pedem para estabelecer-se no território
ao leste do Jordão, e, depois de concordarem em ajudar na conquista da
Terra Prometida, o pedido é concedido, de modo que essas duas tribos,
juntamente com metade da tribo de Manassés, recebem como posse esse rico
planalto.
Depois de uma recapitulação dos lugares de parada, durante a viagem de
40 anos, o registro focaliza outra vez a atenção na necessidade de
obediência a Deus. Deus lhes dá aquela terra, mas eles têm de tornar-se
Seus executores, expulsando os habitantes depravados e adoradores de
demônios e destruindo todo vestígio de sua religião idólatra.
Descrevem-se em pormenores as fronteiras da terra que Deus lhes dá. Ela
deve ser dividida entre eles por sortes. Os levitas, que não têm herança
tribal, devem receber 48 cidades, com seus pastios, 6 das quais têm de
ser cidades de refúgio para o homicida não intencional. O território tem
de permanecer dentro da tribo, nunca devendo ser transferido a outra
tribo por meio de casamento. Se não houver herdeiro masculino, então as
filhas que recebem uma herança por exemplo, as filhas de Zelofeade têm
de casar-se dentro de sua própria tribo. (27:1-11; 36:1-11) Números
conclui com estes mandamentos de Deus por intermédio de Moisés e estando
os filhos de Israel prestes a finalmente entrar na Terra Prometida.
PROVEITO PARA OS DIAS ATUAIS:
Jesus se referiu a Números em diversas ocasiões, e seus apóstolos e
outros escritores da Bíblia demonstram claramente quão significativo e
proveitoso é seu registro. O autor da carta aos Hebreus comparou
especificamente o fiel serviço de Jesus ao de Moisés, que está
registrado principalmente em Números. (Heb.3:1-6) Também, nos
sacrifícios animais, e em aspergir as cinzas da novilha vermelha, de
Números 19:2-9, vemos outra vez retratada a provisão muito maior da
purificação mediante o sacrifício de Cristo. Heb. 9:13, 14.
Similarmente, Paulo mostrou que fazer sair água do rochedo no ermo é
repleto de significado para nós, dizendo: “Costumavam beber da rocha
espiritual que os seguia, e essa rocha significava o Cristo.” (1 Cor.
10:4; Núm. 20:7-11) Apropriadamente, o próprio Cristo disse: “Quem beber
da água que eu lhe der, nunca mais ficará com sede, mas a água que eu
lhe der se tornará nele uma fonte de água que borbulha para dar vida
eterna.” João 4:14.
Jesus fez também referência direta a um incidente registrado em Números,
que prefigurou a maravilhosa provisão que Deus fazia por intermédio
dele. “Assim como Moisés ergueu a serpente no ermo”, disse ele, “assim
tem de ser erguido o Filho do homem, para que todo o que nele crer tenha
vida eterna”. João3:14,15; Núm. 21:8, 9.
Por que foram os israelitas sentenciados a vagar por 40 anos no ermo?
Por falta de fé. O autor da carta aos Hebreus, deu forte admoestação
sobre esse ponto: “Acautelai-vos, irmãos, para que nunca se desenvolva
em nenhum de vós um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus
vivente; mas, persisti em exortar-vos uns aos outros cada dia.” Por
causa de sua desobediência, por causa de sua falta de fé, aqueles
israelitas morreram no ermo. “Façamos, portanto, o máximo para entrar
naquele descanso [de Deus], para que ninguém caia no mesmo exemplo de
desobediência.” (Heb. 3:7-4:11; Núm. 13:25-14:38) Advertindo contra os
homens ímpios, que falam injuriosamente das coisas sagradas, Judas se
referiu à ganância de Balaão por recompensa e à fala rebelde de Corá
contra Moisés, servo de Deus. (Jud. 11; Núm. 22:7, 8, 22; 26:9, 10)
Balaão foi também mencionado por Pedro como sendo alguém que “amava a
recompensa de fazer injustiça”, e pelo glorificado Jesus, na sua
revelação por intermédio de João, como sendo alguém que ‘pôs diante de
Israel uma pedra de tropeço de idolatria e de fornicação’. Certamente, a
congregação cristã hoje deve ser acautelada contra tais ímpios. 2 Ped.
2:12-16; Ap. 2:14.
Quando surgiu imoralidade entre os da congregação coríntia, Paulo
escreveu-lhes a respeito do ‘desejo de coisas prejudiciais’,
referindo-se especificamente a Números. Admoestou: “Nem pratiquemos a
fornicação, assim como alguns deles cometeram fornicação, só para
caírem, vinte e três mil deles, num só dia.” (1 Cor. 10:6, 8; Núm.
25:1-9; 31:16) Que dizer da ocasião em que as pessoas se queixaram de
que obedecer aos mandamentos de Deus acarretava dificuldade pessoal e de
que estavam descontentes com a provisão do maná feita por Deus? Sobre
isso, Paulo diz: “Nem ponhamos Deus à prova, assim como alguns deles o
puseram à prova, só para perecerem pelas serpentes.” (1 Cor. 10:9; Núm.
21:5, 6) Daí, Paulo continua: “Nem sejamos resmungadores, assim como
alguns deles resmungaram, só para perecerem pelo destruidor.” Quão
amargas foram as experiências de Israel por resmungarem contra Deus,
seus representantes e suas provisões! Estas coisas que “lhes aconteciam
como exemplos” devem servir de advertência clara a todos nós hoje, para
que possamos continuar a servir a Deus na plenitude da fé.1Cor.10:10,11;
Núm.14:2, 36, 37; 16:1-3, 41; 17:5, 10.
Números fornece também o fundo histórico, que serve para se entender
melhor muitas outras passagens da Bíblia. Núm. 28:9,10 Mat.12:5;
Núm.15:38 Mat.23:5; Núm.6:2-4 Luc.1:15; Núm.4:3 Luc.3:23; Núm.18:31
1Cor. 9:13, 14; Núm.18:26 Heb.7:5-9; Núm.17:8-10 Heb 9:4.
O que está registrado em Números é deveras inspirado por Deus, e é
proveitoso para nos ensinar a importância da obediência a Deus e do
respeito por aqueles que ele fez ministros entre seu povo. Mediante
exemplo, reprova a transgressão, e mediante acontecimentos de
significado profético dirige nossa atenção Àquele que Deus proveu qual
Salvador e Líder de seu povo hoje. Supre um elo essencial e instrutivo
no registro, que conduz ao estabelecimento do justo reino de Deus, às
mãos de Jesus Cristo.