Eclesiastes
(Ec)
Escritor: Salomão.
Lugar da Escrita: Jerusalém.
Data: Cerca de 935 a.C.
O Livro de Eclesiastes foi escrito com um objetivo elevado. Na qualidade
de líder de um povo dedicado a Deus, Salomão tinha a responsabilidade de
manter este povo coeso em fidelidade à sua dedicação. Ele procurou
cumprir essa responsabilidade por meio dos conselhos sábios contidos em
Eclesiastes.
Em Eclesiastes 1:1, ele se refere a si mesmo como o “congregante”. No
idioma hebraico, esta palavra é Qo·hé·leth, e na Bíblia hebraica o livro
recebe esse nome. A Septuaginta grega dá o título de Ek·kle·si·a·stés,
que significa “um membro de uma eclésia (congregação; assembléia)”, do
qual deriva o nome português Eclesiastes. Entretanto, a tradução mais
apropriada de Qo·hé·leth é “O Congregante”, e esta designação é também
mais adequada para Salomão. Expressa o objetivo de Salomão ao escrever
esse livro.
Em que sentido foi o Rei Salomão um congregante, e a que congregou
pessoas? Ele foi o congregante de seu povo, os israelitas, e dos
companheiros destes, os residentes temporários. Congregou todos estes
para a adoração ao Senhor seu Deus. Antes, ele havia construído o templo
de Deus, em Jerusalém, e, na ocasião da dedicação desse templo, ele
havia convocado ou congregado todos eles para a adoração do Senhor Deus.
(1 Reis 8:1) Agora, por meio de Eclesiastes, procurava congregar o seu
povo para obras dignas, desviando-o das obras vãs e infrutíferas deste
mundo. — Ecl. 12:8-10.
Embora não se diga especificamente que Salomão foi o escritor, diversas
passagens são bem conclusivas neste sentido. O congregante se apresenta
como “filho de Davi”, que ‘veio a ser rei sobre Israel, em Jerusalém’.
Isto só se poderia aplicar ao Rei Salomão, pois os seus sucessores, em
Jerusalém, reinaram apenas sobre Judá. Além disso, conforme o
congregante escreve: “Eu mesmo aumentei grandemente em sabedoria, mais
do que qualquer outro que veio a estar antes de mim em Jerusalém, e meu
próprio coração tem visto muita sabedoria e conhecimento.” (1:1, 12, 16)
Isto se ajusta a Salomão. Eclesiastes 12:9 diz-nos que ele “ponderou e
fez uma investigação cabal, a fim de pôr em ordem muitos provérbios”. O
Rei Salomão proferiu 3.000 provérbios. (1Reis4:32) Eclesiastes 2:4-9
fala do programa de construção do escritor; de seus vinhedos, dos
jardins e parques; do sistema de irrigação; de ter adquirido servos e
servas; de ter acumulado prata e ouro e de outras consecuções. Tudo isto
Salomão fez. Quando a rainha de Sabá viu a sabedoria e a prosperidade de
Salomão, ela disse: “Não se me contou nem a metade.” — 1 Reis 10:7.
O livro identifica Jerusalém com o lugar da escrita, ao dizer que o
congregante era rei “em Jerusalém”. O tempo da escrita deve ter sido
perto do fim do reinado de 40 anos de Salomão, depois de se ter
empenhado nos numerosos empreendimentos referidos no livro, mas antes de
sua queda na idolatria. Por volta desse tempo, ele já havia adquirido
conhecimento extensivo das atividades deste mundo e do empenho deste por
vantagens materiais. Nessa época, ele ainda estava no favor de Deus e
sob Sua inspiração.
Como podemos ter certeza de que Eclesiastes é ‘inspirado por Deus’?. Sem
a mínima dúvida, defende a verdadeira adoração de Deus, encontramos ali
repetidas vezes a expressão ha·´Elo·hím, “o verdadeiro Deus”. Objeção
talvez seja levantada, dizendo-se que não há citações diretas de
Eclesiastes nos outros livros da Bíblia. Contudo, os ensinamentos
apresentados e os princípios expressos no livro estão em perfeita
harmonia com o resto das Escrituras. Eis o que declara o Commentary de
Clarke, Volume III, página 799: “O livro, intitulado Koheleth, ou
Eclesiastes, foi sempre aceito, tanto pela igreja judaica como pela
cristã, como tendo sido escrito sob inspiração do Todo-poderoso; e foi
considerado devidamente parte do cânon sagrado.”
Os “altos críticos”, sábios segundo este mundo, afirmam que Eclesiastes
não foi escrito por Salomão, e que não faz parte genuína de “toda a
Escritura”, dizendo que sua linguagem e filosofia pertencem a uma época
posterior. Eles ignoram o fundo de informações que Salomão pôde acumular
graças ao desenvolvimento progressivo de seu comércio internacional e de
sua indústria, bem como por meio de dignitários viajantes e outros
contatos com o mundo exterior. (1 Reis 4:30, 34; 9:26-28; 10:1, 23, 24)
Conforme escreve F. C. Cook no seu Bible Commentary (Comentário da
Bíblia), Volume IV, página 622: “As ocupações diárias e os
empreendimentos preferidos do grande rei hebreu certamente o levaram
muito além da esfera da vida, do pensamento e da linguagem comuns dos
hebreus.”
Mas, são realmente necessárias fontes externas para provar a
canonicidade de Eclesiastes? Um exame do próprio livro revelará não só
sua harmonia intrínseca, mas também sua harmonia com o resto das
Escrituras, das quais faz realmente parte.
CONTEÚDO DE ECLESIASTES
A futilidade do modo de vida do homem (1:1–3:22). As primeiras
palavras ressoam o tema do livro: “‘A maior das vaidades’, disse o
congregante, ‘a maior das vaidades! Tudo é vaidade!’” Que proveito tira
o homem de toda a luta e labuta em que se empenha? Gerações vêm e vão,
os ciclos naturais seguem seu curso na terra, e “não há nada de novo
debaixo do sol”. (1:2, 3, 9) O congregante pôs o coração a buscar e
perscrutar a sabedoria, no tocante às calamitosas atividades dos filhos
dos homens, mas constata que, na sabedoria e na estultícia, nos
empreendimentos e no trabalho árduo, no comer e no beber, tudo é
“vaidade e um esforço para alcançar o vento”. Ele chega a ‘odiar a
vida’, a vida cheia de calamidades e de empreendimentos materialistas. —
1:14; 2:11, 17.
Para tudo há um tempo designado — sim, Deus fez tudo “bonito no seu
tempo”. Ele deseja que suas criaturas desfrutem a vida sobre a terra.
“Vim saber que não há nada melhor para eles do que alegrar-se e fazer o
bem durante a sua vida; e também que todo homem coma e deveras beba, e
veja o que é bom por todo o seu trabalho árduo. É a dádiva de Deus.”
Mas, infelizmente, para o homem pecador e para o animal há o mesmo
evento conseqüente: “Como morre um, assim morre o outro; e todos eles
têm apenas um só espírito, de modo que não há nenhuma superioridade do
homem sobre o animal, pois tudo é vaidade.” — 3:1, 11-13, 19.
Conselhos sábios para os que temem a Deus (4:1–7:29). Salomão
congratula os mortos, porque estão livres de “todos os atos de opressão
que se praticam debaixo do sol”. Daí, continua a descrever as obras vãs
e calamitosas. Ele aconselha também de modo sábio, dizendo que é “melhor
dois do que um” e que o “cordão tríplice não pode ser prontamente
rompido em dois”. (4:1, 2, 9, 12) Ele dá bons conselhos ao povo de Deus,
ao se congregar: ‘Guarde os seus pés, sempre que for à casa do
verdadeiro Deus; e haja um achegamento para ouvir.’ Não seja precipitado
em falar diante de Deus; ‘as suas palavras devem mostrar ser poucas’, e
pague o que vota a Deus. ‘Tema o próprio verdadeiro Deus.’ Quando os
pobres são oprimidos, lembre-se de que “alguém que é mais alto do que o
alto está vigiando, e há os que estão alto por cima deles”. O simples
servo, observa ele, terá sono doce, mas o rico está preocupado demais
para poder dormir. Contudo, nu ele veio ao mundo, e, apesar de todo o
seu trabalho árduo, não pode levar nada do mundo. — 5:1, 2, 4, 7, 8, 12,
15.
Um homem talvez receba riquezas e glória, mas que adianta viver “mil
anos duas vezes”, se não vir o que é bom? É melhor tomar a peito as
questões sérias da vida e da morte do que associar-se com o estúpido,
“na casa de alegria”; com efeito, é melhor receber a repreensão do
sábio, pois como o estalar “de espinhos sob a panela é o riso do
estúpido”. A sabedoria é proveitosa. “Pois a sabedoria é para proteção,
assim como o dinheiro é para proteção; mas a vantagem do conhecimento é
que a própria sabedoria preserva vivos os que a possuem.” Por que,
então, se tornou calamitoso o caminho da humanidade? “O verdadeiro Deus
fez a humanidade reta, mas eles mesmos têm procurado muitos planos.” —
6:6; 7:4, 6, 12, 29.
O mesmo evento conseqüente para todos (8:1–9:12). “Guarda a
própria ordem do rei”, aconselha o congregante, mas ele observa que,
visto que a sentença contra o trabalho mau não é executada prontamente,
“o coração dos filhos dos homens ficou neles plenamente determinado a
fazer o mal”. (8:2, 11) Ele próprio gaba a alegria, mas há outra coisa
calamitosa! Toda sorte de homens segue o mesmo caminho — para a morte!
Os vivos estão cônscios de que morrerão, os “mortos, porém, não estão
cônscios de absolutamente nada . . . Tudo o que a tua mão achar para
fazer, faze-o com o próprio poder que tens, pois não há trabalho, nem
planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria no Seol, o lugar para onde
vais.” — 9:5, 10.
A sabedoria prática e a obrigação do homem (9:13–12:14). O
congregante cita outras calamidades, como a “estultícia . . . em muitas
posições elevadas”. Apresenta também muitos provérbios de sabedoria
prática, e declara que mesmo “a juventude e o primor da mocidade são
vaidade”, a menos que se acate a verdadeira sabedoria. Ele declara:
“Lembra-te, pois, do teu Grandioso Criador nos dias da tua idade viril.”
De outra forma, a velhice resultará meramente em a pessoa retornar ao pó
da terra, isto acompanhado das palavras do congregante: “A maior das
vaidades! . . . Tudo é vaidade.” Ele próprio sempre ensinou ao povo o
conhecimento, pois “as palavras dos sábios são como aguilhadas”,
impelindo a obras corretas, mas, quanto à sabedoria do mundo, ele
adverte: “De se fazer muitos livros não há fim, e muita devoção a eles é
fadiga para a carne.” Daí, o congregante leva o livro ao seu grandioso
clímax, fazendo um resumo de tudo o que considerou sobre a vaidade e
sobre a sabedoria: “A conclusão do assunto, tudo tendo sido ouvido, é:
Teme o verdadeiro Deus e guarda os seus mandamentos. Pois esta é toda a
obrigação do homem. Pois o próprio verdadeiro Deus levará toda sorte de
trabalho a julgamento com relação a toda coisa oculta, quanto a se é bom
ou mau.” — 10:6; 11:1, 10; 12:1, 8-14.
PROVEITOSO PARA OS NOSSOS DIAS:
Longe de ser um livro pessimista, Eclesiastes está cravejado de
brilhantes gemas de sabedoria divina. Quando Salomão enumera as muitas
consecuções que ele chama de vaidade, não inclui a construção do templo
de Deus, sobre o monte Moriá, em Jerusalém, nem a adoração pura de Deus.
Tampouco diz que a vida, que é uma dádiva de Deus, seja vaidade; ao
contrário, mostra que o objetivo era que o homem se regozijasse e
fizesse o bem. (3:12, 13; 5:18-20; 8:15) As atividades calamitosas são
as que não levam em conta a Deus. Um pai pode ajuntar riquezas para seu
filho, mas um desastre destrói tudo e nada lhe resta. Seria muito melhor
providenciar uma herança duradoura de riquezas espirituais. É calamitoso
possuir uma abundância e não poder usufruí-la. A calamidade sobrevém a
todos os ricos do mundo quando ‘se vão’, de mãos vazias, na morte. —
5:13-15; 6:1, 2.
Em Mateus 12:42, Cristo Jesus se referiu a si mesmo como “algo maior do
que Salomão”. Visto que Salomão prefigurou a Jesus, podemos dizer que as
palavras de Salomão, contidas no livro Qo·hé·leth, estão em harmonia com
os ensinamentos de Jesus? Encontramos muitos paralelos! Por exemplo,
Jesus sublinhou o grande alcance da obra de Deus, ao dizer: “Meu Pai tem
estado trabalhando até agora e eu estou trabalhando.” (João 5:17)
Salomão falou igualmente das obras de Deus: “E eu vi todo o trabalho do
verdadeiro Deus, que a humanidade não é capaz de descobrir o trabalho
que se fez debaixo do sol; por mais que a humanidade trabalhe arduamente
para procurar, ainda assim não o descobre. E mesmo que dissessem que são
bastante sábios para saber, não seriam capazes de o descobrir.” — Ec.
8:17.
Tanto Jesus como Salomão encorajaram os verdadeiros adoradores a se
congregarem. (Mat. 18:20; Ecl. 4:9-12; 5:1) As declarações de Jesus
sobre a “terminação do sistema de coisas” e “os tempos designados das
nações” estão em harmonia com as palavras de Salomão de que “para tudo
há um tempo determinado, sim, há um tempo para todo assunto debaixo dos
céus”. — Mat. 24:3; Luc. 21:24; Ec. 3:1.
Acima de tudo, Jesus e seus discípulos se unem a Salomão para avisar
sobre as armadilhas do materialismo. A sabedoria é a verdadeira
proteção, pois “preserva vivos os que a possuem”, diz Salomão. Jesus
diz: “Persisti, pois, em buscar primeiro o reino e a Sua justiça, e
todas estas outras coisas vos serão acrescentadas”. (Ec. 7:12; Mat.
6:33) Em Eclesiastes 5:10, está escrito: “O mero amante da prata não se
fartará de prata, nem o amante da opulência, da renda. Também isto é
vaidade.” Paulo nos dá um conselho bem similar, ao dizer, em 1 Timóteo
6:6-19, que “o amor ao dinheiro é raiz de toda sorte de coisas
prejudiciais”. Há similares passagens paralelas sobre outros pontos de
instrução bíblica. — Ec. 3:17—Atos 17:31; Ec. 4:1—Tia. 5:4; Ec. 5:1,
2—Tia. 1:19; Ec. 6:12—Tia 4:14; Ec. 7:20—Rom. 3:23; Ecl. 8:17—Rom.
11:33.
O governo do Reino do amado Filho de Deus, Jesus Cristo, que na carne
era descendente do sábio Rei Salomão, estabelecerá uma nova sociedade
terrestre. (Ap. 21:1-5) O que Salomão escreveu para a orientação de seus
súditos no seu reino típico é de interesse vital para todos os que agora
depositam a sua esperança no Reino sob Cristo Jesus. Debaixo da
dominação deste Reino, a humanidade viverá segundo os mesmos princípios
sábios que o congregante apresentou, e se regozijará eternamente com a
dádiva divina de uma vida feliz. Agora é tempo de nos congregarmos para
a adoração de Deus, a fim de usufruirmos plenamente as alegrias da vida
sob o seu Reino. — Ec. 3:12, 13; 12:13, 14.