Deuteronômio
(Dt)
Escritor: Moisés.
Lugar da Escrita: Planícies de Moabe.
Data: Cerca de 1405 a.C.
O livro de Deuteronômio contém uma mensagem dinâmica para o povo de
Deus. Depois de vaguearem pelo ermo por 40 anos, os filhos de Israel
achavam-se então no limiar da Terra da Promessa. O que os aguardava?
Quais seriam os problemas peculiares a enfrentar do outro lado do
Jordão? O que teria Moisés a dizer finalmente à nação? Podemos também
perguntar-nos: Por que é proveitoso para nós hoje saber a resposta a
essas perguntas?
A resposta encontra-se nas palavras que Moisés proferiu e assentou por
escrito no quinto livro da Bíblia, Deuteronômio. Embora repita muitas
coisas dos livros precedentes, Deuteronômio é importante por notáveis
razões próprias. Como assim? Acrescenta ênfase à mensagem divina, tendo
sido fornecida numa época da história do povo de Deus em que os
israelitas realmente necessitavam de liderança dinâmica e direção
positiva. Estavam prestes a entrar na Terra Prometida sob um novo líder.
Necessitavam de encorajamento para ir avante, e, ao mesmo tempo,
necessitavam de advertências divinas para habilitá-los a adotar o
proceder correto, que lhes proporcionaria as bênçãos de Deus.
Devido a essa necessidade, Moisés foi movido poderosamente pelo Espírito
de Deus a exortar Israel de modo franco a mostrar obediência e
fidelidade. Através do livro inteiro, ele sublinha que Deus é o Senhor
Altíssimo, que exige devoção exclusiva e deseja que seu povo ‘o ame de
todo o coração, de toda a alma e de toda a força vital’. Ele é “o Deus
dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e
atemorizante, que não trata a ninguém com parcialidade, nem aceita
suborno”. Ele não tolera nenhuma rivalidade. Obedecer a Deus significa a
vida, desobedecer significa a morte. A instrução de Deus, dada em
Deuteronômio, era precisamente a preparação e o conselho que Israel
necessitava para as tarefas gigantescas à frente. É também a espécie de
admoestação que necessitamos hoje, para que continuemos a andar no temor
de Deus, santificando o seu nome no meio de um mundo corrupto. Deut.
5:9, 10; 6:4-6; 10:12-22.
O nome Deuteronômio deriva-se do título da tradução grega Septuaginta, a
saber, Deu·te·ro·nó·mi·on, nome composto formado de deú·te·ros, que
significa “segundo”, e de nó·mos, “lei.” Significa, portanto, “Segunda
Lei; Repetição da Lei”. Vem da tradução grega da frase hebraica em
Deuteronômio 17:18, mish·néh hat·toh·ráh, corretamente traduzida ‘cópia
da lei’. Não obstante o significado do nome Deuteronômio, este livro da
Bíblia não é uma segunda lei, tampouco é mera repetição da Lei. Em vez
disso, é uma explicação da Lei, que exorta Israel a amar e a obedecer a
Deus na Terra Prometida em que entraria em breve. 1:5.
Visto que este é o quinto rolo, ou volume, do Pentateuco, o escritor
deve ter sido o mesmo que o dos quatro livros precedentes, a saber,
Moisés. A declaração inicial identifica Deuteronômio como sendo “as
palavras que Moisés falou a todo o Israel”, e expressões posteriores,
tais como “Moisés escreveu . . . esta lei” e “Moisés escreveu este
cântico”, provam claramente que ele foi o escritor. O nome dele aparece
quase 40 vezes no livro, em geral como a autoridade para as declarações
feitas. A primeira pessoa, referindo-se a Moisés, é usada
predominantemente em todo o livro. Os versículos concludentes foram
acrescentados depois da morte de Moisés, com toda a probabilidade por
Josué ou pelo sumo sacerdote Eleazar. 1:1; 31:9, 22, 24-26.
Quando ocorreram os eventos contidos em Deuteronômio? O próprio livro
declara no início que, “no quadragésimo ano, no décimo primeiro mês, no
primeiro dia do mês, . . . Moisés falou aos filhos de Israel”. Ao se
completar a narrativa em Deuteronômio, o livro de Josué continua o
relato três dias antes da travessia do Jordão, que se deu “no décimo dia
do primeiro mês”. (Deut. 1:3; Jos.1:11; 4:19) Isto deixa um período de
dois meses e uma semana para os eventos de Deuteronômio. Entretanto, 30
dias deste período de nove semanas foram reservados para prantear a
morte de Moisés. (Deut. 34:8) Isto significa que, a bem dizer, todos os
eventos relatados em Deuteronômio devem ter ocorrido no 11° mês do 40°
ano. Perto do fim daquele mês, deve ter-se praticamente completado
também a escrita do livro, ocorrendo a morte de Moisés em princípios do
12.° mês do 40° ano, em cerca de 1405 a.C..
As provas já apresentadas da autenticidade dos primeiros quatro livros
do Pentateuco aplicam-se igualmente a Deuteronômio, o quinto livro. É
também um dos quatro mais citados livros das Escrituras Hebraicas nas
Escrituras Gregas Cristãs, sendo os outros Gênesis, Salmos e Isaías. Há
83 de tais citações, e apenas seis dos livros das Escrituras Gregas
Cristãs deixam de fazer alusão a Deuteronômio.
O próprio Jesus dá o mais convincente testemunho da autenticidade de
Deuteronômio. No início de seu ministério, foi tentado três vezes pelo
Diabo, e três vezes replicou: “Está escrito.” Onde estava escrito? No
livro de Deuteronômio (8:3; 6:16, 13) que Jesus citava como autoridade:
“O homem tem de viver, não somente de pão, mas de cada pronunciação
procedente da boca de Deus.” “Não deves pôr o Senhor, teu Deus, à
prova.” “É ao Senhor, teu Deus, que tens de adorar e é somente a ele que
tens de prestar serviço sagrado.” (Mat. 4:1-11) Mais tarde, quando os
fariseus vieram prová-lo com respeito aos mandamentos de Deus, Jesus
citou em resposta “o maior e primeiro mandamento”, de Deuteronômio 6:5.
(Mat. 22:37, 38; Mar. 12:30; Luc. 10:27) O testemunho de Jesus atesta
irrefutavelmente a autenticidade de Deuteronômio.
Além do mais, os eventos e as declarações escritas no livro estão em
perfeita harmonia com a situação histórica e com o contexto. As
referências feitas ao Egito, a Canaã, a Amaleque, a Amom, a Moabe e a
Edom correspondem à época, e os nomes de lugares são declarados com
exatidão. A arqueologia continua a apresentar prova sobre prova da
integridade dos escritos de Moisés. Henry H. Halley escreve: “A
Arqueologia, ultimamente, vem falando tão alto que está causando uma
reação decidida em prol do ponto de vista conservador [de que Moisés
escreveu o Pentateuco]. A teoria de que a escrita era desconhecida nos
dias de Moisés já foi pelos ares, de modo completo. E cada ano, no
Egito, Palestina e Mesopotâmia, estão-se escavando evidências tanto em
inscrições como em camadas de terra, de que as narrativas do Antigo
Testamento tratam de verdadeiros fatos históricos. E os ‘eruditos’,
decididamente, estão tomando atitude de maior respeito para com a
tradição referente à autoria de Moisés.” Assim, mesmo a evidência
externa vindica Deuteronômio e todo o Pentateuco como sendo genuínos e
autênticos escritos de Moisés, profeta de Deus.
CONTEÚDO DE DEUTERONÔMIO
O livro compõe-se principalmente de uma série de discursos que Moisés
proferiu perante os filhos de Israel, nas planícies de Moabe, defronte
de Jericó. O primeiro destes discursos termina no capítulo 4, o segundo
vai até o fim do capítulo 26, o terceiro continua até o fim do capítulo
28, e um outro discurso se estende até o fim do capítulo 30. A seguir,
depois de Moisés tomar providências finais, em virtude da aproximação de
sua morte, incluindo comissionar a Josué como seu sucessor, ele escreve
um belíssimo cântico de louvor a Deus, seguido de bênção sobre as tribos
de Israel.
Primeiro discurso de Moisés (1:1-4:49). Este constitui uma
introdução histórica daquilo que vem em seguida. Primeiro, Moisés
recapitula os fiéis tratos de Deus com o Seu povo. Moisés manda este ir
tomar posse da terra prometida a seus antepassados, Abraão, Isaque e
Jacó. Relembra como Deus, no início da viagem pelo ermo, coordenou a
atividade desta comunidade teocrática, fazendo com que Moisés
selecionasse homens sábios, discretos e experientes para agirem como
chefes de grupos de mil, de cem, de cinqüenta e de dez. Havia uma
organização extraordinária, supervisionada por Deus, ao passo que Israel
‘ia marchando através de todo aquele grande e atemorizante ermo’. 1:19.
Moisés lhes faz lembrar agora o pecado de rebelião que cometeram, quando
deram ouvidos ao relatório dos espias que haviam voltado de Canaã e
queixaram-se, dizendo que Deus os odiava por tê-los tirado do Egito,
segundo o acusaram, só para os abandonar às mãos dos amorreus. Por
demonstrarem falta de fé, Deus declarou àquela geração má que nenhum
dentre eles, exceto Calebe e Josué, veria aquela boa terra. Com isso,
agiram novamente de modo rebelde, ficando agitados e fazendo a sua
própria investida independente contra o inimigo, só para serem
rechaçados e dispersos pelos amorreus como um enxame de abelhas.
Viajaram através do ermo, indo em direção ao mar Vermelho, e, no
decorrer de 38 anos, morreu toda a geração dos homens de guerra. Deus
ordenou-lhes então que passassem para o outro lado e tomassem posse do
país ao norte do Árnon, dizendo: “Neste dia principiarei a pôr o pavor
de ti e o temor de ti diante dos povos debaixo de todos os céus, os
quais ouvirão a notícia a teu respeito; e ficarão deveras agitados e
terão dores semelhantes às de parto, por tua causa.” (2:25) Síon e sua
terra caíram às mãos dos israelitas, e daí o reino de Ogue foi ocupado.
Moisés assegurou a Josué que Deus lutaria por Israel do mesmo modo, para
derrotar todos os reinos. Daí, Moisés perguntou a Deus se ele próprio
poderia de alguma forma entrar na boa terra, além do Jordão, mas Deus
continuou a recusar isto, dizendo-lhe que comissionasse, encorajasse e
fortalecesse a Josué.
Moisés dá agora grande ênfase à Lei de Deus, advertindo contra aumentar
ou diminuir Seus mandamentos. A desobediência trará calamidades: “Apenas
guarda-te e cuida bem da tua alma, para que não te esqueças das coisas
que teus olhos viram e para que não se afastem de teu coração todos os
dias da tua vida; e tens de dá-los a conhecer a teus filhos e a teus
netos.” (4:9) Quando Deus lhes declarou as Dez Palavras em
circunstâncias temíveis, em Horebe, não viram nenhuma forma. Será
desastroso para eles voltarem-se agora para a idolatria e adorarem
imagens, pois, conforme Moisés diz: “O Senhor, teu Deus, é um fogo
consumidor, um Deus que exige devoção exclusiva.” (4:24) Foi ele quem
amou a seus antepassados e os escolheu. Não há outro Deus nos céus acima
ou na terra embaixo. Moisés exorta à obediência a Ele, “para que
prolongues os teus dias no solo que O Senhor, teu Deus, te dá, para
sempre”. 4:40.
Depois de concluir este poderoso discurso, Moisés passa a escolher, ao
leste do Jordão, a Bezer, Ramote e Golã como cidades de refúgio.
Segundo discurso de Moisés (5:12-6:19). Este discurso é um
convite para que Israel ouça a Deus que lhe falou face a face em Sinai.
Note como Moisés repete a Lei com alguns ajustes necessários,
adaptando-a assim à nova vida do povo do outro lado do Jordão. Não se
trata de mera repetição dos regulamentos e das ordenanças. Cada palavra
mostra que o coração de Moisés está cheio de zelo e de devoção a seu
Deus. Ele fala para o bem daquela nação. O livro inteiro acentua a
obediência à Lei uma obediência proveniente de um coração cheio de amor,
não sob compulsão.
Primeiro, Moisés repete as Dez Palavras, os Dez Mandamentos, e diz a
Israel que os observe, não se desviando nem para a direita nem para a
esquerda, a fim de prolongar os seus dias na terra e se tornar numeroso.
“Escuta, ó Israel: O Senhor, nosso Deus, é um só Deus.” (6:4) Israel
precisa amar a Deus de coração, alma e força vital, e deve ensinar a
seus filhos e lhes falar dos grandes sinais e milagres que Deus realizou
no Egito. Não deve fazer alianças matrimoniais com os cananeus
idólatras. Deus escolheu Israel para se tornar sua propriedade especial,
não por ser numeroso, mas porque o ama e guardará a declaração
juramentada que fez a seus antepassados. Israel precisa evitar o laço da
religião demoníaca, precisa destruir as imagens que se acham no país e
apegar-se a Deus, que é realmente “um Deus grande e atemorizante”. 7:21.
Deus humilhou os israelitas por 40 anos no ermo, ensinando-lhes que o
homem vive não só de maná ou de pão, mas de toda expressão que sai da
boca de Deus. Durante todos aqueles anos de correção, a roupa deles não
se gastou, tampouco os seus pés se incharam. Agora estão prestes a
entrar na terra de riqueza e fartura! Entretanto, precisam guardar-se
dos laços do materialismo e da justiça própria, e lembrar-se de que Deus
é ‘o dador de poder para produzir riqueza’ e aquele que desapossa as
nações más. (8:18) Moisés recorda então as ocasiões em que Israel
provocou a Deus. Os israelitas precisam lembrar-se de que a ira de Deus
se acendeu contra eles no ermo por meio de pragas, fogo e morte!
Precisam lembrar-se de sua adoração desastrosa do bezerro de ouro, que
resultou na ira ardente de Deus e em refazer ele as tábuas da Lei!
(Êx.32:1-10, 35; 17:2-7; Núm.11:1-3, 31-35; 14:2-38) Certamente,
precisam agora servir e apegar-se a Deus, que os amou por causa de seus
antepassados e os tornou “como as estrelas dos céus em multidão”. Deut.
10:22.
Israel precisa guardar “o mandamento inteiro”, e sem falta obedecer a
Deus, amando-o como seu Deus e servindo-o de todo o coração e de toda a
alma. (11:8, 13) Deus os amparará e os recompensará se lhe obedecerem.
No entanto, precisam aplicar-se e ensinar diligentemente a seus filhos.
A escolha colocada diante de Israel é explicitamente declarada: a
obediência conduz à bênção, a desobediência, à maldição. Não devem
‘seguir outros deuses’. (11:26-28) Moisés delineia a seguir leis
específicas que têm a ver com Israel, ao passo que avança para tomar
posse da Terra Prometida. São (1) leis relativas à religião e adoração;
(2) leis relativas à administração da justiça, governo e guerra; e (3)
leis que regulam a vida privativa e social do povo.
(1) Religião e adoração (12:1-16:17).
Quando os israelitas entrarem no país, todo vestígio da religião falsa
seus altos, altares, colunas, postes sagrados e suas imagens precisa ser
impreterivelmente destruído. Os israelitas precisam adorar unicamente no
lugar em que o Senhor, seu Deus, escolher colocar o seu nome, e ali
precisam regozijar-se nele, todos eles. Os regulamentos sobre o consumo
de carne e sobre sacrifícios incluem lembretes constantes de que não
devem comer sangue. “Apenas toma a firme resolução de não comer o sangue
. . . Não o deves comer, para que te vá bem a ti e a teus filhos depois
de ti, pois farás o que é direito aos olhos de Deus.” (12:16, 23-25, 27;
15:23) Em seguida, Moisés condena bem nitidamente a idolatria. Israel
não deve nem mesmo procurar informar-se sobre os caminhos da religião
falsa. Caso se prove que um profeta é falso, precisa ser morto, e os
apóstatas mesmo que sejam parentes queridos ou amigos, sim, mesmo
cidades inteiras precisam ser da mesma forma entregues à destruição. A
seguir, vêm os regulamentos sobre alimentos puros e impuros, pagamento
dos dízimos e assistência aos levitas. Os interesses dos endividados,
dos pobres e dos escravos devem ser protegidos com amor. Finalmente,
Moisés faz um retrospecto das festas anuais como ocasiões para agradecer
a Deus as bênçãos concedidas: “Três vezes no ano, todo macho teu deve
comparecer perante o Senhor, teu Deus, no lugar que ele escolher: na
festividade dos pães não-fermentados, e na festividade das semanas, e na
festividade das barracas, e ninguém deve comparecer perante Deus de mãos
vazias.” 16:16.
(2) Justiça, governo e guerra (16:18-20:20).
Em primeiro lugar, Moisés dá as leis referentes a juízes e autoridades.
A justiça é coisa de suma importância, pois Deus detesta o suborno e o
desvirtuamento do julgamento. Esboça-se o processo quanto a estabelecer
a evidência e regulamentar casos jurídicos. “Pela boca de duas ou três
testemunhas deve ser morto aquele que há de morrer.” (17:6) Declaram-se
as leis relativas a reis. Fazem-se provisões para os sacerdotes e os
levitas. O espiritismo é proscrito, visto ser ‘detestável para Deus’.
(18:12) Olhando para o futuro distante, Moisés profetiza a vinda do
Messias: “Um profeta do teu próprio meio, dos teus irmãos, semelhante a
mim, é quem o Senhor, teu Deus, te suscitará a este é que deveis
escutar.” (18:15-19) Mas o falso profeta tem de ser morto. Esta parte
conclui com leis relativas às cidades de refúgio e vingar sangue, bem
como com qualificações para isenção do serviço militar e regulamentos
sobre guerra.
(3) A vida privativa e social (21:1-26:19).
As leis que dizem respeito à vida cotidiana dos israelitas são
apresentadas em questões tais como encontrar uma pessoa que foi morta,
casamento com mulheres capturadas, direito do primogênito, filho
rebelde, pendurar criminosos na cruz, evidência da virgindade, crimes
sexuais, castração, filhos ilegítimos, tratamento dado aos estrangeiros,
medidas sanitárias, pagar juros e cumprir votos, divórcio, rapto,
empréstimos, salários e respigas após a ceifa. O limite para fustigar um
homem deve ser de 40 golpes. O touro não deve ser açaimado quando
debulha. Esboça-se o procedimento no caso de casamento com cunhado.
Devem ser usados pesos exatos, pois Deus detesta a injustiça.
Antes de concluir este discurso fervoroso, Moisés relembra como Amaleque
golpeou pela retaguarda os israelitas exaustos que fugiam do Egito, e
Moisés ordena a Israel: “Deves extinguir a menção de Amaleque debaixo
dos céus.” (25:19) Quando entrarem no país, deverão oferecer com
regozijo os primeiros frutos do solo, e também os dízimos, com a
seguinte oração de agradecimento a Deus: “Olha deveras para baixo desde
a tua santa habitação, os céus, e abençoa teu povo Israel e o solo que
nos deste, assim como juraste aos nossos antepassados, a terra que mana
leite e mel.” (26:15) Se cumprirem estes mandamentos de todo o coração e
de toda a alma, Deus, de sua parte, os ‘porá alto acima de todas as
outras nações que fez, resultando em louvor, e em fama, e em beleza, ao
passo que se mostram um povo santo para o Senhor, teu Deus, assim como
ele prometeu’. 26:19.
Terceiro discurso de Moisés (27:1-28:68). Neste, os anciãos de
Israel e os sacerdotes juntam-se a Moisés quando ele enumera
extensamente as maldições da parte de Deus pela desobediência e as
bênçãos pela fidelidade. Avisos funestos são dados sobre os temíveis
resultados da infidelidade. Se Israel, como seu povo santo, continuar a
dar ouvidos à voz do Senhor, teu Deus, receberá maravilhosas bênçãos, e
todos os povos da terra verão que o nome de Deus é invocado sobre ele.
Se, ao contrário, deixar de fazer isso, Deus enviará “a maldição, a
confusão e a reprimenda”. (28:20) Será acometido de doenças repugnantes,
será flagelado pela seca e pela fome; seus inimigos o perseguirão e o
escravizarão, e será espalhado e aniquilado da terra. Estas maldições, e
ainda mais, lhe sobrevirão se não ‘cuidar em cumprir todas as palavras
desta lei que se acham escritas neste livro, de modo a temer este
glorioso e atemorizante nome, sim, o Senhor, teu Deus’. 28:58.
Quarto discurso de Moisés (29:1-30:20). Deus faz agora um pacto
com Israel em Moabe. Este incorpora a Lei, conforme repetida e explicada
por Moisés, o que servirá de guia para Israel ao entrar na Terra
Prometida. O juramento solene que acompanha o pacto sublinha as
responsabilidades daquela nação. Finalmente, Moisés chama os céus e a
terra como testemunhas, pois coloca diante do povo a vida e a morte, a
bênção e a maldição, e exorta: “Tens de escolher a vida para ficar vivo,
tu e tua descendência, amando ao Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e
apegando-te a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias, para
morares no solo de que Deus jurou aos teus antepassados Abraão, Isaque e
Jacó que lhes havia de dar.” 30:19, 20.
Josué é comissionado, e o cântico de Moisés (31:1-32:47). O
capítulo 31 relata que, depois de Moisés escrever a Lei e dar instruções
relativas à sua leitura pública regular, ele comissiona a Josué,
dizendo-lhe que seja corajoso e forte, e, daí, relata que Moisés prepara
um cântico comemorativo e completa a escrita das palavras da Lei, bem
como toma providências para que ela seja colocada ao lado da arca do
pacto de Deus. Depois disso, Moisés enuncia as palavras do cântico
perante a congregação inteira como exortação final.
Com quanto apreço Moisés inicia seu cântico, identificando a Fonte
revigorante das instruções que recebeu! “Meu ensinamento gotejará como a
chuva, minha declaração pingará como o orvalho, como chuvas suaves sobre
a relva, e como chuvas copiosas sobre a vegetação. Pois declararei o
nome de Deus.” Sim, atribua-se grandeza ao “nosso Deus”, “a Rocha”.
(32:2-4) Torne-se conhecida a sua obra perfeita, seus justos caminhos,
sua fidelidade, sua justiça e sua retidão. Foi vergonhoso Israel agir
ruinosamente, embora Deus o cercasse num deserto vago e uivante,
salvaguardando-o como a menina de seu olho e pairando sobre ele como a
águia sobre seus filhotes. É graças a ele que seu povo engordou, e Deus
o chamou de Jesurum, “Aquele Que É Reto”, mas os israelitas o incitaram
ao ciúme com deuses estranhos e se tornaram “filhos em que não há
fidelidade”. (32:20) A vingança e a retribuição pertencem a Deus. É ele
quem faz morrer e faz viver. Quando afiar a sua espada reluzente e a sua
mão segurar o julgamento, tomará deveras vingança de seus adversários.
Que confiança isto deve inspirar no seu povo! Conforme diz o cântico,
atingindo o seu clímax, é tempo de alegrar-se: “Alegrai-vos, ó nações,
com o seu povo.” (32:43) Que poeta no mundo poderia compor uma obra que
se aproximasse à beleza excelsa, ao poder e à profundidade de
significado deste cântico em louvor a Deus?
A bênção final de Moisés (32:48-34:12). Moisés recebe agora
instruções finais concernentes à sua morte, mas ainda não terminou o seu
serviço teocrático. Primeiro, precisa abençoar a Israel, e, ao fazer
isto, ele enaltece novamente a Deus, o Rei de Jesurum, como que
resplandecendo com suas santas miríades. As tribos recebem bênçãos
individuais, sendo citadas por nome, e daí Moisés louva a Deus como o
Eminente. “O Deus da antiguidade é um esconderijo, e por baixo há os
braços que duram indefinidamente.” (33:27) Com coração cheio de apreço,
ele fala então as suas palavras finais à nação: “Feliz és, ó Israel!
Quem é semelhante a ti, um povo usufruindo salvação em Deus?” 33:29.
Depois de contemplar a Terra Prometida, de cima do monte Nebo, Moisés
morre, e Deus o enterra em Moabe, não tendo sido conhecido nem honrado o
seu sepulcro até o dia de hoje. Ele viveu até à idade de 120 anos, mas
“seu olho não se havia turvado e seu vigor vital não lhe havia fugido”.
Deus o usou para realizar grandes sinais e milagres e, conforme relata o
último capítulo, não se levantou “em Israel um profeta semelhante a
Moisés, a quem Deus conhecia face a face”. 34:7, 10.
TIRANDO PROVEITO PARA OS NOSSOS DIAS
Sendo o livro concludente do Pentateuco, Deuteronômio está em harmonia
com tudo o que o precedeu em declarar e santificar o grande nome do
Senhor Deus. Só ele é Deus, e exige devoção exclusiva, não tolerando
rivalidade por parte de deuses-demônios da adoração religiosa falsa. No
dia de hoje, todos os cristãos precisam prestar séria atenção aos
grandes princípios por trás da lei de Deus e obedecer-Lhe, a fim de
evitarem Sua maldição, quando ele afiar a sua espada reluzente para
executar vingança sobre seus adversários. O seu maior e primeiro
mandamento precisa tornar-se o marco indicador nas suas vidas: “Tens de
amar ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de toda a tua força vital.” 6:5.
O restante das Escrituras faz freqüentes referências a Deuteronômio para
aprofundar nosso apreço pelos propósitos divinos. Além de suas citações
para responder ao Tentador, Jesus fez muitas outras referências a esse
livro. (Deut.5:16Mat.15:4; Deut.17:6Mat.18:16 e João 8:17) Estas
continuam até em Apocalipse, onde o glorificado Jesus adverte finalmente
contra aumentar ou diminuir o rolo da profecia de Deus.
(Deut.4:2Ap.22:18) Pedro cita Deuteronômio ao encerrar o seu poderoso
argumento de que Jesus é o Cristo e o Profeta maior que Moisés que Deus
havia prometido suscitar em Israel. (Deut.18:15-19Atos 3:22, 23) Paulo
faz referência a Deuteronômio quanto ao salário dos trabalhadores,
investigação cabal que deve ser feita pelo depoimento de testemunhas e
instrução dos filhos. Deut.25:4 , 1Cor. 9:8-10 e 1Tim.5:17, 18; Deut.
13:14 e 19:15, 1 Tim. 5:19 e 2 Cor.13:1; Deut. 5:16, Efé. 6:2, 3.
Não só os escritores das Escrituras Cristãs, mas também os servos de
Deus dos tempos pré-cristãos receberam instrução e encorajamento de
Deuteronômio. Faremos bem em seguir o exemplo deles. Consideremos a
obediência implícita de Josué, sucessor de Moisés, em entregar à
destruição as cidades conquistadas, durante a invasão de Canaã, não
tomando despojo como o fez Acã. (Deut. 20:15-18 e Deut. 21:23Jos.8:24-27,
29) Em obediência à Lei, Gideão eliminou os ‘medrosos e temerosos’ de
seu exército. (Deut. 20:1-9 Juí.7:1-11) Foi por fidelidade à lei de Deus
que os profetas em Israel e Judá falaram destemida e corajosamente,
condenando aquelas nações relapsas. Amós fornece um excelente exemplo
disto. (Deut. 24:12-15 Amós 2:6-8) Deveras, há literalmente centenas de
exemplos que ligam Deuteronômio com o restante da Palavra de Deus,
mostrando assim que é parte integrante e proveitosa de um todo
harmonioso.
A própria essência de Deuteronômio exala louvor ao Soberano Senhor Deus.
O livro inteiro acentua: ‘Adorem a Deus; rendam-lhe devoção exclusiva.’
Embora a Lei não mais vigore para os cristãos, os princípios por trás
dela não foram ab-rogados. (Gál. 3:19) Quantas coisas podem os
verdadeiros cristãos aprender deste dinâmico livro da lei de Deus, com o
seu ensinamento progressivo, sua franqueza e simplicidade de
apresentação! Até mesmo as nações do mundo reconhecem a excelência da
lei suprema de Deus, pois incorporaram muitos dos regulamentos de
Deuteronômio nos seus próprios códigos de lei. A tabela acompanhante dá
exemplos interessantes de leis a que recorreram ou aplicaram em
princípio.
Outrossim, esta explicação da Lei chama atenção para o Reino de Deus e
aprofunda o apreço por ele. De que modo? O Messias, Jesus Cristo, quando
estava na terra, conhecia bem esse livro e o aplicava, conforme revelam
as citações precisas que fazia dele. Estendendo o domínio do seu Reino,
governará segundo os justos princípios desta mesma “lei”, e todos os que
irão abençoar-se nele como o “descendente” (semente) do Reino terão de
obedecer a estes princípios. (Gên. 22:18; Deut. 7:12-14) É benéfico e
proveitoso começar a obedecer a esses princípios desde já. Longe de ser
antiquada, esta “lei”, com 3.500 anos de existência, fala-nos hoje com
voz cheia de força, e continuará a fazer isso no prometido e Reino de
Deus. Continue a ser santificado o nome de Deus entre seu povo, ao passo
que aplica todas as instruções proveitosas do Pentateuco, que tão
gloriosamente atinge seu clímax em Deuteronômio uma parte
verdadeiramente inspirada e inspiradora de “toda a Escritura”!
ALGUNS PRECEDENTES JURÍDICOS EM DEUTERONÔMIO |
I. Leis pessoais e familiares |
Capítulos e Versículos |
|
|
A. Relações pessoais |
|
1. Pais e filhos
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5:16 |
2. Relações
matrimoniais |
22:30; 27:20, 22,
23 |
3. Leis sobre
divórcio |
22:13-19, 28, 29 |
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B. Direitos de propriedade |
22:1-4
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II. Leis constitucionais |
Capítulos e Versículos |
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A. Habilitações e deveres do rei |
17:14-20 |
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B. Regulamentos militares |
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1. Isenções do
serviço militar |
20:1, 5-7; 24:5 |
2. Oficiais
subalternos |
20:9 |
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III. O poder judiciário |
Capítulos e Versículos |
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A. Deveres dos juízes |
16:18, 20 |
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B. Supremo tribunal de recursos |
17:8-11 |
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IV. Direito penal |
Capítulos e Versículos |
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A. Crimes contra o Estado |
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1. Suborno,
perversão da justiça |
16:19, 20 |
2. Perjúrio
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5:20 |
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B. Crimes contra os bons costumes |
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1. Adultério
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5:18; 22:22-24 |
2. União ilícita
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22:30; 27:20, 22,
23 |
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C. Crimes contra a pessoa física |
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1. Assassínio e
agressão |
5:17; 27:24 |
2. Estupro e
sedução |
22:25-29 |
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V. Leis humanitárias |
Capítulos e Versículos |
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A. Bondade para com os animais |
25:4; 22:6, 7 |
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B. Consideração pelos desafortunados |
24:6, 10-18 |
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C. Código de segurança de edificações |
22:8 |
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D. Tratamento de classes dependentes, incluindo escravos e
cativos |
15:12-15;
21:10-14; 27:18, 19 |
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E. Provisões filantrópicas para os necessitados |
14:28, 29;
15:1-11; 16:11, 12; 24:19-22 |
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