1 Samuel
(1Sm)
Escritores: Incerto
Lugar da Escrita: Israel
Data: Entre 931 e 722 a.C.
Tema: Deus age na história
A organização nacional de Israel sofreu momentosa mudança. Nomeou-se um
rei humano! Isto se deu enquanto Samuel servia como profeta de Deus em
Israel. Embora Deus soubesse de antemão e predissesse essa mudança para
a monarquia, segundo a exigência do povo de Israel, ainda assim, foi um
golpe atordoador para Samuel. Devotado ao serviço de Deus desde seu
nascimento e estando cheio de reconhecimento reverente da realeza do
Senhor Deus, Samuel previu os resultados desastrosos para os co-membros
daquela nação santa de Deus. Foi só sob a orientação de Deus que Samuel
cedeu às exigências deles. “Samuel falou então ao povo sobre a
prerrogativa legítima do reinado, e escreveu-a num livro e depositou-o
perante Deus.” (1Sam.10:25) Assim terminou a época dos juízes, e começou
a época dos reis humanos que veria Israel subir a um poder e prestígio
sem precedentes, só para finalmente cair na desonra e ser divorciado do
favor de Deus.
Os dois livros de Samuel eram originalmente um só rolo ou volume. Fez-se
a divisão de Samuel em dois livros quando se publicou esta parte da
Septuaginta grega. Na Septuaginta, Primeiro Samuel foi chamado Primeiros
Reinados. Esta divisão e o nome Primeiro Reis foram adotados pela
Vulgata latina e continuam até hoje em Bíblias católicas. Que Primeiro e
Segundo Samuel formavam originalmente um só livro, demonstra-se pela
nota massorética sobre 1Samuel.18:24, que declara que este versículo se
acha na metade do livro de Samuel.
Há muita evidência da exatidão da narrativa. Os locais geográficos se
enquadram nos eventos descritos. É interessante notar que o ataque
bem-sucedido de Jonatã contra a guarnição filistéia de Micmás, que levou
à completa derrota dos filisteus, foi repetido na Primeira Guerra
Mundial por um oficial do Exército Britânico, que, conforme noticiado,
desbaratou os turcos, seguindo os pontos de referência descritos no
livro inspirado de Samuel. 1Samuel.14:4-14.
Todavia, há provas ainda mais fortes da inspiração e da autenticidade
desse livro. Contém o notável cumprimento da profecia de Deus de que
Israel pediria um rei. (Deut.17:14; 1Sam.8:5) Anos mais tarde, Oséias
confirmou isso, citando as palavras de Deus: “Passei a dar-te um rei na
minha ira e o tirarei na minha fúria.” (Osé.13:11) Pedro mostrou que
Samuel era inspirado ao identificar a Samuel como o profeta que havia
‘declarado distintamente os dias’ de Jesus. (Atos.3:24) Paulo se referia
a 1Samuel.13:14, quando contou brevemente a história de Israel.
(Atos.13:20-22) O próprio Jesus atestou a autenticidade do relato, ao
perguntar aos fariseus dos seus dias: “Não lestes o que Davi fez quando
ele e seus homens ficaram com fome?” Passou então a relatar que Davi
pediu o pão da proposição. (Mat.12:1-4; 1Sam.21:1-6) Esdras também
aceitou o relato como sendo genuíno, conforme já mencionado. 1.Crô.29:29.
Sendo este o relato original das atividades de Davi, toda menção de Davi
em todas as Escrituras confirma o livro de Samuel como sendo parte da
Palavra inspirada de Deus. Alguns de seus eventos são até mencionados
nos cabeçalhos dos salmos de Davi, como no Salmo.59 (1Sam.19:11), no
Salmo.34 (1Sam.21:13,14) e no Salmo.142 (1Sam.22:1 ou 1Sam.24:1,3).
Assim, a evidência interna da própria Palavra de Deus testifica
conclusivamente a autenticidade de Primeiro Samuel.
CONTEÚDO DE PRIMEIRO SAMUEL
O livro abrange, em parte ou no todo, a vida de quatro líderes de
Israel: Eli, o sumo sacerdote; Samuel, o profeta; Saul, o primeiro rei;
e Davi, que foi ungido para ser o próximo rei.
A judicatura de Eli e o jovem Samuel (1Samuel.1:1-4:22). No
início da narrativa, somos apresentados a Ana, esposa favorita de Elcana,
um levita. Ela não tem filhos e é desprezada por isso pela outra esposa
de Elcana, Penina. Enquanto a família faz uma das suas visitas anuais a
Silo, onde se acha a arca do pacto de Deus, Ana ora fervorosamente a
Deus para que lhe dê um filho. Ela promete que, se sua oração for
atendida, devotará o filho ao serviço de Deus. Deus atende a sua oração,
e ela dá à luz um filho, Samuel. Logo que é desmamado, ela o leva à casa
de Deus e o coloca sob os cuidados do sumo sacerdote Eli, como alguém
‘emprestado a Deus’. (1:28) Ana se expressa, então, em jubilante oração
de agradecimentos e de felicidade. O menino se torna “ministro de Deus
perante Eli, o sacerdote”. 2:11.
Nem tudo vai bem com Eli. Está velho, seus dois filhos se tornaram
imprestáveis, e ‘não reconhecem a Deus’. (2:12) Usam o seu cargo
sacerdotal para satisfazer a sua ganância e seus desejos imorais. Eli
deixa de os corrigir. Deus, portanto, passa a enviar mensagens divinas
contra a casa de Eli, avisando que “nunca chegará a haver um homem idoso
na tua casa”, e que ambos os filhos de Eli morrerão num só dia.
(1Sam.2:30-34; 1Reis.2:27) Por fim, Ele envia o menino Samuel a Eli com
uma mensagem de julgamento de fazer tinir os ouvidos. Assim, o jovem
Samuel é credenciado à função de profeta em Israel. 1Sam.3:1,11.
No devido tempo, Deus executa esse julgamento, suscitando os filisteus.
Visto que o resultado da batalha é desfavorável a Israel, os israelitas
levam, com grande grito, a arca do pacto de Silo para seu acampamento
militar. Ouvindo o grito e sabendo que a Arca foi trazida para dentro do
acampamento de Israel, os filisteus fortalecem-se e ganham uma
sensacional vitória, desbaratando totalmente os israelitas. A Arca é
capturada, e os dois filhos de Eli morrem. Com coração tremendo, Eli
ouve o relato. Ao se mencionar a Arca, cai de costas da cadeira, quebra
o pescoço e morre. Assim, termina a sua judicatura de 40 anos. Deveras:
“A glória exilou-se de Israel”, pois a Arca representa a presença de
Deus com o seu povo. 4:22.
Samuel julga Israel (5:1-7:17). Agora os filisteus também têm de
aprender, para a sua grande tristeza, que a arca de Deus não deve ser
usada como amuleto. Quando levam a Arca para dentro da casa de adoração
de Dagom, em Asdode, o deus deles cai estirado de bruços. No dia
seguinte, Dagom cai de novo estirado na soleira, desta vez com a cabeça
e as palmas de ambas as mãos decepadas. Com isto começa o costume
supersticioso, entre os filisteus, de ‘não pisar no limiar de Dagom’.
(5:5) Os filisteus mandam apressadamente a Arca para Gate, e daí para
Ecrom, mas tudo em vão! Sobrevêm tormentos em forma de pânico,
hemorróidas e uma praga de roedores. Os senhores do eixo dos filisteus,
em desespero final com o aumento do número de mortos, devolvem a Israel
a Arca num novo carro puxado por duas vacas que amamentam. Em Bete-Semes,
sobrevém calamidade sobre alguns dos israelitas, porque olham para a
Arca. (1Sam.6:19; Núm.4:6,20) Finalmente, a Arca descansa na casa de
Abinadabe, na cidade levítica de Quiriate-Jearim.
Por 20 anos, a Arca permanece na casa de Abinadabe. Samuel, já adulto,
insta com os israelitas para que se desfaçam dos Baalins e das imagens
de Astorete e sirvam a Deus de todo o coração. Eles fazem isso. Quando
se reúnem em Mispá para adoração, os senhores do eixo dos filisteus
aproveitam a oportunidade para batalhar, e Israel é apanhado de
surpresa. Israel invoca a Deus por intermédio de Samuel. Um grande
barulho de trovão da parte de Deus lança os filisteus em confusão, e os
israelitas, fortalecidos mediante sacrifícios e orações, obtêm uma
vitória esmagadora. Daquele tempo em diante, ‘a mão de Deus continua a
ser contra os filisteus todos os dias de Samuel’. (7:13) Contudo, Samuel
não pára seu serviço. Durante toda a vida, continua a julgar Israel,
fazendo viagem anual desde Ramá, logo ao norte de Jerusalém, até Betel,
Gilgal e Mispá. Em Ramá, ele levanta um altar a Deus.
Saul, o primeiro rei de Israel (8:1-12:25). Samuel já está
envelhecido no serviço de Deus, mas seus filhos não andam nos caminhos
de seu pai, pois aceitam subornos e pervertem o julgamento. Neste tempo,
os homens mais idosos de Israel vão ter com Samuel com o seguinte
pedido: “Designa-nos deveras um rei para nos julgar, igual a todas as
nações.” (8:5) Samuel, extremamente perturbado, busca a Deus em oração.
Deus responde: “Não é a ti que rejeitaram, mas é a mim que rejeitaram
como rei sobre eles. . . . E agora escuta a sua voz.” (8:7-9) Primeiro,
porém, Samuel precisa adverti-los das conseqüências funestas de seu
pedido rebelde: arregimentação, pagamento de impostos, perda da
liberdade e, com o tempo, amargura e clamor a Deus. O povo, irredutível
nos seus desejos, exige um rei.
Agora, passamos a conhecer Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, e
incomparavelmente o mais belo e o mais alto homem em Israel. Ele é
conduzido a Samuel, que lhe reserva um lugar de honra num banquete,
unge-o e daí o apresenta a todo o Israel numa assembléia em Mispá.
Embora no início Saul se esconda entre a bagagem, é finalmente
apresentado como sendo a escolha de Deus. Samuel relembra mais uma vez a
Israel a prerrogativa do reinado, escrevendo-a num livro. Entretanto,
não é senão depois da vitória sobre os amonitas, que acaba com o sítio
em Jabes de Gileade, que Saul é levado a sério por todos os dentre o
povo, de modo que confirmam a sua realeza em Gilgal. Samuel os exorta
outra vez a temer, servir e obedecer a Deus, e roga a Deus que envie um
sinal em forma de trovões e chuva fora de época, na ocasião da colheita.
Numa demonstração aterradora, Deus mostra a sua ira por terem rejeitado
a Ele qual Rei.
A desobediência de Saul (13:1-15:35). Ao passo que os filisteus
continuam a molestar a Israel, Jonatã, o corajoso filho de Saul, derrota
uma guarnição dos filisteus. O inimigo, para vingar-se disto, envia um
enorme exército, “como os grãos de areia que há à beira do mar”, em
tamanho, e eles acampam em Micmás. A inquietação assola as fileiras dos
israelitas. ‘Se tão-somente Samuel viesse dar-nos a orientação de Deus!’
Saul, impaciente de esperar por Samuel, peca, oferecendo presunçosamente
ele próprio o sacrifício queimado. Samuel aparece de súbito. Rejeitando
as pouco convincentes desculpas de Saul, pronuncia o julgamento de Deus:
“E agora teu reino não durará. Deus certamente achará para si um homem
que agrade ao seu coração; e Deus o comissionará como líder do seu povo,
porque não guardaste o que Deus te ordenou.” 13:14.
Jonatã, cheio de zelo pelo nome de Deus, ataca outra vez um posto
avançado dos filisteus, desta vez acompanhado apenas de seu escudeiro, e
como um raio eles abatem cerca de 20 homens. Um terremoto aumenta a
confusão dos inimigos. Estes se põem em fuga e os israelitas os
perseguem decididamente. Contudo, a plena força da vitória fica
enfraquecida pelo juramento precipitado de Saul de proibir os guerreiros
de comer antes de terminar a batalha. Os homens se cansam logo e daí
pecam contra Deus, comendo carne recém-abatida, sem dar tempo para o
sangue escoar. Jonatã, da sua parte, revigorara-se com um favo de mel
antes de saber do juramento que ele denuncia intrepidamente como um
empecilho. Ele é remido da morte pelo povo, por causa da grande salvação
que efetuou em Israel.
Chega, então, o tempo de Deus executar o julgamento sobre os vis
amalequitas. (Deut.25:17-19) Devem ser totalmente exterminados. Nada
deverá ser poupado, nem homem nem animal. Nenhum despojo deve ser
tomado. Tudo tem de ser entregue à destruição. Entretanto, Saul,
desobedecendo, poupa a Agague, rei dos amalequitas, e os melhores
animais dentre os rebanhos e manadas, ostensivamente para os sacrificar
a Deus. Isto desagrada tanto ao Deus de Israel que ele inspira Samuel a
expressar uma segunda rejeição de Saul. Desconsiderando as desculpas de
Saul que quer salvar as aparências, Samuel declara: “Tem Deus tanto
agrado em ofertas queimadas e em sacrifícios como em que se obedeça à
voz de Deus? Eis que obedecer é melhor do que um sacrifício . . . Visto
que rejeitaste a palavra de Deus, ele concordemente rejeita que sejas
rei.” (1Sam.15:22,23) Saul estende então o braço para implorar clemência
a Samuel e arranca a aba de sua túnica. Samuel lhe certifica que Deus
arrancará igualmente o reino de Saul e o dará a um homem melhor. O
próprio Samuel lança mão da espada, executa a Agague e vira as costas a
Saul, para nunca mais o ver.
A unção de Davi, sua bravura (16:1-17:58). Deus conduz a seguir
Samuel à casa de Jessé, em Belém de Judá, para selecionar e ungir o
futuro rei. Um por um os filhos de Jessé são passados em revista, mas
são rejeitados. Deus faz lembrar a Samuel: “Não como o homem vê é o modo
de Deus ver, pois o mero homem vê o que aparece aos olhos, mas quanto a
Deus, ele vê o que o coração é.” (16:7) Finalmente, Deus indica a sua
aprovação de Davi, o mais moço, descrito como sendo “ruivo, rapaz de
belos olhos e bem-parecido”, e Samuel o unge com óleo. (16:12) O
Espírito de Deus vem então sobre Davi, mas Saul desenvolve um espírito
mau.
Os filisteus fazem novamente incursões em Israel, apresentando o seu
campeão, Golias, um gigante de seis côvados e um palmo (cerca de 2,9 m)
de altura. É tão monstruoso que sua cota de malha pesa cerca de 57
quilos e a lâmina de sua lança, quase 7 quilos. (17:4,5,7) Dia após dia,
este Golias desafia blasfema e desdenhosamente a Israel para que escolha
um homem e o deixe sair para lutar, mas ninguém responde. Saul estremece
na sua tenda. Entretanto, Davi chega a ouvir os escárnios do filisteu.
Com justa indignação e coragem inspirada, Davi exclama: “Quem é este
filisteu incircunciso que venha escarnecer das fileiras combatentes do
Deus vivente?” (17:26) Rejeitando a armadura de Saul porque não a
experimentou antes, Davi sai ao combate, munido unicamente de um bastão
de pastor, uma funda e cinco pedras lisas. Considerando o confronto com
este jovem pastor uma afronta à sua dignidade, Golias invoca o mal sobre
Davi. Ressoa a resposta confiante: “Tu vens a mim com espada, e com
lança, e com dardo, mas eu chego a ti com o nome de Deus dos exércitos.”
(17:45) Uma pedra certeira da funda de Davi lança o campeão dos
filisteus por terra! Correndo para ele à plena vista de ambos os
exércitos, Davi desembainha a espada do gigante e a usa para decepar a
cabeça do dono dela. Que grande libertação da parte de Deus! Que
regozijo no acampamento de Israel! Morto o seu campeão, os filisteus
fogem, e os jubilantes israelitas os perseguem cerradamente.
Saul persegue a Davi (18:1-27:12). Em conseqüência da ação
destemida de Davi a favor do nome de Deus, apresenta-se-lhe uma amizade
maravilhosa. É com Jonatã, filho de Saul e herdeiro natural do reino.
Jonatã chega a “amá-lo como a sua própria alma”, de modo que os dois
fazem um pacto de amizade. (18:1-3) Enquanto se celebra a fama de Davi
em Israel, Saul, irado, procura matá-lo, mesmo lhe dando sua filha Mical
em casamento. A inimizade de Saul se torna cada vez mais insana, de modo
que Davi se vê forçado a fugir com a amorosa ajuda de Jonatã. No momento
da separação, os dois choram, e Jonatã reafirma a sua lealdade a Davi,
dizendo: “Mostre o próprio Deus estar entre mim e ti, e entre a minha
descendência e a tua descendência, por tempo indefinido.” 20:42.
Davi e seu pequeno grupo de apoiadores famintos, fugindo do exacerbado
Saul, chegam a Nobe. Ali, o sacerdote Aimeleque, depois de se certificar
de que Davi e seus homens se abstiveram de mulheres, permite-lhes comer
do pão sagrado da proposição. Agora, armado da espada de Golias, Davi
foge para Gate, no território dos filisteus, onde finge estar louco. De
lá, ele se esconde na caverna de Adulão, depois foge para Moabe, e mais
tarde, seguindo o conselho do profeta Gade, ele retorna à terra de Judá.
Temendo uma insurreição a favor de Davi, o Rei Saul, louco de ciúmes,
ordena a Doegue, o edomita, que massacre a população sacerdotal de Nobe;
só Abiatar escapa e foge para junto de Davi. Ele se torna o sacerdote do
grupo.
Davi, servo leal de Deus, trava então uma bem-sucedida guerrilha contra
os filisteus. Entretanto, Saul continua a sua campanha total de capturar
a Davi, convocando seus guerreiros e indo ao encalço dele “no ermo de
En-Gedi”. (24:1) Mas Davi, o amado de Deus, consegue sempre manter-se um
passo à frente de seus perseguidores. Em certa ocasião, Davi tem
oportunidade de matar a Saul, mas ele se refreia e apenas corta a aba da
túnica de Saul para lhe provar que lhe poupara a vida. Mesmo este gesto
inofensivo faz o coração de Davi bater, pois sente que agiu contra o
ungido de Deus. Que grande respeito pela organização de Deus!
A narrativa mencione nesta altura a morte de Samuel (25:1), Davi
pede a Nabal, de Maom de Judá, que o proveja de alimento em troca dos
serviços prestados a seus pastores. Mas Nabal só ‘lança invectivas’
contra os homens de Davi, e Davi põe-se a caminho para puni-lo. (25:14)
Compreendendo a gravidade da situação, Abigail, esposa de Nabal, leva
secretamente provisões a Davi e aplaca-lhe a ira. Davi a abençoa pela
sua iniciativa judiciosa e a envia de volta em paz. Quando Abigail
informa Nabal sobre o sucedido, ele é atacado do coração, e dez dias
mais tarde morre. Davi casa-se então com a bondosa e bela Abigail.
Pela terceira vez, Saul persegue obstinadamente a Davi, e, mais uma vez,
goza da misericórdia de Davi. “Um sono profundo da parte de Deus” cai
sobre Saul e seus homens. Isto permite que Davi entre no acampamento e
se apodere da lança de Saul, mas ele se refreia de estender a mão
“contra o ungido de Deus”. (26:11,12) Pela segunda vez Davi é forçado a
buscar refúgio junto aos filisteus que lhe dão Ziclague como lugar de
residência. De lá, ele continua as suas incursões contra outros inimigos
de Israel.
Fim suicida de Saul (28:1-31:13). Os senhores do eixo dos
filisteus se unem num exército combinado e acampam em Suném. Em
contrapartida, Saul posta-se junto ao monte Gilboa. Num estado de grande
agitação, Saul busca orientação divina, mas não consegue obter nenhuma
resposta de Deus. Se tão-somente pudesse entrar em contato com Samuel!
Saul se disfarça e parte para ir consultar uma médium espírita, em
En-Dor, por trás das linhas dos filisteus, cometendo assim outro grave
pecado. Encontrando-a, roga-lhe que contate Samuel. Precipitado em tirar
conclusões, Saul presume que aquele que a médium faz aparecer seja o
falecido Samuel. Entretanto, “Samuel” não tem mensagem consoladora para
o rei. No dia seguinte, ele morrerá e, em conformidade com as palavras
de Deus, o reino lhe será tirado. No outro acampamento, os senhores do
eixo dos filisteus estão subindo ao combate. Vendo a Davi e seus homens
entre as fileiras deles, ficam com suspeitas e os mandam para casa. Os
homens de Davi voltam a Ziclague no momento exato! Um bando de invasores
amalequitas levou a família e as posses de Davi e de seus homens, mas
Davi e seus homens os perseguem, e tudo é recuperado sem nenhum dano.
A batalha é travada no monte Gilboa. Israel sofre uma desastrosa
derrota, e os filisteus controlam as áreas estratégicas do país. Jonatã
e outros filhos de Saul são mortos, e Saul, mortalmente ferido, mata-se
com a sua própria espada é um suicida. Os filisteus vitoriosos prendem
os cadáveres de Saul e de seus três filhos nas muralhas da cidade de
Bete-Sã, mas os homens de Jabes-Gileade retiram os corpos dessa
humilhante posição. O calamitoso reinado do primeiro rei de Israel chega
assim a um fim desastroso.
PROVEITOSO PARA OS NOSSOS DIAS.
Que impressionante história contém Primeiro Samuel! Com honestidade
notável em todos os pormenores, expõe tanto a fraqueza como a força de
Israel. São mencionados aqui quatro líderes de Israel: dois seguiram a
lei de Deus e dois não. Note-se como Eli e Saul fracassaram nos seus
deveres: o primeiro negligenciou tomar ação e o segundo agiu
presunçosamente. Por outro lado, Samuel e Davi mostraram amor pelo
caminho de Deus desde a sua mocidade, e prosperaram em conseqüência
disso. Que lições valiosas encontramos aqui para todos os ministros!
Quão necessário é que estes sejam firmes, que velem pela pureza e pela
ordem na congregação de Deus, que respeitem as providências tomadas
nela, que sejam destemidos, calmos, corajosos, que tenham amor e
consideração para com os outros! (2:23-25; 24:5,7; 18:5,14-16) É digno
de nota também que os dois que foram bem-sucedidos tiveram a vantagem de
uma boa formação teocrática desde a tenra infância, e, bem jovens ainda,
falavam corajosamente a mensagem de Deus e se desincumbiam dos
interesses que se lhes confiavam. (3:19; 17:33-37) Que todos os jovens
adoradores de Deus hoje possam ser pequenos “Samuéis” e pequenos
“Davis”!
Dentre todas as palavras proveitosas deste livro, é preciso lembrar
claramente as que Deus inspirou Samuel a proferir ao julgar Saul por
este não “extinguir a menção de Amaleque debaixo dos céus”. (Deut.25:19)
A lição de que ‘a obediência é melhor que sacrifício’ é repetida em
várias situações, em Oséias.6:6, Miquéias.6:6-8 e em Marcos.12:33.
(1.Sam.15:22) É essencial que tiremos proveito hoje deste relato
inspirado, obedecendo plena e completamente à voz de Deus, nosso Senhor!
A obediência em reconhecer a santidade do sangue é também trazida à
nossa atenção, em 1Samuel.14:32,33. Comer carne sem que se tenha deixado
escoar devidamente o sangue era considerado ‘pecar contra Deus’. Isto se
aplica também à congregação cristã, segundo o que é dito claramente em
Atos.15:28,29.
O que ressalta do livro de Primeiro Samuel é o lastimável erro de uma
nação que chegou a considerar a dominação de Deus desde os céus como não
sendo prática. (1Sam.8:5,19,20; 10:18,19) As armadilhas e a futilidade
da dominação humana são retratadas de modo descritivo e profético.
(8:11-18; 12:1-17) No início, Saul revela ser homem modesto, que tinha o
Espírito de Deus (9:21;11:6), mas seu bom-senso se obscureceu e seu
coração ficou amargo ao passo que diminuía seu amor pela justiça e sua
fé em Deus. (14:24, 29, 44) Suas ações anteriores de zelo foram anuladas
pelos seus atos posteriores de presunção, desobediência e infidelidade a
Deus. (1Sam.13:9; 15:9; 28:7; Eze.18:24) A sua falta de fé gerou
insegurança, transformando-se em inveja, ódio e assassínio.
(1Sam.18:9,11; 20:33; 22:18,19) Morreu assim como viveu, faltando com o
dever para com seu Deus e para com seu povo, e constitui um aviso para
qualquer indivíduo que venha a ser ‘obstinado’ como ele foi.
2Ped.2:10-12.
No entanto, há o contraste com o bem. Por exemplo, note-se a conduta do
fiel Samuel, que serviu Israel por toda a vida, sem usar de fraude,
parcialidade ou favoritismo. (1Sam.12:3-5) Mostrava-se ansioso por
obedecer desde a sua infância (3:5), era cortês e respeitoso (3:6-8),
fidedigno no cumprimento de seus deveres (3:15), inabalável na sua
dedicação e devoção (7:3-6; 12:2), disposto a ouvir (8:21), pronto a
apoiar as decisões de Deus (10:24), firme no seu julgamento para com
quem quer que fosse (13:13), firme na obediência (15:22), perseverante
no cumprimento de incumbências (16:6,11). Era também alguém que recebeu
testemunho favorável dos de fora. (2:26; 9:6) Não somente deve o seu
ministério na mocidade incentivar os jovens a empreender o ministério
hoje em dia (2:11,18), mas a sua perseverança nele, sem parar, até o fim
de seus dias, deve reconfortar os desgastados pela idade. 7:15.
Há, também, o notável exemplo de Jonatã. Ele não manifestou rancor por
ser Davi ungido para ser rei do reino que ele poderia ter herdado. Ao
contrário, reconheceu as excelentes qualidades de Davi e fez um pacto de
amizade com ele. Similar companheirismo desinteresseiro pode ser
grandemente edificante e encorajador entre os que hoje servem fielmente
a Deus. 23:16-18.
Para as mulheres, há o exemplo de Ana, que acompanhava regularmente seu
esposo ao lugar de adoração de Deus. Era mulher humilde, voltada a
orações, e renunciou ao companheirismo de seu filho para manter a sua
palavra e mostrar apreço pela bondade de Deus. Foi deveras maravilhosa a
sua recompensa ao vê-lo entrar no serviço frutífero de Deus, por toda a
vida. (1:11,21-23,27,28) Além disso, há o exemplo de Abigail, que
demonstrou submissão feminina e sensatez, o que lhe granjeou o louvor de
Davi, de modo que mais tarde ela se tornou sua esposa. 25:32-35.
O amor de Davi por Deus é expresso de modo comovedor nos salmos que
compôs enquanto perseguido no ermo por Saul, o “ungido de Deus” que
caíra no pecado. (1Sam.24:6; Sal.34:7,8; 52:8; 57:1,7,9) E, com que
sincero apreço, Davi santificou o nome de Deus, quando lançou o desafio
ao escarnecedor Golias! “Eu chego a ti com o nome de Deus dos exércitos
. . . No dia de hoje Deus te entregará na minha mão, . . . e pessoas de
toda a terra saberão que existe um Deus que pertence a Israel. E toda
esta congregação saberá que não é nem com espada nem com lança que Deus
salva, porque a Deus pertence a batalha, e ele terá de entregar-vos na
nossa mão.” (1Sam.17:45-47) Davi, o corajoso e leal “ungido de Deus”,
magnificou a Deus como sendo Deus de toda a terra e a única Fonte real
de salvação. (2Sam.22:51) Sigamos sempre este corajoso exemplo!
O que nos informa o livro de Primeiro Samuel sobre o desenrolar dos
propósitos de Deus concernentes ao Reino? Ah! isto nos leva ao
verdadeiro ponto alto deste livro da Bíblia! Pois é aqui que conhecemos
a Davi, cujo nome significa, provavelmente, “Amado”. Davi era amado de
Deus e escolhido como o ‘homem que agradou ao seu coração’, aquele que
era apto para ser rei em Israel. (1Sam.13:14) Assim, o reino passou para
a tribo de Judá, em harmonia com a bênção de Jacó, em Gênesis.49:9,10, e
a realeza havia de permanecer na tribo de Judá, até que viesse o
Governante, a quem pertence a obediência de todos os povos.
Além do mais, o nome de Davi está associado com o da Semente do Reino,
que também nasceu em Belém, da linhagem de Davi. (Mat.1:1,6; 2:1;
21:9,15) Trata-se do glorificado Jesus Cristo, o “Leão que é da tribo de
Judá, a raiz de Davi”, e “a raiz e a descendência de Davi, e a
resplandecente estrela da manhã”. (Ap.5:5;22:16) Regendo no poder do
Reino, este “filho de Davi” mostrará toda a firmeza e coragem de seu
ilustre antepassado em lutar contra os inimigos de Deus até os derrubar,
e em santificar em toda a terra o nome de Deus. Quão forte é a nossa
confiança nesta Semente do Reino!