Apocalipse
(Ap)
Livro de Revelação
O Apocalipse desperta interesse em quase todas as pessoas,
principalmente nos últimos anos, por ocasião da mudança de milênio.
Cristãos ou não, religiosos ou não, muitos são os que têm grande
curiosidade em relação ao livro. Entretanto, o medo e a falta de
compreensão acabam por afastar o interessado. O que resta, normalmente,
são informações obscuras e bastante distorcidas. Apocalipse, Armagedom,
Anticristo, Juízo Final e fim do mundo são temas reincidentes nos filmes
de Hollywood, que vão dando sentido lendário e fantasioso aos assuntos
extraídos das Escrituras.
Neste estudo, temos o objetivo de conhecer o livro sem a pretensão de
desvendá-lo completamente. Trata-se de uma introdução ao estudo do
Apocalipse. Apresentaremos, porém, algumas hipóteses de interpretação em
linhas gerais. Quando mencionarmos teorias a respeito de determinado
ponto, não significa que adotamos esta ou aquela posição, exceto quando
declararmos nossa postura.
O Apocalipse contém, logo no início, uma mensagem de bênção para os seus
leitores. "Bem-aventurado aquele que lê, e bem-aventurados os que ouvem
as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas,
porque o tempo está próximo." (Ap.1.3). O texto nada diz sobre a
compreensão, mas sobre o conhecimento. É desejável que entendamos o
Apocalipse. Se, porém, não entendermos, este não deve ser o motivo para
que o abandonemos. Precisamos ler, ouvir, estudar, guardar o seu
conteúdo. Pode ser que muitas de suas profecias não possam ser
compreendidas antes de se cumprirem. Contudo, se as conhecemos,
poderemos reconhecê-las quando se cumprirem e, reconhecendo, poderemos
tomar as atitudes certas no momento certo. Jesus disse: "... quando
virdes... a abominação da desolação... então, os que estiverem na
Judéia fujam para os montes." (Mt.24.15). Portanto, quando certos fatos
ocorrerem, nós poderemos identificá-los, caso estejamos munidos do
conhecimento profético.
O GÊNERO APOCALÍPTICO
Esse foi um estilo literário que se destacou principalmente entre os
anos 210 a.C. e 200 d.C. Seu ambiente de origem era uma época de
tribulação para povo de Deus. Diante de circunstâncias que incluíam
opressão, perseguição, exílio ou domínio estrangeiro, os escritos
apocalípticos traziam uma mensagem de esperança através de uma
linguagem enigmática. Seu objetivo era reanimar judeus ou
cristãos, trazendo-lhes profecias a respeito da futura intervenção
divina para libertar o seu povo, restituindo-lhe a glória usurpada.
Muitos "apocalipses" surgiram, tendo como principal modelo o livro de
Daniel. Este foi escrito durante o exílio Babilônico e trazia uma
mensagem sobre o Reino de Deus que viria destruindo todos os reinos
opressores. Daí em diante, muitos livros apocalípticos foram produzidos.
Um dos momentos de opressão vividos por Israel foi o domínio romano,
produzindo assim mais uma ocasião propícia a esse tipo de literatura,
que muitas vezes incluía profecias messiânicas. Diversos escritos desse
tipo não foram reconhecidos como canônicos. Como exemplos podemos citar
o Apocalipse de Baruque, Apocalipse de Pedro, O Pastor de Hermas, A
Assunção de Moisés, A Ascensão de Isaías, O livro de Jubileus, Os Salmos
de Salomão, Os Testamentos dos Doze Patriarcas, I Livro de Enoque, II
Livro de Enoque, II Esdras e IV Esdras.
O Apocalipse de João se encaixa perfeitamente nessa corrente literária.
Contudo, seu messianismo não se encontra vago como em outros escritos.
Nele, o Messias é claramente identificado como sendo o nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Este é o único livro desse gênero no Novo
Testamento. Contudo, existem blocos apocalípticos em outras partes da
bíblia. Por exemplo: Daniel 7 a 12, Isaías 13,14, 24, 25, Ezequiel 1, 28
a 39, Zacarias 9 a 14, Mateus 24, Marcos 13, Lucas 21, I Tessalonicenses
5 e II Tessalonicenses 2. .
CARACTERÍSTICAS, CONTEÚDO E AUTORIA
DOS LIVROS APOCALÍPTICOS
Características e conteúdo: Mensagem de esperança, escatologia,
intervenção divina, visões, símbolos, criaturas estranhas, mensagem
oculta, uso de pseudônimos, profecias e apelo à imaginação.
O Apocalipse de João só não se encaixa no quesito pseudônimo. Os
escritores apocalípticos normalmente não assinavam suas obras. Muitos
colocavam algum outro nome famoso e reconhecido, como Enoque, Salomão,
etc., para darem mais credibilidade ao livro. João, porém, colocou seu
próprio nome, conforme vemos no livro (Ap.1.1,4,9-11). Tal autoria é
reconhecida pela maior parte dos críticos e comentaristas. Há quem diga
que alguém usou o nome de João, mas essa hipótese não tem muitos
adeptos.
Alguns detalhes do livro reforçam a crença na autoria joanina. Jesus é
apresentado como o Verbo de Deus e o Cordeiro (Ap.19.7,13), exatamente
como acontece no evangelho de João (1.1,29). A palavra "testemunho" se
destaca assim como acontece no evangelho e na primeira e terceira
epístolas. Notamos assim "a mão" de João no Apocalipse.
O QUE É APOCALIPSE?
Esta palavra, de origem grega, significa "revelação". Revelar é mostrar,
tirar o véu, desvendar. Falamos do Apocalipse como algo oculto. Porém,
trata-se de uma revelação. O livro revela que Deus tem um plano, cujo
desfecho é a vitória de Cristo. Podemos não saber o que é a besta, mas
sabemos que ela será vencida pelo poder de Deus. Esta revelação está
clara e evidente no Apocalipse.
DADOS GERAIS
Autor – O apóstolo João - 1.1,4,9-11;
Destinatários - As 7 igrejas da Ásia (em geral, fundadas por
Paulo).
Data – 95 ou 96 d.C.
Local - Patmos - ilha vulcânica, rochosa e estéril, localizada a
56 km da costa da Ásia Menor (Turquia). Para lá eram enviados os
prisioneiros na época do imperador romano Domiciano (81 a 96). Outra
hipótese defendida por alguns é a de que João tenha estado lá em algum
momento do governo de Nero (54-68).
Idioma - Grego (Ap.1.8; 21.6; 22.13).
Tema - Conflito entre o bem e o mal. A vitória de Cristo e a
implantação do seu Reino.
Versículo-chave - Ap.1.7.
Versículo-esboço – Ap.1.19.
Características particulares - Único livro bíblico com bênção e
maldição relacionadas ao seu uso (1.3 e 22.18-19).
Classificação - livro profético. (único do NT embora haja blocos
proféticos em outros livros como em Mt.24, Mc.13, Lc.21, etc.).
Personagem central - O Cordeiro.
Destaques:
Verbo vencer (Ap. 2 e 3; 12.11; 15.2; 17.4; 21.7);
Testemunho (Ap.1.2,9; 6.9; 12.11,17; 19.10; 20.4; 22.18,20).
Verbo vir (referente à vinda de Cristo) (Ap. 1.4,7,8; 2.5,16; 3.3,11;
4.8; 22.20).
GÊNESIS X APOCALIPSE
Existe um paralelo evidente entre Gênesis e Apocalipse, conforme se
observa pelos itens a seguir:
GÊNESIS
|
APOCALIPSE
|
Início |
Fim |
Criação da terra |
Nova terra |
Criação do céu |
Novo céu |
Criação do sol |
A Nova Jerusalém não precisa do
sol |
Vitória de Satanás |
Derrota de Satanás |
Adão |
Cristo |
Eva |
Igreja (noiva) |
Entrada do pecado |
Fim do pecado |
Maldição |
Fim da maldição |
Bloqueado caminho à árvore da
vida. |
Acesso à árvore da vida. |
CIRCUNSTÂNCIAS E OBJETIVO
Na época em que o Apocalipse foi escrito, a igreja estava sofrendo muito
por causa da perseguição do Império Romano. João estava preso em Patmos
e todos os outros apóstolos do primeiro grupo haviam morrido. Seria
natural que muitos começassem a questionar se aquele não seria o fim do
cristianismo. Será que a igreja resistiria àquela fúria das forças do
mal?
O livro de João vem mostrar o futuro: o castigo dos ímpios, a volta de
Cristo, seu triunfo juntamente com a igreja e o estabelecimento do Reino
de Deus. O Império Romano não prevaleceria contra os desígnios divinos.
A LINGUAGEM SIMBÓLICA
A linguagem direta tem suas limitações. A transmissão de uma mensagem
complexa pode exigir uma infinidade de palavras e ainda assim ficar
obscura. Alguns fenômenos, experiências e elementos naturais não podem
sequer ser explicados de modo compreensível. Como podemos explicar a um
cego de nascença o que seja cor? Qualquer explicação, por mais correta e
científica que seja, não lhe dará nenhuma idéia a respeito do assunto.
Como explicar um sabor, um cheiro ou um som? Nenhuma informação
substituirá a experiência. As palavras serão inúteis. Nesses momentos de
dificuldade, sempre procuramos um elemento de comparação. Buscamos algo
que já seja do conhecimento do ouvinte e usamos para dar uma idéia a
respeito do que queremos dizer sem ter encontrado palavras adequadas.
Se temos esse problema em relação a elementos naturais, o que dizer dos
espirituais, cuja essência nem sabemos definir? O espírito é uma
realidade bíblica. Contudo, sua definição ou identificação de
"substância" é algo fora do nosso alcance. O que dizer então de Deus, da
trindade, do céu e das realidades celestiais? Por isso, a bíblia usa
tanto a linguagem simbólica. Por outro lado, como se diz, "uma imagem
vale mais que mil palavras". Então, até mesmo lições relativamente
simples são transmitidas através de figuras, propiciando assim um
recurso poderoso que leva a mensagem de forma concentrada, fixando-a na
mente do receptor.
Por exemplo, quando Jesus disse que era o "pão da vida" (Jo.6.35), ele
buscou um elemento do cotidiano dos seus ouvintes para mostrar que ele
vinha suprir a necessidade espiritual do homem. Quando a bíblia fala em
"reino de Deus", está buscando na monarquia, sistema de governo comum
naquela época, uma série de princípios existentes na relação rei-súdito
que deveriam existir na nossa relação com Deus. A linguagem simbólica
traz muito conteúdo em poucas palavras. Assim, se usamos o leão como
símbolo, logo nos vem a mente sua ferocidade, sua coragem, sua força,
sua fome, sua beleza, sua "majestade", etc. Se falamos em cordeiro,
estamos destacando sua cor e sua índole como símbolos de pureza,
inocência, docilidade, submissão, etc.
Todos nós estamos bastante acostumados à linguagem simbólica. Utilizamos
diariamente tais recursos para enriquecer nossa fala. Estamos sempre
fazendo comparações implícitas ou explícitas de modo automático.
Os escritos apocalípticos têm ainda um motivo a mais para usar a
linguagem simbólica: era a necessidade de criptografar a mensagem, de
modo que os inimigos nada compreendessem a respeito da mesma. Só os
destinatários poderiam decifrá-la.
QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO - TEXTO
SIMBÓLICO OU LITERAL?
Este é um dos maiores dilemas que envolvem o estudo bíblico. O que é
literal e o que é simbólico? Encontramos ambos os casos dentro das
Escrituras. Então o problema se torna maior: como discernir o literal do
simbólico? Tal tarefa nem sempre é fácil. Muitas vezes é difícil e, em
algumas situações, parece impossível, a não ser que tenhamos uma
iluminação divina.
A história de Adão e Eva é literal ou simbólica? Tais personagens são
reais ou fictícios? O profeta Jonas foi mesmo engolido por um peixe ou
trata-se de uma parábola? Entendemos como literais ambos os casos, uma
vez que o próprio Jesus citou a história de Jonas como fato e Paulo
citou Adão e Eva da mesma forma. Contudo, isso não convence àqueles que
vêem toda a bíblia como algo figurativo. Se todo o conteúdo bíblico for
simbólico, então anula-se o seu aspecto concreto. A bíblia seria então
comparável a qualquer obra de ficção e o cristianismo seria lendário.
Por outro lado, se todo o seu conteúdo for considerado literal, então
muitas passagens se tornarão inexplicáveis ou absurdas. Por exemplo:
"Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna." (João
6.54). Logicamente, Jesus estava utilizando linguagem simbólica. Muitos
dos seus ouvintes o interpretaram literalmente e o resultado foi o
escândalo (João 6.52). Da mesma forma, quando Jesus disse que Nicodemos
precisava nascer de novo, aquele doutor da lei tomou suas palavras de
modo literal. O mesmo entendimento foi aplicado sobre "derrubar o templo
e reconstrui-lo em três dias". Precisamos de discernimento para não
cairmos no mesmo erro.
Muitas vezes, é a falta de fé que faz com que algumas pessoas considerem
como simbólico um texto literal. Por exemplo, a ressurreição de Cristo
pode ser tão inacreditável para alguns, que podem acabar considerando-a
um símbolo.
Encontramos na bíblia diversas situações que envolvem o literalismo e o
simbolismo:
Texto literal
É aquele que
se refere a fatos. São histórias ou profecias. Se desconsiderarmos seu
caráter literal, estaremos anulando as palavras de Deus. Por exemplo, a
crucificação de Jesus está relatada em um texto literal (Mt.27).
Texto simbólico
É aquele que utiliza linguagem figurada. Por exemplo, a parábola do
filho pródigo (Lc.15).
Termo literal e simbólico
alternadamente
Uma palavra pode ser usada literalmente em uma passagem bíblica e como
símbolo em outra. Por exemplo, as estrelas no Salmo 8.3 são literais. Em
Apocalipse 1.20, as estrelas são simbólicas, representam anjos. Em
Apocalipse 9.1, a estrela é simbólica e parece representar uma pessoa ou
um anjo. Em Apocalipse 8.10-12, a estrela pode ser simbólica ou literal.
Nesse caso, não podemos afirmar com certeza. Vemos, portanto, que uma
palavra pode ser usada de várias formas na bíblia. Isso mostra que não
podemos fazer uma regra e achar que toda estrela na bíblia seja um
símbolo.
Texto literal e simbólico
simultaneamente
A história de Abraão é literal. O povo de Israel está aí para comprovar
isso. Aquele episódio de Abraão levando Isaque para ser sacrificado é
literal. Foi um fato histórico. Mas, ao mesmo tempo, usando de alegoria,
Abraão pode representar Deus, Isaque pode ser visto como um símbolo de
Jesus e o sacrifício pode representar a crucificação. Assim, um texto
literal pode ter um aplicação simbólica. Desse modo podemos ver inúmeros
fatos no Velho Testamento. É possível, numa visão simbólica,
extrair-lhes as lições sem negar-lhes o aspecto literal.
O batismo e a ceia mencionados na bíblia são literais e ao mesmo tempo
simbólicos. São fatos ocorridos mas sempre representando uma realidade
espiritual. O mesmo acontece com a ceia do Senhor.
Símbolo com mais de um sentido alternadamente
Alguns termos, quando usados como símbolos, podem ter um sentido em
um texto e sentido diferente ou até contrário em outra passagem. Por
exemplo, o leão representa Cristo em um texto (Ap.5.5) e Satanás em
outro (I Pd.5.8). A "estrela da manhã" representa Cristo em um texto
(Ap.22.16) e o Diabo em outro (Is.14.12). Não temos nisso nenhuma
confusão. Um símbolo é usado na bíblia como um recurso didático e não de
forma mística, como se aquele animal estivesse "consagrado" para
representar sempre determinada pessoa. Não podemos, portanto, fazer uma
regra. Cada texto pode apresentar uma situação diferente. Existem porém,
elementos na literatura ou na tradição judaica que nos permitem enxergar
alguns padrões de simbologia, conforme veremos na seqüência.
O SIMBOLISMO NO APOCALIPSE
João viu realidades espirituais indescritíveis. Notamos seu
esforço para explicar o que estava vendo, ouvindo e sentindo. Ele faz
diversas comparações na tentativa de transmitir aos leitores suas
impressões. Assim, os termos "como", "semelhante" e o verbo "parecer"
são utilizados para dar uma idéia das extraordinárias visões do autor.
Em outros momentos ele não faz comparações explícitas mas usa as figuras
de forma direta, fazendo comparações implícitas.
Algumas ocorrências de "como" -
1.10,14,15; 2.18,27; 4.1,6,7; 6.1,6,12,13.
Algumas ocorrências de "semelhante" - 1.13; 2.18; 4.3,6,7.
Verbo "parecer" - 9.19.
Os símbolos usados pelo autor eram bem familiares para os seus
destinatários. Livros selados, trombetas, carros puxados por cavalos,
letras gregas, tudo isso era do conhecimento das pessoas que receberiam
o Apocalipse. Ao lermos, precisamos saber o que cada coisa significa e
qual era o seu sentido naquela época. Talvez não consigamos isso para
todos os itens envolvidos, mas este é o caminho a ser trilhado pelo
intérprete.
Quando pensamos em livros, logo imaginamos blocos de páginas de papel
envolvidas por capas protetoras. Os livros mencionados em Apocalipse,
porém, eram rolos de pergaminho, peles de animais. Eram livros selados.
Quando pensamos em selo, logo imaginamos pequenos adesivos utilizados
pelos correios. Porém, os selos do apocalipse são lacres, a exemplo
daqueles que os reis usavam para fechar suas correspondências, de modo
que as mesmas não pudessem ser violadas no meio do caminho. O selo tinha
a marca do anel do rei. Portanto, se alguém o quebrasse, não poderia
fazer outro igual para substituí-lo.
Estes são apenas alguns exemplos para mostrar que a interpretação do
Apocalipse, como também de outras passagens bíblicas, depende muito do
conhecimento sobre a antigüidade, principalmente do que se refere ao
povo judeu, sua história, seus costumes e tradições. Sem esse
conhecimento, sempre correremos o risco das interpretações anacrônicas.
Não podemos interpretar o texto bíblico apenas com o sentido atual das
palavras ou com base no gosto ou na opinião pessoal. A hermenêutica
agradece.
O simbolismo do Apocalipse utiliza como figuras: fenômenos naturais,
cores, minerais (pedras preciosas), animais, relações humanas e até
nomes significativos da história judaica como Jezabel e Balaão.
Fenômenos ou elementos naturais e seus significados
ELEMENTO |
SIGNIFICADO |
OBSERVAÇÃO |
Ar |
Vida |
É nossa necessidade mais
urgente |
Tempestade (raios, trovões,
relâmpagos, saraiva) |
Perturbações na vida |
|
Fogo |
Purificação ou destruição |
Pedras preciosas |
Algumas vezes representa
pessoas. |
|
Mar |
Insegurança, perigo, algo
sinistro. |
oposto da terra firme.
Ensino mundano |
Cores e seus significados
COR
|
SIGNIFICADO |
OBSERVAÇÃO |
Preto |
Luto, sofrimento |
Vermelho (sangue) |
Morte ou redenção |
relacionado a Cristo às vezes |
Vermelho
(púrpura) |
Realeza |
roupa dos reis |
Amarelo pálido |
Fome |
Amarelo ouro |
Santidade de Deus |
Obs. elementos do tabernáculo |
Verde |
Esperança |
Branco |
Pureza, justiça |
Trono, vestes, cabelos, etc. |
NUMEROLOGIA
A numerologia tem sido bastante
valorizada atualmente devido à onda crescente de misticismo que envolve
nossa sociedade. Os números têm sido considerados elementos de sorte e
azar, e, por meio deles, muitos adivinhadores tentam prever o futuro das
pessoas. Alguns povos utilizaram as próprias letras do alfabeto como
algarismos, atribuindo-lhes valor numérico. Assim, um nome pode ser
transformado em números e ter seu valor totalizado. Isso ocorreu, por
exemplo, com algumas letras do alfabeto romano e também com o hebraico.
O fato de se obter um valor para um nome não nos diz nada, a não ser que
os números representem algum valor moral ou espiritual, uma bênção ou
uma maldição.
A tradição judaica relaciona alguns
números a determinados conceitos religiosos ou cósmicos:
NÚMERO |
SIGNIFICADO |
SENTIDO REFORÇADO |
1 |
Unidade |
|
2 |
Fortaleza, confirmação |
|
3 |
Divindade |
|
4 |
Mundo físico |
|
5 |
Perfeição humana |
|
6 |
Homem, falha humana |
666 |
7 |
Perfeição, plenitude |
|
40 |
Provação |
|
70 |
Sagrado |
|
12 |
Religião organizada. |
24, 144 mil |
1000 |
Grande quantidade |
|
A bíblia utiliza muito o simbolismo numérico. O livro de Apocalipse usa
tal recurso de forma intensa, principalmente o número 7. Temos 7
igrejas, 7 candeeiros, 7 selos, 7 anjos, 7 trombetas, 7 taças, 7
espíritos, 7 estrelas, etc.
ALGUNS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
Para entender um livro, precisamos lê-lo por completo. Assim,
teremos uma visão geral do mesmo. Perceberemos a intenção do autor e a
sua mensagem geral. Caso contrário, se lermos um verso aqui e outro lá
de modo desordenado, terminaremos com uma coleção de retalhos
desconexos. Lendo todo o livro, vamos descobrir que ele é
auto-explicativo em alguns pontos, como se vê em Apocalipse 1.20.
Podemos ler o capítulo 12, verso 5, onde o autor menciona o "filho
varão", aquele que "regerá as nações com vara de ferro". A comparação
com 19.13 a 16 nos fará compreender que aquele que "regerá as nações com
vara de ferro" chama-se "Verbo de Deus", "Rei dos reis" e "Senhor dos
Senhores". Logo, o próprio texto já nos mostrou quem é o "filho varão":
o próprio Senhor Jesus. Tal conclusão também se utiliza do
conhecimento geral que temos da bíblia. O Salmo 2 chama de "Filho"
aquele que "regerá as nações com vara de ferro". O livro de Hebreus, no
capítulo 1, nos informa que esse "Filho" é o Senhor Jesus. Além disso, o
evangelho de João (1) nos diz que Cristo é o Verbo que se fez carne.
Fizemos então um rastreamento de várias expressões que nos possibilitam
uma interpretação inequívoca sobre o "filho varão" de
Apocalipse 12.
Outro exemplo: que dragão será aquele mencionado em Apocalipse 12.3? Se
lermos até o versículo 9, teremos a resposta. No capítulo 20, verso 2, a
explicação é repetida. O próprio texto diz que o dragão é o Diabo,
também conhecido como "antiga serpente". Que serpente é essa? Aquela de
Gênesis 3. Observa-se então que existe uma "linguagem bíblica" que
muitas vezes permite que o texto de um livro possa ser interpretado por
outro livro bíblico.
Quem é o Cordeiro de Apocalipse 5? Não existe nenhum mistério sobre tal
figura, uma vez que João Batista apresentou Jesus como "o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo" (João 1.29), sendo ele o definitivo
sacrifício tantas vezes representado pelos cordeiros mortos durante as
páscoas realizadas desde a saída de Israel do Egito (Êx.12).
O mesmo Jesus é chamado "Leão da Tribo de Judá" (Ap.5.5). A origem de
tal expressão encontra-se em Gênesis 49, quando Jacó, próximo da morte,
abençoou cada um dos seus filhos. Ao falar de Judá, Jacó profetizou
sobre a vinda do Messias (Gn.49.8-12).
É conclusivo também que, se alguém não conhece a bíblia de modo geral,
não deve se arriscar no terreno das interpretações apocalípticas.
Precisa começar por Gênesis.
Outros exemplos:
A ceifa – Compare Ap.14.16-20 e Mt.13.39-43.
Muitas águas – Ap.17.1 e 17.15
Noiva – Ap.19.7; 21.9-10; 22.17 e Ef.5.25-27.
O fundamento da Nova Jerusalém – igreja - Ap.21.14 e Ef.2.20-21.
PRINCIPAIS CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO
DO APOCALIPSE
1 – Pretérita.
Afirma que todo o apocalipse já se cumpriu. Seus defensores vêem o
Império Romano como a representação dos inimigos descritos no livro. A
queda do Império teria sido então o ápice do juízo divino profetizado
por João. A destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C., também é vinculada
ao Apocalipse por aqueles que localizam sua escrita durante o período de
Nero (54-68 d.C.).
2 – Futurista.
Os futuristas projetam todo o cumprimento do Apocalipse para os últimos
dos últimos dias, às vésperas da consumação dos séculos. Afirmam que
nada se cumpriu nem está se cumprindo, mas tudo se cumprirá
repentinamente no futuro e em um curto espaço de tempo. Esta é a mais
escatológica das interpretações, no sentido mais extremo da palavra.
3 – Histórica.
Essa corrente defende a tese de que o Apocalipse vem se cumprindo desde
os dias de João até o fim dos séculos. São muitos os que concordam com
essa posição. Entretanto, surgem muitas dificuldades e divergências
quando se tenta uma identificação entre os fatos ou personagens
históricos e os relatos apocalípticos.
4 – Simbólica, ou espiritual.
Os adeptos dessa visão se abstêm de fazer ligações entre as profecias e
os fatos. Procuram apenas extrair do Apocalipse as lições e os
princípios morais ou espirituais ali contidos.
Não devemos tomar uma postura extremista nessa questão, mas buscar uma
visão equilibrada, que pode levar em conta todas as quatro correntes de
interpretação. Cremos em um cumprimento histórico que,
automaticamente, engloba a visão pretérita e a futurista.
Por exemplo, as cartas às 7 igrejas se referiam a problemas existentes
nos dias de João. Está cumprido. Entretanto, os princípios
espirituais ali presentes são perfeitamente aplicáveis aos nossos
dias. Pela sua infinita sabedoria, Deus nos deixou uma Palavra que não
perde sua validade.
Devemos nos lembrar que um relato sobre fatos ocorridos nos dias de João
pode também ser uma profecia para outra época. Por exemplo, quando
escreveu o Salmo 22, o autor estava falando de suas próprias
experiências e, ao mesmo tempo, estava profetizando sobre os sofrimentos
de Cristo. Vistas sob este ângulo, várias profecias apocalípticas podem
ter se cumprido na queda do Império Romano e terem ainda outro
cumprimento mais amplo nos últimos dias. A profecia de Jesus em Mateus
24 parece estar ligada à destruição de Jerusalém e também aos últimos
dias. "Os que estiverem na Judéia fujam para os montes... Não passará
esta geração sem que todas estas coisas aconteçam." (Mt.24,16,34).
ESBOÇO DO APOCALIPSE
1. Introdução e saudações - 1.1-8
2. Visão de Jesus glorificado - 1.9-20
3. Cartas às 7 igrejas - 2.1 a 3.22
4. Visão do trono no céu - 4.1-11
5. O livro selado e o cordeiro - 5.1-14.
6. Abertura dos 6 primeiros selos - 6.1-17.
7. Os 144 mil selados - 7.1-8.
8. Visão dos santos na glória - 7.9-17
9. Abertura do sétimo selo. As quatro primeiras trombetas - 8.1-13.
10. A quinta e a sexta trombetas - 9.1-21.
11. O anjo e o livrinho - 10.1-11.
12. As duas testemunhas - 11.1-14.
13. A sétima trombeta - 11.15-19.
14. A mulher e o dragão - 12.1-18.
15. A besta que subiu do mar - 13.1-10.
16. A besta que subiu da terra - 13.11-18.
17. O cordeiro e os remidos no monte Sião - 14.1-5.
18. Os 3 anjos e suas mensagens - 14.6-13.
19. A ceifa sobre a terra - 14.14-20.
20. As 7 taças - 15.1 a 16.21.
21. A grande Babilônia - 17.1-18
22. A queda da Babilônia - 18.1-24.
23. As bodas do Cordeiro - 19.1-10.
24. O cavaleiro do cavalo branco - 19.11-21.
25. O milênio - 20.1-6.
26. A derrota de Satanás - 20.7-10.
27. Juízo Final - 20.11-15.
28. Novo céu e nova terra - 21.1-8.
29. A Nova Jerusalém - 21.9 a 22.5.
30. Encerramento e saudação final - 22.6-21.
COMENTÁRIO GERAL
APRESENTAÇÃO DE JESUS NO APOCALIPSE
1.5 - Fiel testemunha, primogênito dentre os mortos, soberano dos reis
da terra.
1.13 - Semelhante a filho de homem.
2.18 - Filho de Deus.
3.14 - Amém, testemunha fiel e verdadeira, princípio da criação de Deus.
5.5 - Leão da Tribo de Judá, Raiz de Davi.
5.6 - Cordeiro
6.1 - Cordeiro (e em muitos outros versos).
12.5 - Filho varão
17.14 - Cordeiro, Senhor dos senhores, Rei dos reis.
19.11 - Fiel e verdadeiro.
19.13 - Verbo de Deus.
19.16 - Rei dos Reis, Senhor dos senhores.
22.16 - Raiz, geração de Davi, brilhante estrela da manhã.
CARTAS ÀS 7 IGREJAS
Esta é a parte mais simples e, consequentemente, a mais citada do
Apocalipse. O livro foi enviado às 7 igrejas da Ásia e para cada uma
delas havia uma mensagem específica. As cartas seguem quase sempre este
esboço:
● Destinatário: o anjo da igreja
(seu líder).
● Autor: o Senhor Jesus.
● Conhecimento do Senhor sobre a
igreja.
● Elogio em relação às qualidades da
igreja..
● Repreensão contra os erros da
igreja.
● Aviso sobre a vinda do Senhor e o
juízo divino.
● Conselho para solução dos
problemas mencionados.
● Promessa aos vencedores.
A igreja de Filadélfia não foi
repreendida. A de Laodicéia não recebeu nenhum elogio. Curiosamente, um
sínodo realizado em Laodicéia no século IV negou reconhecimento ao
Apocalipse como livro canônico [Champlin].
Em algumas das cartas, percebemos uma relação direta entre a
apresentação que o Senhor faz de si mesmo e o conteúdo da mensagem.
Éfeso Candeeiro em 2.1 e 2.5
Esmirna Morte e vida em 2.8 e 2.10-11
Pérgamo Espada em 2.12 e 2.16
Filadélfia Porta aberta ou fechada em 3.7 e 3.8.
Nas outras cartas, essa relação não está tão clara. Talvez, tenhamos
perdido um pouco das características originais quando o texto foi
traduzido.
Entre as teorias existentes sobre as 7 igrejas destacam-se as seguintes:
Teoria 1 – As 7 igrejas representam a história judaica. Observe a
citação de Balaão, Jezabel, sinagoga, etc. Não nos parece razoável essa
suposição.
Teoria 2 – As 7 igrejas representam a história eclesiástica. Cada
igreja representaria um período da história da igreja desde o seu
nascimento até a vinda de Cristo. Alguns defensores dessa idéia chegam a
dividir a história entre as igrejas. Uma das divisões sugeridas é a
seguinte: Éfeso (até o ano 100 d.C.); Esmirna (100-316); Pérgamo
(316-500); Tiatira (500-1500); Sardes (1500-1700); Filadélfia
(1700-1900); Laodicéia (1900 - fim). Tal possibilidade é bastante
interessante, mas não encontramos fundamentos suficientes para
comprová-la. Por outro lado, a colocação de datas é bastante temerária.
Por mais razoável que possa ser tal interpretação, não podemos perder de
vista o fato de que a mensagem de Deus é para nós hoje.
Teoria 3 – As 7 igrejas são apenas aquelas da Ásia, às quais o
Apocalipse foi endereçado. Essa posição é literal e perfeita em sua
afirmação. Contudo, se a aplicabilidade das cartas fosse restrita
àquelas igrejas, então não haveria motivo para que tais mensagens
chegassem às nossas mãos. Enfim, todo o livro de Apocalipse nos seria
estranho e inútil, pois foi originalmente destinado às 7 igrejas da
Ásia. O entendimento literário está exato, mas não podemos desconsiderar
o peso simbólico do texto. O próprio número 7, significando perfeição,
totalidade ou plenitude, faz com que as 7 igrejas representem a
totalidade da igreja de Cristo em todos os tempos e em todos os lugares.
A ADORAÇÃO NO APOCALIPSE
A adoração é elemento de grande destaque no Apocalipse. O tema central é
o combate entre o bem e o mal. Os seres humanos ou celestiais demonstram
seu posicionamento nesse conflito através da adoração que prestam. Um
dos grandes desejos de Satanás é conseguir para si a adoração que é
devida a Deus (Mt.4.9).
TEXTO
|
ADORAÇÃO A
|
Ap.4.10 |
Deus |
Ap.5.12-14
|
Deus e o Cordeiro
|
Ap.9.20 |
Demônios e ídolos
|
Ap.11.1,16
|
Deus |
Ap.13.4 |
O dragão e a besta.
|
Ap.13.12 |
A besta |
Ap.13.15 |
A imagem da besta
|
Ap.14.2 |
Deus |
Ap.14.9,11
|
A besta e sua imagem.
|
Ap.16.2 |
A imagem da besta
|
Ap.19.4 |
Deus |
Ap.19.10 |
Um anjo (recusada) e
Deus |
Ap.19.20 |
A imagem da besta
|
Ap.20.4 |
A besta e sua imagem
|
Ap.22.8-9 |
Um anjo (recusada) e
Deus |
Em Apocalipse 8.1 verificamos que houve silêncio no céu durante meia
hora. Isso nos faz deduzir que existe um som de louvor e adoração
constante no céu. João viu os 24 anciãos e os seres viventes que
adoravam a Deus e ao Cordeiro. As impressionantes profecias do livro
estão intercaladas com manifestações de adoração e cânticos. Em sua
visão do céu, João viu um santuário e peças que nos lembram o
tabernáculo e o templo do Velho Testamento. Existe no céu um lugar de
culto utilizado pelas hostes celestiais. Ali também adoraremos a Deus e
ao Cordeiro pelos séculos dos séculos.
AMOR E JUÍZO
João, o discípulo amado, fez do amor um de seus principais temas, seja
no seu evangelho ou em suas epístolas. Em Apocalipse, porém, o amor de
Jesus e da igreja é mencionado apenas até o capítulo 3. Ao falar à
igreja de Filadélfia, Jesus declara: "Eu te amo." (Ap.3.9). Filadélfia
significa "amor fraternal".
A partir do capítulo 4, o tom da mensagem muda completamente. Não mais
se menciona o amor de Deus mas apenas sua justiça. A santidade divina
foi afrontada pelo pecado. Sua ira manifesta sua justiça através de
guerras, pestes e catástrofes naturais.
Sabemos, porém, que o amor de Deus é eterno e sua manifestação ocorre
através das bodas do Cordeiro e da recepção dos salvos na glória.
VISÃO GERAL -
uma hipótese de interpretação
A experiência pessoal de João pode representar a experiência da
igreja. No início do livro ele se encontra vivendo sua própria
tribulação, preso e exilado. Então o Senhor Jesus vem até ele. No
capítulo 4, João é arrebatado ao céu e passa a ver o derramamento da ira
divina sobre a terra. Assim, a vinda de Cristo proveria socorro à igreja
atribulada, levando-a consigo no arrebatamento. Em seguida, a
terra ficaria submersa na Grande Tribulação. Tal interpretação é
frágil em sua consistência pois o texto bíblico não diz que João possa
estar representando a igreja. Os que defendem o paralelo na questão do
arrebatamento de João, chamam a atenção para o fato de que a partir do
capítulo 4 a igreja não é mais mencionada com este nome dentro do ciclo
de visões do Apocalipse. Supostamente, teria sido encerrado seu período
histórico terreno representado pelas 7 cartas. Os fatos apresentados em
relação à igreja são bíblicos. A dificuldade está em localizá-los em
determinados símbolos e estabelecer-lhes a ordem de ocorrência.
De acordo com esta hipótese, que é muito aceita e essencialmente
futurista, a abertura do primeiro selo seria o início da Grande
Tribulação (Ap.7.14), que incluiria os selos, as trombetas, as taças e
todos os flagelos destinados aos ímpios e às forças do mal. No meio da
cena encontram-se o dragão e as duas bestas tentando usurpar a glória
que é devida ao Cordeiro. O dragão é Satanás. As duas bestas são o
Anticristo e o Falso Profeta.
Durante a Grande Tribulação muitos seriam salvos e morreriam por sua fé.
Enquanto isso, estaria acontecendo no céu as bodas do Cordeiro.
Ao fim desse período, Cristo desceria do céu para aniquilar a besta e o
falso profeta. O dragão seria preso por mil anos e nesse período Cristo
reinaria com todos os santos sobre a terra. Estaria encerrada a Grande
Tribulação e inaugurado o milênio, ao fim do qual, Satanás seria
solto e tentaria novamente uma reação contra Cristo. Entretanto, seus
agentes seriam consumidos antes de iniciarem a batalha.
Na seqüência ocorre o juízo final, que será o julgamento de todos
os homens. Aqueles cujos nomes não se encontram no livro da vida serão
lançados no lago de fogo, onde serão atormentados eternamente. Em
seguida, João vê a Nova Jerusalém. Essa passagem é vista como uma
descrição do estado eterno dos salvos. A cidade seria o lugar
onde viveremos para sempre com Cristo.
QUESTIONAMENTOS E OBSERVAÇÕES
Algumas dessas afirmações são amplamente aceitas. Tal arranjo
escatológico pode parecer bastante apegado ao texto. Contudo, observamos
que essa interpretação contém alguns pontos questionáveis e incertos.
Outros parecem perfeitos.
A primeira dificuldade é entender o arrebatamento de João como
arrebatamento da igreja, conforme já mencionamos. O arrebatamento de
João se deu antes de se tocarem as 7 trombetas. Paulo, escrevendo aos
Tessalonicenses, disse que o arrebatamento da igreja aconteceria quando
a última trombeta fosse tocada. Disse também que a ressurreição dos
santos acontecerá antes do arrebatamento. Encaixando isso no quadro
apocalíptico, teríamos o arrebatamento da igreja junto com a
ressurreição no capítulo 20. Sendo assim, a igreja teria participado ou,
pelo menos, presenciado a Grande Tribulação. Em Mateus 24, Jesus
menciona a Grande Tribulação (v.21) antes do fato que parece ser o
arrebatamento (v.31). No meio da tribulação estarão os escolhidos
(v.22). Estes podem indicar toda a igreja, mas alguns comentaristas
dizem que são apenas os que forem salvos durante o período.
Outro problema ocorre em relação à Nova Jerusalém do capítulo 21.
Considerando a hipótese de que o livro apresenta os fatos em ordem
cronológica, então, ao chegarmos ao capítulo 21, já passamos pelo
milênio e pelo juízo final. A Nova Jerusalém descreve então o estado
eterno dos salvos. Contudo, o texto cita ainda nações que vivem fora da
cidade santa, às quais se destinam as folhas da árvore da vida, afim de
que sejam curadas. Esses detalhes parecem ameaçar o quadro escatológico
descrito. Se os ímpios já estão no lago de fogo e os salvos estão na
Nova Jerusalém, que nações são essas que o autor cita? Uma solução
proposta é que o relato sobre a Nova Jerusalém se refira ao milênio e
não ao estado eterno. Sendo assim, o texto não se encontraria em ordem
cronológica.
Observamos que o Apocalipse não contém as expressões: "juízo final",
"Anticristo", "milênio" ou "arrebatamento". Então, de onde tiramos tal
vocabulário? Das interpretações correntes, que, de tanto serem faladas,
já se confundem com o próprio texto bíblico. Sabemos que a idéia de
"milênio" e "juízo final" encontra-se em outras palavras no capítulo 20.
O verbo "arrebatar" é encontrado em Ap.1.10; 4.2; 12.5,15, podendo ser
substituído dependendo da versão utilizada. Trata-se dos arrebatamentos
de João, do Filho Varão, e uma tentativa de Satanás no sentido de
arrebatar a mulher. Outra situação semelhante, mas com verbo diferente,
trata da subida das duas testemunhas ao céu. Não obstante, cremos no
arrebatamento da igreja, o qual ser encontra de forma mais clara em I
Tessalonicenses 4.17. Sobre o Anticristo falaremos de modo mais
específico.
Todo esse questionamento, feito por comentaristas e teólogos, cria uma
série de correntes de interpretação designadas como: milenistas,
pré-milenistas, amilenistas, pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas,
etc.
O ANTICRISTO E O FALSO PROFETA
O único autor bíblico que usa a palavra "anticristo" é João, mas não no
Apocalipse. A citação é nas epístolas. Tal personagem escatológico é
normalmente entendido como sendo o "iníquo" ou "homem do pecado" ou
"filho da perdição" mencionado por Paulo (II Tss.2.3,8). Da mesma forma,
a besta que sobe do mar, em Ap.13, é identificada pelos intérpretes como
o Anticristo. Embora o texto não diga isso, o modo de agir da besta
parece dize-lo. Sua ação é sobretudo anti-cristã. A besta quer para si a
adoração que é devida ao Cordeiro. Então, encaixa-se no perfil traçado
por Paulo.
Quem é o Anticristo? Alguns dizem que é um sistema político, mas a
maioria dos estudiosos o vêem com sendo um homem. Isto é bastante
coerente com as citadas palavras de Paulo. O texto de II Tessalonicenses
não é essencialmente simbólico. Então, quando o apóstolo diz que é um
homem, devemos entender literalmente. Afinal, aquela igreja já estava
com muitos problemas de entendimento escatológico e Paulo precisava ser
o mais claro possível.
Se o Anticristo é um homem, quem é ele? Não nos arriscaremos a responder
tal pergunta, mas muitos já se arriscaram no decorrer da história.
Sempre há quem queira "eleger" um Anticristo. Quando João escreveu, ele
poderia estar se referindo a Nero ou a Domiciano, sem prejuízo do
sentido escatológico da profecia. O culto ao imperador era uma prática
oficial no Império Romano. Domiciano, aquele que provavelmente mandou
João para Patmos, considerando-se um deus, mandou que imagens suas
fossem espalhadas pelo Império. Os que se recusavam a adorá-las eram
condenados à morte. Portanto, aquele imperador se encaixou no perfil do
Anticristo.
O próprio João disse que muitos "anticristos" tinham se levantado (I
João 2.18,22; 4.3; II João 7). Contudo, é bastante aceita a crença numa
personificação do mal através de um Anticristo escatológico, aquele que
estará no mundo no dia da segunda vinda de Cristo (II Tss.2.8). Hitler,
alguns líderes religiosos e outros malfeitores da história foram
apontados como sendo o Anticristo. Porém, Jesus não voltou em suas
épocas e o "cargo" ficou para outra pessoa.
Conquanto não possamos identificar o Anticristo, sabemos contudo as
linhas gerais do seu caráter e atuação. Através das interpretações
mais aceitas, compreende-se que ele poderá ser um líder político de
projeção mundial. O atual fenômeno da globalização seria ideal como
preparação para um governo mundial. Os conflitos internacionais e a fome
seriam solucionados por algum tempo mediante um plano econômico
extraordinário. A besta que sobe do mar (Ap.13.2) receberá o poder do
dragão (Satanás) e em seu nome dominará sobre toda tribo, povo, língua e
nação (13.7). A interpretação desse texto é feita normalmente em relação
com a profecia das setenta semanas de Daniel (9).
Em todas as épocas da história, o poder político teve alguma ligação com
o poder religioso. Os déspotas eram avalizados pelo clero. Assim, o povo
reconhecia o origem divina da autoridade absoluta e permanecia submisso.
Da mesma forma, o Anticristo precisará do Falso profeta, que é a besta
que sobe da terra. O Falso Profeta parece representar o poder religioso
que fará parceria com o Anticristo, talvez numa manifestação ecumênica.
BABILÔNIA X NOVA JERUSALÉM
A Babilônia do Apocalipse parece ser a "sede de governo do Anticristo".
Nos dias de João, era uma referência a Roma (Ap.17.9,18), capital do
Império, lugar onde se encontrava Domiciano, que se fazia passar por
deus.
A Babilônia representa a independência humana em relação a Deus, e isso
significa rebeldia. A origem de Babilônia foi Babel, lugar onde Ninrode,
descendente de Cão, construiu sua cidade, tornou-se célebre, e projetou
uma torre para alcançar o céu por suas próprias forças. Babilônia tem
sua própria organização. Sua política (Ap.17.12) e seu comércio
funcionam muito bem.
O comércio, prática tão comum na vida humana, toma aspectos malignos
quando se comercializa o que não deveria ser vendido. Por exemplo,
podemos mencionar o episódio quando Esaú vendeu seu direito de
primogenitura. Assim, o comércio da grande Babilônia inclui uma
abominável troca de valores. O ápice de tal negociação é expresso
através do comércio de almas humanas (Ap.18.13). A mais clara forma de
comércio de almas é através de uma falsa religião que se pratica apenas
por motivos financeiros.
O que será a Grande Babilônia? Uma hipótese é que a cidade com esse
nome, às margens do Rio Eufrates, hoje reduzida a ruínas, venha a ser
reconstruída e volte a ter projeção mundial. Outra teoria associa a
cidade a uma religião de alcance mundial.
Como religião mundial, alternativa plausível, a Grande Babilônia poderia
ser vista como uma falsa igreja, em contraposição à Nova Jerusalém, que
desce do céu. João viu as duas cidades e seus destinos. A Nova Jerusalém
é a noiva. Babilônia é meretriz. A Grande Babilônia será destruída pelos
juízos divinos, enquanto que a cidade santa será a morada de Deus e do
Cordeiro.
A Nova Jerusalém muitas vezes é tomada de forma literal. É vista como
uma cidade onde os salvos vão morar. Contudo, o texto é carregado de
símbolos, levando a crer que própria cidade é apenas um símbolo da
igreja triunfante. Veja o paralelo.
NOVA JERUSALÉM
|
IGREJA
|
Chamada noiva e esposa do
Cordeiro (Ap.19.7; 21.2,9; 22.17) |
Chamada noiva de Cristo
(Ef.5.25-26). |
Possui 12 fundamentos
(Ap.21.14) |
Fundada sobre os 12 apóstolos (Ef.2.19-21) |
OS PARÊNTESES DO APOCALIPSE
O relato de João parece apresentar uma série de fatos que vão ocorrendo
de modo consecutivo, embora exista uma hipótese de que as várias visões
apocalípticas se refiram aos mesmos fatos históricos. Assim, as 7
trombetas, as 7 taças e os 7 selos seriam diferentes versões dos mesmos
juízos. Uma base para esse tipo de visão está em Gênesis 41, onde
"vacas" e "espigas" eram dois símbolos para um só fato.
De qualquer forma, o texto apresenta uma seqüência e esta parece
interrompida em alguns pontos. João interrompe a narrativa sobre as
catástrofes mundiais para falar sobre o anjo e o livrinho no capítulo
10, as duas testemunhas no capítulo 11, e a mulher e o dragão no
capítulo 12.
- Comer o livrinho significa tomar conhecimento das profecias acerca dos
últimos dias. O livro é doce na boca mas amargo no ventre. A mensagem
apocalíptica fala de esperança e glória, mas também de grande
tribulação.
- As duas testemunhas são objeto de muita polêmica. Eis algumas
interpretações sugeridas: "Moisés e Elias", "Enoque e Elias ". Os fatos
mencionados no capítulo 11 nos fazem lembrar as experiências de Moisés e
Elias narradas no Velho Testamento. Contudo, tais testemunhas serão
mortas. Os melhores candidatos então seriam pessoas que nunca
experimentaram a morte. Logo, são mencionados Enoque e Elias.
Alguns eruditos se recusam a ver as duas testemunhas como dois homens.
Daí surgem outras hipóteses. Seriam elas o Velho e o Novo Testamento?
Tal sugestão não parece razoável. Há quem entenda que as testemunhas
sejam apenas um símbolo da igreja em seu papel de evangelização.
- O dragão do capítulo 12 é Satanás. A mulher representa a nação de
Israel. O Filho Varão é Cristo. O resto da semente parece representar a
igreja.
As menções a Israel no Apocalipse constituem pontos de dúvida. Elas
podem se referir à nação de Israel ou simplesmente à igreja, o "novo
Israel". Assim acontece com os 144 mil eleitos de Deus (Ap.7.4). São 12
mil de cada uma das tribos. Como sabemos, tais números têm valor
simbólico. Portanto, não faz sentido pensarmos que 144 mil seja o número
final dos salvos. Na seqüência do mesmo capítulo, João vê os remidos de
toda tribo, língua, povo e nação, cujo número era incontável (Ap.7.9).
CONCLUSÃO
O Apocalipse trata dos últimos lances da guerra histórica entre o bem e
o mal. Satanás usa suas últimas armas durante o tempo que lhe resta.
Contudo, a vitória divina é inevitável. Em meio a todo esse combate
estão os homens, servindo a um dos lados.
A mensagem apocalíptica é um aviso divino para a humanidade. Não existe
esperança para as forças demoníacas, mas para os homens sim. Ignorar o
Apocalipse seria como rasgar uma notificação judicial sem tê-la lido. O
prazo está se esgotando. Ainda que o mundo dure mais 1000 anos, é o
nosso tempo de vida que determina nossa chance de deixar o mal e
escolher o bem.
O arrependimento é também um tema em destaque no Apocalipse
(2.5,16,21,22; 3.3,19; 9.20,21; 16.9,11). Deus poderia extinguir a raça
humana em um instante. Porém, ele manda seus castigos aos poucos,
esperando que os homens sintam a culpa pelo pecado e se arrependam.
Devemos ouvir a sua voz enquanto temos tempo. Antes que o juízo venha,
existe uma porta aberta para o Reino de Deus através do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo.
"O Espírito e a noiva dizem: Vem. Quem ouve diga: Vem. Quem tem sede,
venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida." (Ap.22.17).