Conseguir benefícios para a
igreja, como a doação de
terrenos para templos; ter
linhas especiais de crédito
bancário; obter concessões
de rádios e TVs; ter
tratamento especial perante
a lei... Esses são apenas
alguns tipos de barganha,
"acertos", acordos e
composições de interesse que
costumam ocorrer nos
bastidores em épocas de
campanhas eleitorais,
envolvendo também políticos
e candidatos evangélicos.
Mas, no que depender da AEvB
- Aliança Evangélica
Brasileira, os candidatos
que costumam ter este tipo
de comportamento não terão o
voto dos fiéis.
Considerando que os
evangélicos são um dos mais
expressivos segmentos da
população (18,9 milhões de
eleitores evangélicos
brasileiros ou 15,4% dos 126
milhões de eleitores,
segundo o Censo 2000) - a
AEvB, reunida em Conferência
com Igrejas, Missões e
Instituições, julgou
indispensável trazer sua
contribuição informativa e
formativa à comunidade
religiosa a ela vinculada,
na intenção de contribuir
para um processo eleitoral
no qual o voto evangélico
não seja manipulado, como
muitas vezes já o foi, mas
usado com consciência e
objetividade, ajudando a
igreja a amadurecer no
exercício da sua cidadania
política.
Eis aqui alguns balizamentos
fundamentais sobre o uso
ético do voto evangélico,
conforme o sumário de
propostas defendidas na
Conferência da AEvB:
I.
O voto é intransferível e
inegociável. Com ele o
cristão expressa sua
consciência como cidadão.
Por isso, o voto precisa
refletir a compreensão que o
cristão tem de seu País,
Estado e Município;
II.
O cristão não deve violar a
sua consciência política.
Ele não deve negar sua
maneira de ver a realidade
social, mesmo que um líder
da igreja tente conduzir o
voto da comunidade noutra
direção;
III. Os pastores
e líderes têm obrigação de
orientar os fiéis sobre como
votar com ética e com
discernimento. No entanto, a
bem de sua credibilidade, o
pastor evitará transformar o
processo de elucidação
política num projeto de
manipulação e indução
político-partidário;
IV.
Os líderes evangélicos devem
ser lúcidos e democráticos.
Portanto, melhor do que
indicar em quem a comunidade
deve votar é organizar
debates multipartidários,
nos quais, simultânea ou
alternadamente,
representantes das correntes
partidárias possam ser
ouvidos sem preconceitos;
V.
A diversidade social,
econômica e ideológica que
caracteriza a igreja
evangélica no Brasil impõe
que não sejam conduzidos
processos de apoio a
candidatos ou partidos
dentro da igreja, sob pena
de constranger os eleitores
(o que é criminoso) e de
dividir a comunidade;
VI.
Nenhum cristão deve se
sentir obrigado a votar em
um candidato pelo simples
fato de ele se confessar
cristão evangélico. Antes
disso, os evangélicos devem
discernir se os candidatos
ditos cristãos são pessoas
lúcidas e comprometidos com
as causas de justiça e da
verdade. E mais: é
fundamental que o candidato
evangélico queira se eleger
para propósitos maiores do
que apenas defender os
interesses imediatos de um
grupo religioso ou de uma
denominação evangélica. É
óbvio que a igreja tem
interesses que passam também
pela dimensão
político-institucional.
Todavia, é mesquinho e
pequeno demais pretender
eleger alguém apenas para
defender interesses
restritos às causas
temporais da igreja. Um
político de fé evangélica
tem que ser, sobretudo, um
evangélico na política e não
apenas um "despachante" de
igrejas. Ao defender os
direitos universais do
homem, a democracia, o
estado leigo, entre outras
conquistas, o cristão estará
defendendo a Igreja.
VII. Os fins não
justificam os meios.
Portanto, o eleitor cristão
não deve jamais aceitar a
desculpa de que um
evangélico político votou de
determinada maneira porque
obteve a promessa de que, em
assim fazendo, conseguiria
alguns benefícios para a
igreja, sejam rádios,
concessões de TV, terrenos
para templos, linhas de
crédito bancário,
propriedades, tratamento
especial perante a lei ou
outros "trocos", ainda que
menores. Conquanto todos
assumamos que nos bastidores
da política haja acordos e
composições de interesse,
não se pode, entretanto,
admitir que tais "acertos"
impliquem na prostituição da
consciência cristã, mesmo
que a "recompensa" seja,
aparentemente, muito boa
para a expansão da causa
evangélica. Jesus Cristo não
aceitou ganhar os "reinos
deste mundo" por quaisquer
meios, Ele preferiu o
caminho da cruz.
VIII. Os votos
para Presidente da República
e para cargos majoritários
devem, sobretudo, basear-se
em programas de governo, e
no conjunto das forças
partidárias por detrás de
tais candidaturas que, no
Brasil, são, em extremo,
determinantes; não em função
de "boatos" do tipo: "O
candidato tal é ateu"; ou:
"O fulano vai fechar as
igrejas"; ou: "O sicrano não
vai dar nada para os
evangélicos"; ou ainda: "O
beltrano é bom porque dará
muito para os evangélicos".
É bom saber que a
Constituição do país não dá
a quem quer que seja o poder
de limitar a liberdade
religiosa de qualquer grupo.
Além disso, é válido
observar que aqueles que
espalham tais boatos, quase
sempre, têm a intenção de
induzir os votos dos
eleitores assustados e
impressionados, na direção
de um candidato com o qual
estejam comprometidos.
IX.
Sempre que um eleitor
evangélico estiver diante de
um impasse do tipo: "o
candidato evangélico é
ótimo, mas seu partido não é
o que eu gosto", é
compreensível que dê um
"voto de confiança" a esse
irmão na fé, desde que ele
tenha as qualificações para
o cargo. Entretanto, é de
bom alvitre considerar que
ninguém atua sozinho, por
melhor que seja o irmão, em
questão, ele dificilmente
transcenderá a agremiação
política de que é membro, ou
as forças políticas que o
apoiem.
X.
Nenhum eleitor evangélico
deve se sentir culpado por
ter opinião política
diferente da de seu pastor
ou líder espiritual. O
pastor deve ser obedecido em
tudo aquilo que ensina sobre
a Palavra de Deus, de acordo
com ela. No entanto, no
âmbito político-partidário,
a opinião do pastor deve ser
ouvida apenas como a palavra
de um cidadão, e não como
uma profecia divina. |