Leitura
Bíblica: Mateus 7.24-29
Introdução:
Jesus era o Mestre de quinta-essência. Ele fornece o padrão de ensino, o
exemplo de perfeição da Pedagogia. Ele era a autoridade e o protótipo
máximos do ensino, ainda que nunca tivesse discutido o assunto. Suas
ações modelaram a disciplina.
Embora se tenha escrito mais sobre Jesus como pessoa do que qualquer
outra figura da História, Seu papel como Mestre tem sido um tanto quanto
minimizado, talvez por causa da reação negativa à imagem de mestre que
caracterizou o liberalismo do século XIX. Herman Harrell Horne nomeia
essa negligência de “uma mina inexplorada”.
No Novo Testamento, mais de quarenta epítetos descrevem a pessoa e obra
de Jesus Cristo. Por exemplo, Ele é Senhor, Messias, Salvador, Filho de
Deus, Filho do homem, etc. Às vezes, é freqüente enfatizar-se um mais
que o outro.
Nos evangelhos, o termo Mestre é uma das designações mais usadas para
identificar Jesus; ocorre quarenta e cinco vezes. Em quatorze ocasiões
Ele é chamado de Rabi. Assim, é óbvio que uma das proeminentes funções
de nosso Senhor durante Seu ministério público foi a de ensinar.
Com freqüência os pesquisadores bíblicos estudam o conteúdo dos
evangelhos, mas tendem a negligenciar a metodologia destes textos
sagrados. Precisamos nos lembrar que o que Jesus disse e o que Ele fez
foram igualmente inspirados por Deus. Em toda cena e circunstância da
vida de Cristo, Ele poderia dizer: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo
8.29).
Este estudo tende a ser sugestivo não exaustivo. É comprometido com a
proposição de que, ao ensinar, na maioria das vezes o processo é maior
que o produto. Por essa razão, o leitor é induzido a usar o material
apresentado como incentivo ao estudo indutivo pessoal adicional. É
projetado para provocar - não paralisar - o pensamento.
Como a dona de casa, o motorista de caminhão, o analista de sistema, o
esteticista ou o médico podem tornar-se mestre, talvez por apenas uma
hora por semana? Trata-se de tarefa hercúlea. Mas todos podemos nos
beneficiar do exemplo do maior Mestre, a quem Nicodemos perceptivamente
chamou de “mestre vindo de Deus” (Jo 3.2).
I. O HOMEM
O Senhor era distintivo como pessoa. Seu nascimento, vida, morte e
ressurreição foram todos sem igual. Esta singularidade também permeia
Sua pedagogia.
1. Jesus era coerente.
O que Jesus disse e fez era uma coisa só. Ele nunca realizou algo que
contradissesse o que Ele ensinou. Esta coerência proporciona o modelo
consistente, porque Ele cumpriu toda a justiça.
O ensino de Jesus é grande somente se o conteúdo do Seu ensinamento se
conforma com a realidade. Um mestre criativo que ensina falsidade não é
um grande mestre. Um mestre medíocre que lida inadequadamente com a
verdade não se torna grande só porque tenta confrontar grandes questões.
Mas um grande mestre que traz perspectivas genuínas acerca da realidade
- ah, há a sementeira para o verdadeiro ensino! Há o ensino de Y’shua!
Se Jesus não fosse quem reivindicava ser, então Ele não era um bom
mestre. Ele teria sido charlatão e enganador. Em Israel, o falso mestre,
bem como o falso profeta, era condenado e não gratificado.
Na teologia protestante clássica somos encorajados a pensar em Jesus
Cristo como possuidor de três ofícios principais. São eles: o Profeta, o
Sacerdote e o Rei. Como Profeta, Jesus é superior a Moisés. Como
Sacerdote, Ele é mais grandioso que Arão. Como Rei, Ele é mais excelente
que Davi.
É hora de fazermos um acréscimo à nossa compreensão dos ofícios de
Jesus. Há um ofício de Cristo que é negligenciado por nós. Ele é também
o Mestre. Y’shua é o Sábio cuja sabedoria ultrapassa Salomão. Jesus é o
Filósofo cuja sabedoria foi antecipada pela imagem da Senhora Sabedoria
de Provérbios 1 a 9. Jesus é o magnífico Rabi, o Mestre de todos os
séculos, que veio para explicar o próprio Deus: “Deus nunca foi visto
por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez
conhecer” (Jo 1.18). O apóstolo Paulo afirma que em Cristo “estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3).
No Seu ensino e estilo de vida Ele une realisticamente o saber e o fazer
(cf. Mt 5.36; 7.24-27). Saber e não fazer é não saber coisa alguma. Para
Jesus, toda a aprendizagem se relaciona com o fazer a vontade de Deus (Jo
7.15-17) e reforçamos o saber pelo processo do fazer.
Como LeBar sucintamente declara:
Jesus Cristo era o Mestre por excelência, porque Ele mesmo encarnava
perfeitamente a verdade. […] Ele entendia perfeitamente Seus discípulos,
e usava métodos perfeitos para mudar as pessoas. Ele próprio era “o
caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6). Ele conhecia todas as pessoas
individualmente e sabia como era a natureza humana e o que havia
genericamente no homem (Jo 2.24,25).
Ronald Allen ressalta a singularidade de Jesus com estas palavras:
Temos a tendência de unir um grande mestre com uma grande instituição.
Jesus não tinha tais ligações.
Temos a tendência de pensar em um grande mestre como aquele que torna as
coisas difíceis menos complexas. Jesus parecia apresentar complexidades
novas mesmo nas coisas simples.
Temos a tendência de esperar que um grande mestre nos ajude a enfrentar
a vida com mais independência. Jesus insistia que a nossa existência
deve ser vivida em completa dependência uns dos outros.
Temos a tendência de associar um grande mestre com a linguagem técnica
do seu campo de estudo. Jesus usava uma linguagem simples e as coisas do
seu dia-a-dia.
Temos a tendência de reunir um grande mestre com seus brilhantes e
eruditos alunos. Os que melhor aprendiam de Jesus eram os pobres, os
solitários, os simples.
Temos a tendência de imaginar um grande mestre no ambiente de uma classe
na escola. A sala de aula de Jesus era uma ladeira que dava para o mar
da Galiléia, um canto de uma sala de estar, um passeio ao longo do
caminho, um pequeno espaço num barquinho.
Hoje, temos a tendência de procurar um mestre que use as ferramentas da
multimídia. Os instrumentos pedagógicos de Jesus eram os céus, os
campos, as montanhas, os pássaros, as tempestades, as ovelhas, uma
videira, um poço e uma festa. Em suma, o que quer que estivesse ao Seu
redor Ele usava como ferramenta de ensino.
2. Jesus era orientado à realidade.
Ele não se ajustava ao status quo. Estudar a vida de Jesus, portanto,
sempre nos remete à realidade. A realidade - não o ritual - era Sua
principal preocupação.
Assuntos como vida e morte, Céu e Inferno, dinheiro, oração, preocupação
e crianças faziam parte do Seu currículo. Ele não deu qualquer aula na
qual se pedia aos discípulos: “Escrevam isto, porque algum dia vocês
precisarão”. Todos os Seus ensinos aconteceram nas situações da vida
cotidiana.
Do nascimento em uma manjedoura à morte em uma cruz, o Salvador sempre
foi extraordinário. No âmbito de Sua moralidade, Ele foi totalmente
previsível; no âmbito de Seus métodos, totalmente imprevisível.
Ele nunca foi imprevisível apenas para ser diferente, mas porque era
diferente. Ele era irritante. Aonde quer que fosse gerava uma crise. Ele
coagia os indivíduos a decidir, a fazer escolhas. Dorothy Sayers, à sua
maneira caracteristicamente sarcástica, comenta:
Aqueles que crucificaram Jesus nunca, para fazer-lhes justiça, o
acusaram de ser pessoa chata - muito pelo contrário; consideravam-no
extremamente dinâmico para ser digno de confiança. Foi deixado para as
gerações posteriores encobrirem essa personalidade perturbadora e
cercá-lo com uma atmosfera de tédio. Temos sido eficientes em aparar as
garras do Leão da Tribo de Judá, em declará-lo “manso e humilde” e em
recomendá-lo como animal de estimação adequado para pálidos ministros e
velhas senhoras piedosas. Entretanto, para os que o conheceram, de
nenhuma maneira Ele sugeriu ser pessoa água-com-açúcar; eles o objetaram
como perigoso atiçador de discórdias. Sim, Ele era gentil com o
desgraçado, paciente com os inquiridores honestos e humilde diante dos
céus; mas Ele insultou os respeitáveis clérigos ao chamá-los de
hipócritas; Ele se referiu ao rei Herodes como “aquela raposa”; Ele ia
às festas em companhia de gente reles e era considerado como “comilão e
bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores”; Ele atacou
negociantes indignados e lançou a eles e seus pertences fora do Templo;
Ele levou o comum e ordinário por vários regulamentos sacrossantos e
veneráveis; Ele curava doenças utilizando quaisquer meios disponíveis à
mão, com uma casualidade chocante na questão dos porcos e propriedade de
outras pessoas; Ele não mostrou qualquer deferência apropriada diante da
riqueza ou posição social; quando confrontado com armadilhas de pura
dialética, Ele evidenciava humor paradoxal, o que afrontava os sisudos,
e rebatia fazendo perguntas desagradavelmente inquiridoras que não
podiam ser respondidas de maneira geral. Decididamente Ele não era
indivíduo insípido e tedioso em Sua vida terrena, e se Ele era Deus,
também não pode haver algo de insípido e tedioso nEle.
Há correlação direta entre a predição e o impacto. Quanto maior a
predição, menor o impacto.
Observe Jesus em ação, por exemplo, em Marcos 12.13-17. Os fariseus
associaram-se com os herodianos - combinação estranha e diabólica. Eles
pensaram que tinham imprensado Jesus na parede com um dilema quando
perguntaram: “É lícito pagar tributos a César ou não? Pagaremos ou não
pagaremos?” Qualquer uma das duas respostas que escolhesse, davam-lhes a
certeza de que o tinham apanhado em falta. Mas Jesus escapuliu pelo lado
em que eles não previram e os compeliu a imaginar: “Afinal de contas,
quem inventou esta pergunta idiota?”
Os evangelhos narram a história do Homem mais santo que jamais viveu, e,
não obstante, foram os ladrões, os leprosos e as prostitutas que o
adoraram, enquanto que os religiosos odiavam Sua presença. Ele continua
invariavelmente o Cristo controverso, o Divisor de homens. Ele pode ser
rejeitado, mas nunca ignorado.
3. Jesus era relacional.
Seu coração pulsava pelos indivíduos como também pelas idéias; pelo povo
como também pelas tarefas; pela mudança, não somente pelos conceitos.
Jesus sabia que o maior revezamento pela verdade era os relacionamentos.
O ensino de Jesus tomou a forma de sala de aula ambulante com interação
máxima entre professor e aluno. Ele perguntava e era cumulado de
perguntas.
Ele fez milagres na presença dos discípulos. Eles observavam enquanto
Ele lutava e vencia a oposição dos líderes religiosos.
Ele começava exatamente no ponto em que Seus discípulos estavam e falava
com eles em termos das imediatas e freqüentemente não percebidas
necessidades que tinham. Considere o caso do inválido no tanque de
Betesda (Jo 5.1-15). Jesus pergunta: “Queres ficar são?” (Jo 5.6). Que
pergunta surpreendente e aparentemente tola feita a alguém que estava
inválido por trinta e oito anos! É óbvio que nenhuma pessoa nesse estado
escolheria permanecer doente.
Mas, como sugere Merrill Tenney:
Um exame mais detido da abordagem feita por Jesus à vítima mostra que
Ele estava sondando o interior do coração do doente: “Você tem o desejo
de ser curado?” A resposta revelou que o homem colocava a culpa de sua
condição no que alguém não tinha feito por ele. Ele estava preso pelas
circunstâncias e não podia insurgir-se mais além do que uma reclamação
fútil. A paralisia corporal estava acompanhada por uma paralisia parcial
da vontade. A escolha de Jesus por este homem em meio ao grande número
de inválidos no tanque, indicava Seu interesse em restabelecer os que
foram sujeitos à completa desesperança tanto do corpo como do espírito.
Os relacionamentos de Jesus invariavelmente enfocam as necessidades
pessoais em um nível mais profundo. Estude o instrutivo processo de
nosso Senhor de construir pontes em vez de muros com a mulher samaritana
(Jo 4). Uma prostituta torna-se missionária em apenas um encontro
significativo e sensível.
Parece que havia algo sobre o modo como Jesus vivia que convidava à
imitação. Preste atenção ao resumo de LeBar dos estudos dela:
Quase a metade dos incidentes pedagógicos nos evangelhos foi iniciada
pelos próprios estudantes. À medida que os indivíduos eram cativados por
Sua pessoa, pela autoridade de Suas palavras e pela maravilha de Sua
obra, eles se chegavam a Ele com necessidades pessoais de todos os
tipos. O quanto é mais fácil ensinar quando nossos alunos começam uma
lição! Quando eles iniciam, podemos estar certos do seu interesse,
atenção e envolvimento pessoal.
Considere a vida de oração de nosso Senhor. Ele orava a respeito de
tudo. Estude o evangelho de Lucas em busca de detalhes. Por que os
discípulos pediram que Jesus os ensinasse a orar? (Lc 11.1). É a única
coisa que os discípulos lhe pediram que os ensinasse, porque toda vez
que iam procurá-lo notavam que Ele estava engajado na oração. Por isso
concluíram: “Isto deve ser essencial para a vida e o ministério”. Alguém
já pediu a você, na qualidade de mestre, que o ensinasse a orar, pelo
fato de o ter encontrado muitas vezes em oração?
Havia ocasiões em que Ele conscientemente dava um exemplo e induzia o
convite (veja João 13, quando lavou os pés dos discípulos).
Numerosas qualidades pessoais chamavam a atenção das pessoas para nosso
Senhor: Sua acessibilidade, aparência, amor, gentileza, firmeza,
sensibilidade, coragem, vitalidade e determinação.
É difícil imaginar qualquer mestre prendendo a atenção de seus líderes
potenciais, a menos que esteja contaminado por um forte senso de missão
em sua vida e compromisso pessoais. Jesus demonstrou isso claramente. De
fato, Ele até o manifestou publicamente no início de Seu ministério na
sinagoga de Nazaré (Lc 4.16-30), quando declarou Seus objetivos
mensuráveis.
II. A MENSAGEM
Jesus é o maior Mestre, mas Ele nunca pode ser separado do Seu grandioso
ensino. Donald Guthrie, em seu proveitoso capítulo, “Jesus”, explica
detalhadamente a relação entre mestre e ensino:
O Cristianismo tem historicamente realçado o ensino religioso desde que
o próprio Jesus foi o supremo intérprete da arte. Não se pode deixar de
enfatizar suficientemente Sua influência na educação na Igreja; contudo
precaução faz-se necessária acerca de um aspecto: Jesus era mais que um
pedagogo. Embora Ele possa ser considerado um Iluminador da mente, Sua
missão era mais básica. Ele veio para trazer redenção, a qual era a
chave do Seu ensino. Mesmo que Ele não fosse o Redentor, Seu ensino,
tanto no conteúdo como no método, seria sem igual. Sua verdadeira
reivindicação pela preeminência repousa no fato de que a praticabilidade
e relevância do Seu ensino dependem de Sua obra de expiação.
Há características seminais do Seu ensino.
1. Sua mensagem foi revelada.
Jesus disse que não falava de Si mesmo, mas fazia exatamente o que Seu
Pai lhe ordenava. Examine as seguintes passagens bíblicas: Mateus 11.27;
João 3.27; 5.19; 8.28. Em cada uma Cristo é o canal para a comunicação
da verdade divina, enquanto reafirma uma continuidade entre Ele e o Pai:
“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30).
Becky Pippert encapsula o conceito biblicamente:
Ele informou às pessoas que conhecê-lo era o mesmo que conhecer a Deus (Jo
8.19), vê-lo era idêntico a ver Deus (Jo 12.45), crer nEle era igual a
crer em Deus (Jo 12.44) e recebê-lo era a mesma coisa que receber a Deus
(Mc 9.37).
As pessoas constantemente entravam em conflito com Jesus, principalmente
por causa de Suas ousadas reivindicações. Em Seu discurso na sinagoga de
Nazaré, lendo o profeta Isaías, Ele disse: “Hoje, se cumpriu esta
Escritura em vossos ouvidos” (Lc 4.21). Em outras palavras: “Vocês estão
olhando para o seu cumprimento”. Porquanto a princípio as pessoas tenham
falado bem d'Ele e ficado maravilhadas com as graciosas palavras que Ele
dizia, ao refletirem, ficaram tão enfurecidas que tentaram matá-lo.
C. S. Lewis chamou a atenção contra a afirmação que se ouve de que Jesus
foi apenas um bom mestre, mas que não era quem afirmava ser - o Filho de
Deus. Como Ele poderia ser bom, se mentiu acerca do principal tema do
Seu ensino - a saber, Ele mesmo?
“Estou disposto a aceitar que Jesus foi um grande mestre da moral, mas
não aceito Sua reivindicação de ser Deus”. Isso é algo que não devemos
dizer. Um homem que foi somente um homem e disse o tipo de coisas que
Jesus disse, não seria um grande mestre da moral. Ou Ele seria um
lunático - no nível de alguém que diz que é um ovo escaldado - ou então
Ele seria o próprio diabo. Você tem de fazer sua escolha. Ou este homem
era, e é, o Filho de Deus; ou então um louco ou algo pior. Você pode
tachá-lo de bobo, cuspir n'Ele e matá-lo como um demônio; ou cair aos
Seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas não me venha com qualquer
tolice condescendente sobre Ele ser um grande mestre. Ele não deixou
essa possibilidade aberta para nós. Não foi essa Sua intenção.
Ele curou no sábado porque era o Senhor deste dia da semana. Ele disse
que era Deus e agiu como tal. Ele informou aos líderes religiosos que
era maior do que Jonas e Salomão e provou isso quando ressuscitou.
Porque Jesus era Deus e homem, ensinou pelas obras como também pelas
palavras. Significados espirituais estavam embutidos em atos
espirituais.
Repare no extenso uso de imperativos empregados em Seu ensino: “Vigiai e
orai”; “Estai apercebidos”; “Vinde”; “Vede”; “Ide”; “Pregai”. Ele coage
ao compromisso.
2. Sua mensagem era pertinente.
Pelo fato de Sua mensagem ter sido revelada, era pertinente. Ele nunca
respondeu perguntas que ninguém fizesse. Ele satisfazia as necessidades
que as pessoas tinham.
Mas Ele não era mero teórico. O escritor aos Hebreus nos informa:
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado” (Hb 4.15). Ele também explica: “Porque, naquilo que ele mesmo,
sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb 2.18).
Atingir o âmago da vida de um aluno requer contato com o indivíduo em
sua inteireza, como ele pensa, sente e deseja. Esta é razão de Jesus ter
tão freqüentemente compartilhado Suas próprias emoções de compaixão,
julgamento, amor, ódio, alegria, tristeza, gratidão e simpatia.
Tudo isso exercia ação sedutora sobre um mundo faminto e ferido. Ele era
pertinente como ninguém.
3. Sua mensagem tinha autoridade.
Uma das características mais notáveis do ensino de Jesus jaz na
autoridade com que Ele ensinou. Ele nunca falou de maneira experimental,
tímida ou apologética. Ele conhecia Sua mensagem e nunca hesitou em
declará-la. É isso que tanto impressionava as pessoas.
De fato, à conclusão do Sermão do Monte, Seu ensino gerou resposta
singular: “Porquanto [em nítido contraste com Seus contemporâneos, Ele]
os ensinava com autoridade e não como os escribas” (Mt 7.29). Ele tinha
autoridade.
Porquanto houvesse muitas semelhanças, uma profunda diferença surge
entre Jesus e os líderes religiosos dos Seus dias. A chave é a
autoridade. Marcos 11.27-33 deixa isso bem claro.
Também vemos a autoridade de Jesus nas exigências que Ele fazia das
pessoas (Lc 14.25-35). Em cada caso Ele faz uma tríplice repetição: “Não
pode ser meu discípulo”. A finalidade categórica dessas palavras! A
verdade seguramente tem de envolver exclusões, mas pelo fato de sermos
seres humanos caídos e orgulhosos, os homens acham muito desagradável
esta parte do discipulado.
John Stott conclui convincentemente:
Embora não passasse de um camponês da Galiléia, um carpinteiro por
profissão e um pregador por vocação, Ele afirmava ser o Mestre e o
Senhor dos homens, Ele disse que tinha autoridade sobre todos para lhes
dizer em que acreditar e o que fazer. Trata-se de reivindicação óbvia
(se é que é indireta) à Deidade, pois nenhum mero homem jamais pode
exercer senhorio sobre mentes e vontades de outros homens.
A multidão estava pronta para a mudança: “Nunca tal se viu em Israel” (Mt
9.33). A explicação dos fariseus: “Ele expulsa os demônios pelo príncipe
dos demônios” (Mt 9.34). Eles eram seus críticos ferrenhos, mas Ele era
muito mais descaradamente crítico deles. O desafio fora feito.
4. Sua mensagem era eficaz.
Note os resultados do ensino de Jesus: espanto, medo, silêncio, crença e
oposição violenta, mas nunca indiferença ou neutralidade. Vidas foram
transformadas, porque Seu objetivo de ensino não fornecia apenas
informação mas transformação.
Os indivíduos levavam os amigos para Jesus, seguiam-no, divulgavam Sua
fama no exterior e o serviam. Eles largavam tudo e o seguiam (cf. Mc
1.18 e 2.14, para dois exemplos).
Na Grande Comissão, uma das declaradas metas de Jesus para o processo de
discipulado era “ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho
ordenado” (Mt 28.20). Ávido por perspicácia e mudança com base em Seu
ensino, Jesus não esperava que o conhecimento automaticamente resultasse
em ação.
Em nosso ensino, para quais tipos de resultados temos de trabalhar? “O
pecado não é a marca de Deus na humanidade: obediência perfeita é.”
III. OS MOTIVOS
O verdadeiro ensino emana de dentro. Há uma experiência de ressonância
entre professor e aluno, sem a qual o processo de aprendizagem é estéril
e, não pouco freqüente, abortado.
Vários motivos aparecem em nosso estudo dos evangelhos. Os apresentados
a seguir são básicos.
1. O motivo do amor.
Jesus sempre teve os melhores interesses de um amado chefe supremo em
Seu relacionamento. João, o apóstolo do amor, diz: “Como havia amado os
seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim [mostrou-lhes agora a
total extensão do Seu amor]” (João 13.1).
Mas não era baboseira sentimental; era amor firme. Por exemplo, Ele
repreendeu os discípulos, não por razões superficiais mas substantivas.
“Por que sois tão tímidos?”, perguntou Ele, “ainda não tendes fé?” (Mc
4.40).
Observe o contexto. Jesus, o Mestre dos mestres, há pouco dissertara
sobre a fé (Mc 4.1-34). Depois da explicação, Ele lhes passa um teste.
Ele dissera: “Passemos para a outra margem” (Mc 4.35). Eles deduziram
com base na experiência que tinham: “Mestre, não te importa que
pereçamos?” (Mc 4.38). Jesus não dissera: “Vamos para o meio do lago nos
afogar!” Eles foram reprovados no teste de audição. “Quem tem ouvidos
para ouvir, que ouça” (Mc 4.9,23,24a).
Em outra ocasião Ele repreendeu Tiago e João, quando estes desejaram
pedir fogo do céu para destruir os samaritanos (Lc 9.54,55). Ele chegou
até a censurar severamente Pedro, o líder dos discípulos, na presença do
grupo inteiro. “Retira-te de diante de mim, Satanás!”, disse Jesus,
“porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos
homens” (Mc 8.33).
A repreensão sempre depende da base do relacionamento. Ele amava os
discípulos como eles eram, mas Seu amor era tanto que não lhes
permitiria ficar como estavam sem que interferisse. Ele repreendia, mas
nunca rejeitava.
A despeito de Suas exigentes declarações relativas ao custo do
discipulado, Ele nunca exigiu uma fé completamente desenvolvida no
começo da peregrinação espiritual de alguém. Ele nunca rejeitou alguém
por causa de sua fé incompleta e hesitante ou por alguma falta em viver
segundo as leis de Deus.
Ele era o cumprimento da profecia de Isaías referente ao Messias (Is
42.3), citada em Mateus 12.20: “Não esmagará a cana quebrada e não
apagará o morrão que fumega”.
Com sua habitual lucidez, C. S. Lewis pondera sobre o amor cristão:
Se tenho certeza de algo é que Seu ensino nunca foi projetado para
confirmar minha preferência congênita por investimentos seguros e
responsabilidades limitadas. […]
Ame qualquer coisa, e certamente seu coração será vergado e
possivelmente partido. Se você quer se assegurar de mantê-lo intato, não
o entregue para ninguém, nem mesmo para um animal. Envolva-o
cuidadosamente com passatempos e um pouco de luxo; evite toda a
complicação; encerre-o seguro no porta-jóias ou caixão do seu egoísmo.
Mas nesse porta-jóias - seguro, escuro, imóvel, abafado - ele mudará.
Não será partido; ficará inquebrantável, impenetrável, irredimível. A
alternativa para a tragédia, ou pelo menos para o risco da tragédia, é a
danação. O único lugar, fora do Céu, onde você pode estar perfeitamente
protegido de todos os perigos e perturbações do amor é o Inferno.
2. O motivo da aceitação.
A aceitação é o primeiro passo do ensino eficaz. Note a multidão que o
cerca: prostitutas, coletores de imposto sem escrúpulos, pecadores, os
magoados e sem esperança, leprosos, etc. Certamente não é uma compilação
de relações públicas da Madison Avenue!
Repare em Sua reputação. “Eis aí um homem comilão e beberão, amigo de
publicanos e pecadores” (Mt 11.19). A preocupação primária de Jesus não
era Sua reputação, mas Sua responsabilidade.