"Às
vezes teus pais não te
compreendem ou não querem
colocar-se em seu lugar.
Você tentou colocar-se no
lugar deles?"
Pais! Ufa!!
Os pais
se comportam, às vezes, de
formas muito estranhas.
Quando você é pequeno,
sempre andavam atrás de
você dizendo para lavar as
mãos e se pentear. Agora,
se vêem você diante do
espelho, riem e falam que é
um convencido. Não há quem
os entenda!
Em determinado
momento estão furiosos
porque dizem que é demasiado
independente; no minuto
seguinte se queixam alegando
que sempre está “grudado” a
eles e que não é
suficientemente
independente.
Te ridicularizam
diante de teus amigos,
não respeitam sua vida
privada; enfim, somente
parecem desfrutar
amargurando a sua existência
e fazendo-lhe a vida muito
mais difícil do que já é.
E, é a isto que se
chama de “ser pais”?
Não se dão conta de
que os adolescentes também
tem seus próprios
sentimentos?
Sim, é claro que se
dão conta. Mas estão
rodeados de tantos
problemas, e preocupados por
tantas dificuldades, que a
grande realidade de que
você é um ser humano, com
direito a pensar, a sentir e
a viver por você mesmo, às
vezes parece ficar relegado
a um segundo plano.
O certo é que
quando os filhos se
convertem em adolescentes,
os pais enfrentam uma
situação completamente nova,
que a maioria das vezes é
surpreendente e inesperada:
seus filhos queridos, bons e
obedientes, se convertem
em um momento para outro em
adolescentes voluntariosos e
difíceis de governar.
Da noite para o dia
se vêem com toda sorte de
novas situações: seus filhos
saem com garotas (ou
vice-versa), assistem a
excursões de vários dias,
praticam esportes perigosos,
começam a trabalhar...
É verdade que
também eles passaram por
tudo isto, mas com uma
diferença: não como pais,
senão como adolescentes.
Naquela ocasião os pais eram
outros, que lutavam e
reprimiam, e era eles quem
tocava exigir. Mas agora,
tem passado a ocupar o lugar
de pais, e se sentem
responsáveis por você, e na
obrigação de ajudá-lo em
toda classe de dificuldades
e problemas, a maioria dos
quais são totalmente novos
para você. Deve compreender
que para eles, somente o
fato de viver com você, com
seus costumes, sua música e
sua forma de se vestir, já
lhes é difícil, quando não
frustrante. Não tem que
ficar espantado, pois se
algumas vezes se mostrarem
inquietos e preocupados.
Possivelmente
passaram a ocupar sua
posição de pais sem estarem
tão bem preparados como
deveriam. Muitos pais
arrastam consigo um
lastro de problemas de
sua própria infância e
juventude; problemas que às
vezes se remontam a várias
gerações atrás, dentro da
tradição da família. Têm
todo tipo de temores. Estão
inseguros de suas próprias
idéias e valores, e
possivelmente ainda não tem
realizado um projeto de vida
que os satisfaça totalmente.
Por outra parte,
seu crescimento e
desenvolvimento tem criado
neles um sentimento mais
vivo de dor que produz na
vida a perda dessas coisas
que se querem.
Para alguns pais,
ao dar-se conta de que seus
filhos estão crescendo
também os faz perceberem de
que estão envelhecendo, de
que a vida passa com
rapidez; tem que enfrentar a
triste realidade de que os
anos passam velozmente e
ainda não tem alcançado os
objetivos que se haviam
proposto na vida, e que
possivelmente já não poderão
alcançar.
Esse sentimento de
frustração pode conduzir os
pais a uma ambição muito
comum: tratar de conseguir
por seu intermédio tudo o
que para eles foram sonhos
impossíveis. E isto pode
chegar a ser uma verdadeira
fonte de problemas.
Outra das razões
que motiva muitas vezes a
intranqüilidade e o
desassossego de seus pais
são os comentários da
imprensa sensacionalista.
Em revistas e periódicos
lêem continuamente artigos
nos quais se afirma que os
pais são responsáveis de
todos os problemas da
juventude; que os pais são
os culpados da degeneração
social; que para ser bons
pais tem a obrigação de
lutar até o fim. E isto os
assusta. Nos dias de seus
avós, se João era um mal
filho, e se comportava como
tal, a culpa era do próprio
João, de ninguém mais. Em
nossos dias, os seus pais
são acusados por não haverem
sabido tratá-lo, educá-lo e
encaminhá-lo corretamente.
Assim pois, deve
enfrentar a realidade: ainda
que seja um filho modelo, um
adolescente perfeito, seus
pais continuarão vendo
problemas em você,
enfrentando-o quase todo o
tempo. Não importa o que
terá de fazer para
agradá-los, não importa o
muito que se esforce em
tratar de ser um paradigma
de adolescente, seus pais
seguirão pensando que seus
anos de adolescência são os
mais difíceis que eles tem
tido que enfrentar.
Adolescentes! Ai!
Assim vê você a
seus pais. Agora vejamos
como eles vêem você. Os
anos da adolescência não são
fáceis. Pode ser que
ultimamente tenha crescido
tanto que você já quase não
se reconhece. Ou quiçá,
seja ao revés, e seu
crescimento é tão lento
comparado com o de seus
amigos, que te faz sentir um
pouco criança quando está
com eles. Possivelmente, o
desenvolvimento físico tenha
feito você engordar muito e
tenhas pernas e braços
gordos. Às vezes você se
pergunta como te vêem os
demais, e se preocupa
pensando se realmente
chegará a ser o tipo de
homem ou mulher que
gostaria.
Pouco a pouco, irá
se sentindo mais filosófico
e pensador. Terá dado conta
do que significa ser um
mesmo, separado do grupo que
formam os demais.
Ultimamente tem começado a
perguntar-se quem você é,
que é a vida e para que está
nela.
E o mal é que
enfrenta estes problemas em
um mundo que a maior parte
das vezes se lhe apresenta
pouco amistoso, bastante
hostil. Certamente a
adolescência pode chegar a
ser uma época de verdadeira
angústia. E a medida que a
maturidade se aproxima, a
angústia aumenta. Te
preocupa a possibilidade de
tomar decisões equivocadas -
a carreira, o matrimônio, o
trabalho, etc. Duvida de
sua capacidade para
enfrentar todas as
responsabilidades de um
adulto maduro e responsável.
Por isto quer que
te compreendam, que
reconheçam seu valor, que
se dêem conta de que é uma
pessoa capaz de assumir
responsabilidades. Mas os
que te rodeiam não parecem
muito dispostos a ajudá-lo.
Se tem treze
anos, teus pais
queixam-se de que é muito
sensível, de que não se pode
dizer-lhe nenhuma palavra
sem que você se inflame como
pólvora. Por outra parte,
alegam que é pouco
comunicativo, que não lhes
conta nada e que sempre
responde com monossílabos às
suas perguntas.
Possivelmente, você também
se dá conta de que não é
como os demais, todo amável
e simpático como deveria
ser, mas tem tantas coisas
em que pensar que não lhe
sobra tempo para suportar as
“tontices” da família.
Se tem catorze,
possivelmente já terá
resolvido parte dos
problemas que te preocupavam
aos treze. Sua atitude
frente a seus pais é mais
serena, e também eles
parecem compreendê-lo
melhor; se esforçam em
ajudá-lo mais e te criticam
menos.
Aos quinze
anos o problema se agrava
outra vez. Teus pais se
queixam de que quase não
lhes dirige a palavra, de
que você guarda tudo,
de que se comporta como um
mal educado e se veste de
forma desalinhada. A
verdade é que começas a
sentir-se bastante
independente. É certo que
tens muitas coisas sobre as
quais gostaria de dialogar,
mas não com seus pais!
Você começou a descobrir uma
montanha de problemas da
idade adulta que pouco a
pouco estão aparecendo, e ao
mesmo tempo se dá conta de
suas próprias limitações
para superá-los. Com a
esperança de compreender
melhor a você mesmo e aos
que te rodeiam se tornou um
pouco psicológico. Não
desanimes; a maioria dos
problemas que agora
enfrenta desaparecerão no
próximo ano.
Aos dezesseis
as coisas mudam, você
perceberá que a vida não é
tão difícil como pensava.
Terá aprendido a controlar
melhor suas próprias
emoções, e vai se sentir
mais sociável e amistoso e
tentará compreender o ponto
de vista dos demais.
Sentirá mais confiança em si
mesmo, e isto fará ser
possível opinar com melhor
critérios os outros.
Terá alcançado a
primeira fase da maturidade,
e pode ser que isto faça que
com que seus pais, ao
perceberem que já não é tão
criança, abram um pouco as
mãos, o que motivará maior
compreensão. Quando lhe
expor um problema, pode
confiar em que o tratarão
como a um adulto. Pouco a
pouco compreenderá que as
restrições e proibições que
lhe haviam imposto, em certo
sentido eram necessárias,
e você se sentirá agradecido
pela maior margem de
liberdade que lhe concedem.
Ainda que seja difícil
aceitar as proibições que
todavia te impõem, pouco a
pouco dará conta de que seus
pais, no fundo, são bastante
razoáveis, e de que se pode
dialogar com eles.
Trate de aceitar a distância
que o separa deles. Não se
arrependerá.
Talvez se
sinta tentado a pensar que é
demasiado difícil ser
adolescente. Tem razão.
Mas lembre-se que não é
fácil ser pais de um
adolescente. |